dECRETo N. 9.997 – DE 8 DE FEVEREIRO DE 1913
Approva o regulamento de tiro para infantaria
O Presidente da Republica dos Estados Unidos do Brazil resolve approvar o regulamento que com este baixa, assignado pelo general de divisão Vespasiano Gonçalves de Albuquerque e Silva, ministro de Estado dos Negocios do Guerra, de tiro para a infantaria.
Rio de Janeiro, 8 de janeiro de 1913, 92º da Independencia e 25º da Republica.
Hermes R. DA FONseca.
Vespasiano Gonçalves de Albuquerque e Silva.
Regulamento de tiro para infantaria
(FUZIL M/1908)
I – NOÇÕES DE TIRO (*)
1. Chama-se trajectoria o caminho que o projectil percorre no ar.
2. A fórma da trajectoria depende da gravidade e da resistencia do ar, da velocidade do projectil na bocca, da direcção e da rotação com que o projectil, impellido pela acção dos gazes da polvora, deixa o cano do fuzil.
3. A força dos gazes da polvora tende a communicar ao projectil um movimento rectilineo uniforme na direcção do prolongamento do eixo do cano do fuzil. Sob a acção da gravidade o projectil cahe durante o seu trajecto e a velocidade da quéda augmenta com o tempo que elle se mantém no ar.
__________________
(*) Todos os homens devem estar familiarizados com as noções que se seguem. Para este fim não será bastante saber os nomes de cór nem recitar definições. E' indispensavel que as prelecções sobre o tiro se façam com auxilio de quadros muraes representando a fórma das trajectorias, a extensão do espaço rasado contra os alvos de guerra e a fórma dos grupamentos do tiro individual e collectivo.
O projectil em movimento repelle as camadas de ar que encontra em seu caminho e afasta-as para os lados; neste trabalho elle soffre perdas continuas de velocidade e percorre espaços iguaes em tempo cada vez maiores.
Em virtude deste facto, a trajectoria é curva e sua curvatura augmenta com a duração do trajecto.
4. Para attingir um ponto de um alvo collocado a uma distancia determinada deve-se dar ao cano do fusil uma posição tal que o prolongamento de seu eixo passe acima desse ponto de uma quantidade exactamente igual áquelle que o projectil tem de cahir antes de attingil-o. (Fig. 1)
«ANEXO» CLBR VOL. 01 ANO 1913 PÁG. 60 FIG. 01
ab, prolongamento do eixo do cano;
b, ponto a attingir;
bc, altura da quéda do projectil no trajecto ac.
Para attingir o ponto b o cano deve ser levantado da quantidade bc, isto é, o seu prolongamento deve ser dirigido para o ponto b.
A elevação do eixo do cano augmenta com a distancia; ella é dada ao fuzil com auxilio do dispositivo de pontaria.
5. A linha idéal que une o meio do entalhe da alça no vértice da massa de mira, chama-se linha de mira (ab, fig. 2); apontar, é dirigir com o olho esta linha para um ponto determinado do alvo.
«ANEXO» CLBR VOL. 01 ANO 1913 PÁG. 60 FIG. 02
O ponto para o qual o prolongamento da linha de mira deve ser dirigido chama-se – ponto de visada (c); aquelle para o qual está dirigido o prolongamento da linha de mira, no momento em que o tiro parte, – ponto de partida; aquelle que o projectil fere ao chegar ao alvo – ponto de empate (d).
6. Si a linha de mira fosse parallela ao eixo do cano, seria preciso para attingir um determinado ponto do alvo apontar acima deste ponto.
Para facilitar a pontaria é preciso que o ponto de visada coincida com o ponto a attingir ou fique abaixo deste. A alça estando construida de modo que o entalhe da alça, em relação ao eixo do cano, fica acima do vertice da massa de mira, o projectil se eleva acima da linha de mira a partir do momento que abandona a bocca do cano.
Quando se aponta com a alva correspondente á distancia, o cano do fuzil toma a inclinação descripta no numero 4.
7. O ponto (b) mais elevado da trajectoria (fig. 3 – abc) chama-se – vertice.
«ANEXO» CLBR VOL. 01 ANO 1913 PÁG. 61 FIG. 03
Os ramos da trajectoria, antes e depois desse ponto, denominam-se, respectivamente, ramo ascendente (ab) e ramo descendente (cb).
Em virtude da curvatura crescente da trajectoria, o vertice não coincide com o meio dessa linha. O ramo ascendente é mais longo e mais tenso que o ramo descendente: este ultimo é tanto mais longo e inclinado acima da horizontal quanto maior é a distancia. O ramo ascendente fórma com a linha de visada ac o angulo de projecção dac; o ramo descendente – o angulo de quéda eca.
A distancia vertical de um ponto de trajectoria á linha da visada chama-se ordenada da trajectoria á distancia considerada; – bf é a ordenada á distancia af.
A distancia a que a trajectoria córta a linha de visada pela segunda vez, isto é, distancia a que coincidem o ponto de visada e o ponto de empate, chama-se – alcance de alça e o tiro correspondente – tiro de alça. Si o ponto a attingir está a quem do alcance de alça, é preciso apontar abaixo desse ponto, a uma distancia igual á ordenada da trajectoria nesse ponto (vide n. 23).
O ponto de empate que se quer obter deve ser escolhido na parte mais favoravel do alvo no sentido da largura e do comprimento, em geral, o meio do alvo.
8. Para que o projectil descreva uma trajectoria uniforme, é preciso que elle navegue no ar sempre com a ponta para a frente. Isto é obtido pela votação que o projectil adquire, percorrendo as raias cavadas no cano do fuzil e que conserva durante todo o seu movimento no ar.
INFLUENCIA DO TEMPO
9. A alça do fuzil foi qraduada nas condições médias do tempo, vento calmo e velocidade média na bocca de 890 metros. Só atirando nestas condições, se póde obter um tiro de alça.
Com as mudanças de peso do ar modifica-se a resistencia que o ar oppõe ao movimento do projectil e por conseguencia observam-se variações nos alcances obtidos com o emprego de uma mesma alça.
Pequena densidade de ar occasiona tiros longos; grande densidade do ar, tiros curtos. Em geral, no calor deve-se contar com tiros longos e no frio com tiros curtos.
Vento de frente diminue, vento de retaguarda augmenta, o alcance. As influencias do tempo se sommam quando são do mesmo sentido. A distancias médias ellas podem exigir uma modificação de alça até 100 metros e a grandes distancias até 150 metros.
O projectil se desloca lateralmente no sentido em que sopra o vento e esse deslocamento é tanto mais considerável quanto mais forte é o vento e maior é a distancia. Vento muito forte soprando perpendicularmente á direcção do tiro, póde, á distancia de 1.000 metros, determinar um deslocamento lateral do projectil de 10 metros. Devido á derivação do projectil, á direita, um vento da esquerda determina um desvio maior do projectil que um vento da mesma força soprando da direita.
10. Si a parte superior da massa de mira, brilhantemente illuminada pelo sol, scintilla, torna-se apparentemente maior e si é levado assim a apontar tomando no entalhe da alça uma quantidade de mira menor que a necessaria, o que occasiona tiros curtos. Inversamente tompo sombrio, semi-obscuidade da paisagem, crepusculo, conduzem a tomar maior quantidade de mira, o que occasiona tiros longos.
Si a massa de mira é lateralmente incidida pelos raios solares, a face illuminada é apparentemente maior que a face sombria. Neste caso si é levado a fazer coincidir não o vertice da massa de mira mas a parte mais illuminada com o entalhe da alça e o tiro sahe desviado no sentido da parte sombria.
RENDIMENTO DO TIRO
Rendimento do fuzil considerado isoladamente
11. O rendimento intrinseco do fuzil depende da efficacia do projectil, da constituição da trajectoria e da disperção do tiro.
12. A efficacia do projectil, abstração feita da resistencia do alvo, depende do peso, da fórma, do calibre, do material do projectil e da sua velocidade de empate.
13. A trajectoria é tanto mais vantajosa quanto mais tensa.
14. Chama-se espaço rasado, para um alvo de uma altura determinada, a parte do terreno acima da qual a trajectoria não se eleva a uma altura maior que a altura do alvo (ab, figura 4). A extensão do espaço rasado depende da altura do alvo e do alcance.
Quanto mais extenso é o espaço rasado, maiores são as probabilidades de attingir o alvo, principalmente quando não se tem conhecimento exacto da distancia. Si a altura de uma parte da trajectoria excede á do alvo, só se considera o espaço rasado em relação ao ramo descendente da trajectoria.
«ANEXO» CLBR VOL. 01 ANO 1913 PÁG. 63 FIG. 04
(ab – espaço rasado para um alvo de 140 cm.)
A extensão do espaço rasado augmenta si o terreno é descendente e diminue si elle é ascendente.
15. Em virtude das diversas circumstancias que influem sobre o tiro (differenças da carga dos cartuchos, aquecimento do cano, etc.,) os projectis ativados por uma mesma arma, collocada em uma posição invariavel, descrevem trajectorias differentes.
Em uma série de tiros feita contra um alvo vertical, com um fuzil nas condições acima referidas, os empates obtidos cobrem uma superficie maior ou menor do alvo denominado – grupamento vertical (figura 5).
A altura do grupamento vertical é maior que sua largura e a densidade de empates diminue do centro para as extremidades do grupamento. O ponto do grupamento vertical acima e abaixo, á direita e á esquerda do qual o numero de empates é o mesmo, chama-se – ponto de empate médio. «A largura em centimetros de uma faixa horizontal (vertical) do grupamento vertical contendo metade dos tiros chama-se praticamente, dispersão média em altura (em largura.).» (Vide n. 24.).
«ANEXO» CLBR VOL. 01 ANO 1913 PÁG. 63 FIG. 05
O valor da dispersão média dá medida da precisão da arma: quanto menor é a dispersão média, mais precisa é a arma.
Si a distancia do alvo augmenta, a dispersão média augmenta parallelamente (n. 24) e a probabilidade de attingir o alvo com um só tiro, diminue (vide n. 132).
Conforme a altura do ponto de empate médio em relação ao ponto de visada, é superior (inferior) á flecha da trajectoria considerada (vide n. 23) ou se acha a direita (esquerda), do ponto de visada, diz-se que o fuzil atira alto (baixo) á direita (á esquerda).
16. No sólo os projectis se distribuem sobre uma superficie horizontal (figura 5) cuja largura cresce com a distancia e cuja profundidade (dispersão em profundidade) cresce na razão directa da dispersão em altura e na razão inversa do angulo de quéda.
Effeito combinado de varios fuzis
17. O tiro simultaneo de varios fuzis contra um mesmo objectivo (fogo collectivo) produz o que se denomina – feixe de balas.
Devido ás differenças inevitaveis na fabricação das armas e das munições, a posição do ponto de empate médio varia de um fuzil para outro; dahi resulta que a dispersão em altura e a dispersão em profundidade do tiro collectivo são superiores á do tiro individual.
«ANEXO» CLBR VOL. 01 ANO 1913 PÁG. 64 FIG. 5 A
A densidade do feixe, assim como a densidade de empates no tiro individual, diminue insensivelmente do centro para os lados do grupamento. Si em um plano horizontal de grandes dimensões se recolherem os empates de um feixe de balas proveniente de um grande numero de tiros, observar-se-ha que elles se distribuirão segundo a lei seguinte; cerca de metade occupará o quarto central e quatro quintos a metade central da superficie coberta.
18. «A langura em metros do quarto central de um grupamento horizontal do tiro collectivo chama-se, praticamente, disperão média em profundidade do feixe.»
A dispersão em profundidade do feixe depende da dispersão em altura e do angulo de quéda. Esses dous factores, á medida que o alcance augmenta, influem em sentido contrario. A dispersão em profundidade augmenta com a dispersão em altura e diminue com o angulo de quéda; mas, como nas distancias do tiro de infantaria, o angulo de quéda cresce mais depressa que a dispersão em altura, a dispersão em profundidade diminue á medida que o alcance augmenta.
«ANEXO» CLBR VOL. 01 ANO 1913 PÁG. 65 FIG. 6
A dispersão em profundidade augmenta si o terreno a partir do objectivo é descendente e diminue si elle é ascendente.
19. No tiro collectivo só se deve entrar em consideração com feixe de balas e não com a trajectoria do fuzil isolado.
Só a pequenas distancias e contra alvos com grandes intervallos se póde contar com os effeitos do tiro individual.
20. A dispersão em profundidade do tiro collectivo depende de circumstancias tão diversas (gráo de instrucção, estado physico e moral dos homens, visibilidade do objectivo, velocidade do tiro, etc.) que é impossivel exprimir em valores numericos a grandeza da dispersão em profundidade do tiro collectivo a differentes distancias. O numero 26 contém um quadro numerico da dispersão média em profundidade do tiro collectivo do fuzil M│908, que só deve ser consultado a titulo de exemplo.
21. A efficacia do fogo collectivo depende do exito com que se consegue engarfar o objectivo na zona efficaz do feixe; para este fim, a possibilidade de observar os pontos de quéda é da maior vantagem. Quanto mais denso é o feixe de balas mais efficaz é o tiro si se atira com a alça da distancia, porém menos efficaz si se atira com a alça errada.
A’ medida que a distancia cresce augmenta a difficuldade de determinar a alça exacta, diminue a profundidade da zona batida pelo feixe e o exito do tiro torna-se cada vez mais aleatorio. Neste como obvia-se a difficuldade empregando varias alças que augmentam a profundidade da zona batida. Desta fórma prefere-se a uma grande efficacia uma efficacia menor, porem mais garantida.
RENDIMENTO DO FUZIL M│1908
(Bala S de 9 grammas)
22. Velocidade média na bocca, 890 metros. Alcance maximo sob um angulo de projecção de cerca de 32º, 4.000 metros.
Angulos de-quéda: |
|
A 4.000 metros ........................................................................................................................... | cerca de 60º |
A 2.000 metros ........................................................................................................................... | cerca de 7º |
A 1.500 metros ........................................................................................................................... | cerca de 3º |
A 1.000 metros ........................................................................................................................... | cerca de 1º |
A 600 metros ............................................................................................................................ | cerca de 22º |
Penetração da bala nas placas de aço da mais alta resistencia
As placas de aço de cinco millimetros são atravessadas até a distancia de 250 metros; as de 4, até 390; as de 3, até 670.
Penetração da bala na madeira de pinho secco
A’ distancia de 100 metros a bala penetra de 60 a 100 centimetros; á de 200, de 100 a 120; á de 400, de 100 a 110; á de 600, do 75 a 90; á de 800, de 60 a 70; á de 1.000, de 40 a 50; á de 1.200, de 25 a 30.
Penetração da bala na terra ou na areia secca
A distancias inferiores a 100 metros a bala penetra na terra ou areia secca até 25 centimetros, e se estilhaça em virtude da grande velocidade restante de que está animada; á distancia de 500 metros, ella penetra de 40 a 45 centimetros.
Penetração da bala nas alvenarias de tijolo
Os muros de meio tijolo podem, a pequenas distancias, ser atravessados por uma bala; os muros de maior espessura são sómente atravessados quando varias balas attingem o mesmo ponto. A bala penetra nas alvenarias de tijolo de 10 a 12 centimetros.
25 – PROFUNDIDADE DO ESPAÇO RASADO
Distancia
|
Para alvos da altura de metros | |||
2,50 | 1,70 | 1,00 | 0,50 | |
100....................................................................................... | Total | Total | Total | Total |
200....................................................................................... | » | » | » | » |
300....................................................................................... | » | » | » | » |
400....................................................................................... | » | » | » | » |
500....................................................................................... | » | » | » | 162 |
600....................................................................................... | » | » | » | 90 |
700....................................................................................... | » | » | 145 | 64 |
800....................................................................................... | » | 200 | 99 | 47 |
900....................................................................................... | 228 | 132 | 72 | 35 |
1.000.................................................................................... | 148 | 95 | 54 | 27 |
1.100.................................................................................... | 109 | 70 | 41 | 20 |
1.200.................................................................................... | 85 | 54 | 32 | 16 |
26 – DISPERSÃO DAS BALAS NO FOGO COLLECTIVO
Alças | Dispersão média em profundidade (50%) em metros |
400.................................................................................................................................. | 255 |
500.................................................................................................................................. | 223 |
600.................................................................................................................................. | 198 |
700.................................................................................................................................. | 176 |
800.................................................................................................................................. | 157 |
900.................................................................................................................................. | 142 |
1.000............................................................................................................................... | 130 |
1.100............................................................................................................................... | 119 |
1.200............................................................................................................................... | 109 |
Os valores da dispersão média em profundidade da presente tabella foram obtidos em experiencias feitas com armas novas e atiradores de valor médio.
II – INSTRUCÇÃO DE TIRO
GENERALIDADES
27. O fim da instrucção de tiro é ensinar o homem a utilizar-se da sua arma com segurança em todas, as situações de combate, e habilitar a tropa a resolver, sem sahir da mão de seu chefe, todos os problemas do campo de batalha. Para alcançar este resultado e indispensavel aprofundar a instrucção individual, ensinar aos subalternos a direcção methodica do fogo e habituar todas as fracções da companhia a combinarem seus esforços para o objectivo commum do combate.
A instrucção e adequada ao seu fim si a tropa é capaz de tudo quanto a guerra exige, e si no campo de batalha ela não tem de desprezar nada do que aprende em tempo de paz.
28. O capitão é responsavel cada instrucção regulamentar de tiro da companhia.
Os commandantes de batalhão e de regimento teem o estricto dever de vigiar a instrucção de tiro para que ella se faça de accôrdo com o presente regulamento. Para esse fim elles dispõem durante o anno de uma certa quantidade de munição (vide, ns. 219 e 220) que lhes permitte ordenar exercicios especiaes de tiro, atravez dos quaes verificarão o estado das companhias nesse ramo de instrucção. Para apreciação definitiva do gráo da instrucção de tiro não se deve apenas adoptar como criterio o exame dos livros do tiro da companhia porque o numero de balas que cada homem consegue metter no alvo depende muitas vezes de causas como as condições da linha de tiro, o valor intrinseco da arma, etc. O principal objectivo de uma inspecção de tiro é verificar que o homem utiliza sua arma com a segurança exigida para o combate, e tal desideratum só póde ser satisfeito si os superiores assistem pessoalmente aos exercicios especiaes que ordenam.
29. O commandante da companhia deve se insteressar com o maior zelo pela instrucção de tiro de seus subalternos interiores; elle deve adoptar como principio que o successo da instrucção da tropa depende do gráo de preparação technica e da intelligencia dos seus instructores.
A – TIROS DE INSTRUCÇÃO
30. Os tiro de instrucção constituem a escola preparatoria dos tiros de combate.
Não sómente a tropa, mas tambem os inferiores e os officiaes da companhia, se esforçarão para adquirir nos tiros de instrucção a maior habilidade na execução do tiro em todas as posições regulamentares. Os tiros de instrucção permittem ao instructor observar de perto os atiradores e constatar o resultado de cada tiro; elles constituem, pois, o meio mais seguro de habituar os homens a sempre apontar com cuidado e accionar conscienciosamente o gatilho.
MARCHA DA INSTRUCÇÃO
31. A instrucção do homem deve progredir gradualmente.
Começa-se ensinando separadamente os differentes actos do tiro; quando os homens estão seguros de cada um delles, passa-se então a executal-os simultaneamente. O instructor deve ter em vista que a execução depende da constituição physica do homem e da sua intelligencia, e que é preferivel a uma torturada uniformidade uma precisão de movimentos.
Deve-se por todos os meios procurar instruir os homens com paciencia, e sem intimidal-os. Os máos resultados de tiro só em casos muito raros são devidos ao desleixo ou preguiça. De todos os ramos da instrucção militar, é o tiro o que desperta mais enthusiasmo e boa vontade da parte dos homens. Cumpre ao instructor entreter e desenvolver essas boas disposições.
32. A instrucção do tiro começa pelas explicações dadas ao recruta, em linguagem simples e clara, do que occorre na arma, no momento do tiro, do emprego do dispositivo da pontaria e do modo de apontar.
33. Em seguida a essa primeira instrucção começam os exercicios de pontaria (37) e de funccionamento do gatilho (44). Depois exercitam-se as differentes posições de tiro (51). Antes do inicio dos exercicios de pontaria, os recrutas devem ser submettidos a uma «gymnastica de desenvolvimento», destinada a desembaraçar as articulações que trabalham nos actos do tiro, e a fortificar os musculos dos dedos e dos braços (movimentos de rotação do pescoço, da cabeça; flexão do tronco; rotação do tronco; extensão e rotação dos braços; flexão dos punhos e extensão dos dedos; extensão dos braços com a arma, adeante do corpo e para os lados; rotação dos braços com a arma; estender os braços horizontalmente, a arma ficando parallela ao corpo e gyrar o braço em torno dos hombros, ascenção na corda, etc.).
34. Tendo os recrutas aprendido com segurança a apontar, a accionar o gatilho e a executar correctamente todas as posições de tiro, passa-se aos exercicios com cartuchos falsos e no tiro reduzido. Finalmente, começam-se os exercicios de tiro com cartuchos de guerra.
35. Quando no correr de um exercicio o instructor quizer indicar os erros committidos e o meio de evital-os no futuro, mandará os homens «descansar». Será inutil tambem continuar o exercicio si os homens dão mostra de fadiga; neste caso, será mais conveniente ordenar uma pausa ou substituir os homens cansados por outros.
36. A capacidade visual do recruta deve ser objecto de particular attenção. Logo depois da chegada dos recrutas ao corpo deve-se experimental-os no reconhecimento dos objectivos distantes. A marcha destes exercicios deve obedecer a uma applicação crescente. A principio delles se realizarão no pateo da caserna e depois em terreno variado, empregando-se alvos de pequenas dimensões que se approximem dos objectivos do campo de batalha. Os recrutas que revelarem defeito de vista serão submettidos ao exame do medico do corpo, o qual procederá de accôrdo com as instrucções a que se refere o art. 22 do regulamento approvado pelo decreto n. 3.220, de 7 de março de 1899.
Apontar
37. Uma arma está apontada quando ella tem uma inclinação e uma direcção taes que o prolongamento da linha de mira passa pelo ponto de visada.
A arma nessa posição não deve ser inclinada nem para a direita nem para a esquerda para que o vertice da massa de mira não se mantenha sempre no meio do entalhe da alça, como indica a figura 7 a.
38. Os erros de pontaria mais frequentes são os seguintes:
Excesso ou insufficiencia de mira, occasionando tiros longos ou curtos quando a massa de mira apparece no entalhe da alça, como indica a figura 7 b e c.
«ANEXO» CLBR VOL. 01 ANO 1913 PÁG. 70 FIG. 7
Arma torcida, occasionando tiros um pouco curtos e desviados do lado para onde a arma está torcida, quando o entalhe da alça não está em plano horizontal (fig. 7 b), ou quando o atirador não faz exactamente coincidir o vertice da massa de mira com o entalhe da alça (figs. 7 e e f).
«ANEXO» CLBR VOL. 01 ANO 1913 PÁG. 70 FIG. 7
39. Os exercicios de pontaria se fazem com a arma assestada no cavallete de pontaria (homem em pé) e na mesa de pontaria (homem sentado e arma apoiada em um sacco de terra).
A arma estando assestada no cavallete de pontaria, o instructor aponta-a para um ponto do alvo indicado pelo recruta; quando a operação está concluida, o instructor retira-se do cavallete e o recruta, vindo occupar o seu logar, dirige a linha de mira para o mesmo ponto. O instructor, insiste para que o recruta dirija a linha de mira fechando o olho esquerdo, o entalhe da alça esteja no plano horizontal e este e o vertice da massa de mira occupem a posição conveniente (fig. 7 a). Aos homens que não podem apontar fechando o olho esquerdo é permittido apontar com olhos abertos. Uma vez que o recruta age desembaraçadamente, o instructor procura verificar a pontaria sem perturbal-o. O processo mais efficaz e mais simples para obter este resultado e ainda o seguinte: manda-se o recruta apontar a arma para um ponto qualquer de um quadro em branco collocado mais ou menos á distancia de 10 metros. Um inferior colloca-se ao lado do quadro, munido de uma pequena ventarola de papelão furada no centro.
O recruta indica por signaes o sentido no qual a ventarola deve passear sobre o quadro até que o prolongamento da linha de mira passe pelo orificio; o inferior assignala com o lapis o ponto de visada. Esta operação se repete no minimo tres vezes e a distancia entre os pontos obtidos dá a medida da exactidão da pontaria.
40. Tendo o recruta com o fuzil assestado no cavallete aprendido a dirigir a linha de mira para o ponto de visada, começam os exercicios na mesa de pontaria. O recruta senta-se e apoia o cano da arma em um sacco de terra. O instructor, collocando o prisma de contrôle sobre a arma, acompanha a pontaria em todos seus detalhes. O recruta apoia os cotovellos sobre a mesa, afasta um pouco o hombro direito, apoia ligeiramente a parta esquerda do corpo contra a mesa e empunha com a mão direita o delgado e com a esquerda a coronha da arma. Partindo desta posição, respira tranquillamente, levanta a arma com cuidado e leva a soleira ao concavo do hombro, entre a golla da blusa e os musculos do hombro. A cabeça ligeiramente inclinada para a frente e para a direita, prompto para apontar. E’ preciso evitar apoiar a soleira contra a clavicula ou os musculos do braço. Quando a arma está assim devidamente assestada, o recruta procura dirigir a linha de mira para o ponto de visada, deslocando a arma sobre o sacco de terra ou afastando os cotovellos.
Uma vez a arma apontada em altura, a pontaria em direcção é corrigida deslocando os cotovellos. Deve-se evitar apontar em altura levantando um braço.
41. Desde e inicio dos exercicios de pontaria deve-se combater energicamente os erros habitualmente commettidos nesta operação e sobretudo os máos habitos (como por exemplo dormir na pontaria), pois estes serão depois difficeis de desenraizar.
42. Durante os exercicios na mesa de pontaria deve-se começar a ensinar o recruta o modo conveniente de empunhar a arma para atirar. A mão direita avança e empunha o delgado da arma de modo que o dedo indicador se introduza no guarda-matto e possa vir posteriormente a agir na tecla; os outros dedos da mão direita applicam-se fortemente ao delgado da arma, mas de modo que o pollegar se approxime da primeira phalange do dedo médio. A palma da mão direita se applica contra a arma até a origem do delgado.
43. Os exercicios de pontaria devem se repetir durante todo o anno de tiro; augmentam-se gradativamentie as distancias e complica-se a escolha dos alvos, de sorte a vencer todas as difficuldades de apontar.
ACCIONAR O GATILHO
44. O modo de accionar o gatilho até que o percussor tenha funccionado é da maior importancia para a possibilidade de acertar no alvo.
Elle deve constituir o objecto de constantes recommendações e exercicios, sendo que, a principio, estes deverão ser feitos com a arma apoiada. A extremidade interior da primeira phalange ou a segunda phalange do dedo indicador, tomam contacto com a tecla do gatilho. A segunda e terceira phalanges encurvam-se e arrastam o gatilho para atraz até encontrarem a resistencia do escape; a partir dahi, ellas continuam lentamente a puxal-o até que a arma dispare. A palma da mão direita deve manter-se firmemente applicada ao delgado, mas de modo que os dedos tenham toda a flexibilidade e que seus movimentos não use transmittam á mão nem ao braço do atirador. Tendo o percussor funccionado, o dedo indicador deve ainda, por um momento, manter o gatilho puxado e depois distendel-o lentamente.
45. E’ de recommendar que o instructor ensine o recruta a accionar o gatilho applicando o seu proprio dedo indicador sobre o do recruta, ou vice-versa, que o recruta guie com seu proprio dedo o do instructor, applicado á tecla do gatilho.
APONTAR E ACCIONAR O GATILHO
46. Uma vez que o recruta aprendeu a apontar e accionar o gatilho com segurança, as duas operações passam a ser executados simultaneamente; estes exercicios devem tambem, a principio ser feitos com a arma apoiada. Desde que se arasta o fuzil, até a partida do tiro, a respiração deve ser suspensa. Para assestar o fuzil deve-se empunhar a arma (n. 42), fechar o olho esquerdo, dirigir a linha de mira para o ponto de visada, trazer o gatilho ao escape e uma vez a pontaria acabada, continuar a dobrar o gatilho lentamente. Si a linha de mira oscilla, não se deve continuar a accionar o gatilho além do escape, antes que a mesma se firme. Si a oscillação persiste, o atirador depõe a arma; o mesmo si elle se sente incapaz de poder accionar gradualmente o gatilho. O atirador não se deve habituar a esta concessão; ao contrario, cumpre-lhe desde o começo da instrucção agir com firmeza e sem receio.
47. Partido o tiro, o fuzil deve continuar assestado e o atirador accusa em voz alta para onde estava apontada a sua arma no momento do disparo. Este é o melhor meio de pôr em evidencia os erros devidos ao desasocego, falta de segurança ou receio do tiro. O homem depõe a arma com tranquillidade, levanta a cabeça, abre o olho esquerdo, estende o dedo indicador e conserva a mão esquerda applicada á coronha da arma.
48. Todas as operações devem ser executadas com o maior cuidado. O instructor, collocando-se á esquerda e adeante do atirador, observará melhor a posição, o assentamento da arma, o modo de apontar e de accionar o gatilho, etc.
Depois de disparada a arma, o instructor mostra os erros commettidos, e indica os meios de evital-os.
49. Deve-se attribuir grande importancia á indicação exacta do ponto de partida. Si o homem dá mostras de não saber exactamente a direcção para onde estava apontada a arma quando foi disparada, deve-se procurar com habilidade e paciencia, arrancar-lhe a confissão de que a pontaria foi incerta. Só uma instrucção assim dirigida póde assegurar o progressivo melhoramento da preparação do tiro.
50. Nos exercicios com munição de tiro reduzido ou com cartucho de guerra occorrem alguns erros especiaes cuja causa reside principalmente no receio de não attingir o alvo. Assim, algumas vezes, logo que o atirador consegue dirigir a linha de mira para o ponto de visada, puxa o gatilho de um só tirão, com receio de perder a opportunidade de disparar a arma; outras vezes, na espectativa da detonação ou do recúo, inclina a cabeça para a frente, pisca os olhos, avança o hombro direito. Taes casos, que impossibilitam o conhecimento da direcção em que partiu o projectil, são bem observados quando por qualquer circumstancia o tiro falha. O melhor meio de os pôr em evidencia para julgar do estado physico e moral dos homens é, no correr de um exercicio de tiro, entregar-lhes uma arma capciosamente carregada com um cartucho falso.
POSIÇÕES DE TIRO
51. Em todas as posições de tiro os olhos devem estar constantemente voltados para o alvo; o corpo firme, porém, desembaraçado, mantem-se em posição sem constrangimento; a arma apoia-se com firmeza no hombro sem que este recúe ou avance de sua posição natural. Durante os movimentos de assestamento do fuzil o homem deve respirar lentamente, e a partir do momento que a arma está apontada até que o tiro porte a respiração deve ser suspensa. Toda a torção forçada do corpo e todo o emprego exaggerado de força impedem a immobilidade da arma e difficultam a pontaria. Peças de fardamento e de equipamento mal ajustadas ao corpo impedem o manejo desembaraçado da arma.
52. Atirador deitado – O corpo deve occupar uma posição obliqua em relação á frente do alvo, sem que para isso o homem tenha necessidade de dobrar o tronco em torno da cintura; as pernas devem ficar afastadas uma da outra sem exaggero, podendo tambem ser cruzadas. O corpo apoia-se firmemente nos cotovollos. A mão direita empunha o delgado da arma, o pollegar exercendo forte pressão contra a mesma, a palma da mão esquerda sustenta o fuzil pelo fuste adeante do guarda-matto, o dedo pollegar estendido ao longo do fuste e as outros ligeiramente encurvados e applicados á arma sem esforço. Os dous braços, sem fazerem um esforço exaggerado, dão á arma a direcção conveniente para apontar. A mão direita exerce com a arma uma forte pressão contra o hombro (vide n. 41).
O atirador deitado com a arma apoiada póde agarrar a coronha com a mão esquerda, exercendo com a mesma uma pressão na direcção do hombro.
Nos tiros a grandes distancias a coronha deve ser abaixada no concavo do hombro.
53. Atirador de joelhos – Gyrando em torno da planta do pé direito colloca o pé esquerdo um passo adeante deste. Pousa o joelho direito em terra e assenta-se sobre o calcanhar do pé direito; a planta do pé direito póde ficar proximamente vertical ou o peito do pé direito póde encostar no chão: o pé esquerdo deve avançar ou recuar como melhor convier á distribuição do peso do corpo. O homem empunha o delgado com a mão direita e traz a arma á frente do corpo de modo que a coronha fique na altura da cartucheira da direita e a bocca do cano na altura dos olhos; o braço direito apoia-se ligeiramente no lado exterior da coronha; a mão esquerda recebe em cheio a arma e sustenta-a mais ou menos na altura do centro de gravidade; o cotovello esquerdo assenta sobre os musculos da coxa esquerda ou o braço esquerdo, acima do cotovello, apoia-se sobre o joelho esquerdo. A arma deve estar sufficientemente afastada do corpo para evitar que a coronha toque o sovaco e de sorte que, quando com o braço esquerdo se dirigir a arma para o alvo, se possa exercer com a mão direita uma pressão contra o hombro sem levantar o cotovello acima deste.
A cabeça deve ser inclinada para a frente, os musculos do rosto devem tocar ligeiramente a coronha. Os musculos do pescoço não devem ser entezados.
Para fazer variar a inclinação do fuzil, o homem approxima ou afasta a ponta do pé direito, avança ou recua o pé esquerdo ou o ponto de apoio do joelho direito sobre o solo. Será erro querer obter o mesmo resultado levantando a ponta de pé esquerdo ou a mão esquerda.
54. Atirador em pé – O homem suspende a arma, e faz um oitavo á direita; leva o pé direito meio passo á direita, de sorte que a linha, unindo as pontas dos pés, fique parallela á nova direcção dos hombros; colloca a arma com a coronha encostada ao lado interior do pé direito e o guarda-matto voltado para a frente.
Os joelhos devem ser ligeiramente entezados.
Os quadris e os hombros fazem a mesma conversão que os pés.
O peso do corpo deve descançar igualmente sobre o calcanhar e a palma dos pés.
Para carregar, a arma deve ser trazida á frente do corpo, como foi descripto para o caso do atirador de joelhos. Para apontar, a arma será collocada na direcção do ponto de visada, com o auxilio das duas mãos e com a mão direita se exercerá uma pressão na direção do hombro.
A cabeça, um pouco inclinada para a frente, tocará ligeiramente a coronha da arma; os musculos do pescoço não devem ser entezados.
55. Quando o homem tem de atirar protegido por uma massa cobridera, encosta a parte anterior do corpo ao talude, apoia os cotovellos sobre a crista, assesta o fuzil e aponta, como foi descripto no numero 52.
CLASSIFICAÇÃO DOS ATIRADORES
Execução dos tiros de instrucção
56. O anno de tiro começa um mez depois da chegada dos recrutas e termina com o anno civil.
57. Com o pessoal da companhia formam-se annualmente tres classes de tiro. Pertencem á primeira classe os homens com mais de um anno de serviço, que satisfizeram todas as condições prescriptas para os exercicios de tiro do primeiro anno de instrucção; á segunda, os recrutas e os homens com mais de um anno de serviço, ainda não julgados atiradores aptos; á classe especial, de tiro, os officiaes e os aspirantes da companhia, os inferiores e os reengajados, tendo satisfeito todas as condições exigidas aos atiradores de primeira, classe.
58. Concluido o anno de tiro, o chefe da companhia designa os homens que passam para a primeira classe.
A condição para um accesso de classe é que os atiradores em questão tenham obtido os resultados exigidos da classe anterior, a distancias regulamentares. Si um atirador commette ainda grandes erros que fazem duvidar da sua segurança no tiro, o chefe da companhia está obrigado a adiar a sua passagem para a primeira classe, mesmo si o numero de cartuchos consumidos por esse atirador for muito pequeno. E’ estrictamente prohibido fazer um atirador retrogradar de classe (*)
59. Tomam parte nos tiros de instrucção todos os primeiros e segundos tenentes e os aspirantes, todos os inferiores e simples praças da companhia, salvo si se acham destacados do corpo.
_________________
(*) Na caderneta do reservista é mencionada a ultima classe de, tiro a que elle pertenceu na companhia.
Cada atirador tem de executar no correr do anno todos os exercicios de tiro prescriptos para a sua classe.
60. Os officiaes, inferiores e praças que, de volta do hospital, de uma licença ou destacamento qualquer, se apresentarem á, companhia seis mezes depois do inicio do anno de tiro e não tiverem antes de sua partida começado os tiros de sua classe, consomem durante os tiros de instrucção apenas 30 cartuchos, a juizo do chefe da companhia. Nos tiros de combate, porém, elles devem tomar parte executando, si possivel, todos os exercicios deste ramo de instrucção na sua companhia.
61. Cada classe de tiro comprehende exercicios prévios e exercicios principaes. Os primeiros comportam tres, os segundos cinco cartuchos.
62. denominados voluntarios de manobras executam durante o seu tempo de serviço, á escolha do chefe da companhia, quatro exercicios prévios e tres exercicios principaes da segunda classe.
63. Cada homem deve ativar sempre com o fuzil que lhe pertence, exceptuado o caso que a sua arma esteja em reparação.
64. A utilização de um outro fuzil que não o proprio deve ser assignalada em cada caso na columna de observações dos livros, boletins ou diagrammas de tiro com o numero da arma.
65. Antes do inicio dos exercicios prévios, os atiradores de todas as classes de tiro (excepção dos que tiverem feito o tiro annual de verificação dos fuzis) devem executar, sentados e com a arma apoiada alguns tiros á distancia de 150 metros. Os cartuchos para esse tiros devem ser deduzidos da munição destinada aos tiros de instrucção e registrados no livro de tiro de companhia na rubrica – munição consumida – columna – tiros de instrucção.
66. Os homens de vista abaixo da normal atiram com oculos (vide numero 36).
Os atiradores cuja capacidade visual, mesmo com oculos, é inferior a tres quartos da vista normal, pódem ser autorizados pelo commandante do batalhão a executar os tiros a distancias reduzidas, indicadas pelo mesmo.
O commandante do batalhão só profere esta decisão á vista de um exame medico que se realizará todos os annos antes do inicio dos tiros de instrucção e não em seguida ao exame medico, feito no acto da incorporação dos recrutas vide numero 36).
67. No intuito de não desanimar os recrutas com os resultados dos seus primeiros tiros, deve-se, no inicio da instrucção, attender ás condições do tempo para a escolha dos dias de exercicio.
68. E' prejudicial para a instrucção accelerar a execução dos tiros no mesmo exercicio e bem assim interrompel-os por muito tempo, salvo o caso de atiradores fracos dando mostras de fadiga ou desanimo.
69. E' absolutamente prohibido empregar meios não regulamentares facilitando o tiro, de modo a obter resultados superiores, assim, por exemplo, fazer nos alvos signaes especiaes. Estes processos prejudicam a instrucção para a guerra. E’, entretanto, permittido, nos tiros de instrucção, abrigar o atirador contra a chuva e o sol com o emprego provisorio de certos abrigos por exemplo, guarda-chuva, guarda-sol, ou outros meios analogos.
Nos tiros principaes é prohibido empregar apparelhos para verificar a pontaria e lunetas de tiro.
70. As condições de um exercicio só serão satisfeitas quando forem feitos tres a cinco tiros no mesmo dia, sem interrupção.
71. E’ prohibido exigir de um atirador mais de dous exercicios differentes no mesmo dia.
Começado um exercicio, este não deve ser interrompido, salvo em casos excepcionaes; si o atirador, porém, dá mostras de fadiga, póde descançar a arma, retirar-se e recomeçar o tiro depois.
Os pessimos atiradores recomeçam os exercicios referidos no numero 35 e só depois que o chefe da companhia se certificar que elles teem feito progressos nessa instrucção preparatoria admitte-se de novo nos tiros de instrucção.
72. Devido á escassez de cartuchos, o chefe da companhia será muitas vezes obrigado a permittir que um atirador passo á execução de um exercicio de ordem mais elevada, dentro da mesma classe de tiro, sem que o mesmo tenha satisfeito as condições prescriptas para o exercicio immediatamente anterior.
Toda a economia de munição feita nos tiros de instrucção deve ser empregada para a repetição dos exercicios cujo resultado foi insufficiente.
Os recrutas só começarão os exercicios principaes depois de terem percorrido, com os resultados exigidos, a serie dos exercicios prévios.
73. O inferior encarregado do material de tiro da companhia se incumbe de fazer transportar para o stand todo o material necessario para a execução dos exercicios (alvos, munição, etc.) que está, cargo da companhia. Elle é obrigado a permanecer no stand durante toda a sessão de tiro.
74. O chefe da companhia ou o official que o substituir deverá chegar ao stand antes do inicio do exercicio, verificando antes, no correr o depois do mesmo, si são observadas todas as medidas de segurança e de ordem estabelecidas no regulamento dos stands de tiro. E’ indispensavel a presença de um official em todas as sessões de tiro, o qual é responsavel pela execução daquellas medidas.
75. Para os tiros de instrucção os homens são conduzidos ao stand sob a direcção dos inferiores. Antes da partida para o stand e immediatamente antes e depois de cada sessão de tiro os inferiores são obrigados a examinar as armas e as cartucheiras, verificando especialmente o estado de limpeza da camara e do cano e si elles conteem algum corpo estranho.
Estas prescripções devem ser observadas em todos os exercicios de tiro com cartuchos reaes ou falsos.
76. Concluido o exercicio de tiro, os homens devem, mesmo no stand, antes que os inferiores tenham examinado as armas, desengraxar o interior do cano com um pouco de estopa secca.
77. O uniforme para os tiros preparatorios será o do serviço interno, com cinturão e cartucheiras; para os tiros principaes o mesmo, com a mochila carregada de quatro kilogrammas e os utensilios de cozinha.
78. Chegado ao stand o grupo que vae atirar, composto em geral de cinco homens, no maximo, faz frente ao alvo, colloca-se a alguns passos á retaguarda do logar do atirador, abre o ferrolho e descança armas.
79. O homem que tem de atirar avança até a plataforma de tiro, executa a posição prescripta para o tiro do dia, carrega sem commando, introduzindo um carregador completo (salvo o exercicio de tiro n. 13 da segunda classe, n. 9 da primeira classe e os exercicios da classe especial, assesta o fuzil, aponta e atira tambem sem commando, annunciando depois em voz alta o ponto de partida.
80. O inferior collocado perto do atirador acompanha todos os seus movimentos e observa os signaes do marcador.
81. Si o atirador retira a arma sem a ter disparado e si tem apenas a intenção de interromper momentaneamente o tiro, a arma deve continuar preparada para atirar; si o atirador, porém, tem permissão para descançar; deve immediatamente recarregar e travar o fuzil.
82. Concluido o tiro, o homem recarrega a arma, trava-a e volta a occupar seu logar entre os camaradas, sendo substituido por outro atirador.
83. Terminados os tiros relativos ao mesmo exercicio, o homem, ejecta o estojo ou descarrega a arma fazendo frente ao alvo. Si a sessão de tiro só comporta um exercicio, elle recebe por esta occasião do encarregado a sua caderneta de tiro, onde estão consignados os resultados do dia e dá conta dos mesmos ao chefe da companhia, ou ao official que o substituir.
84. Nos exercicios principaes, o homem póde fazer successivamente todos os tiros de um exercicio, mesmo no caso em que os resultados devam ser indicados depois de cada tiro. O chefe da companhia póde tambem autorizar este processo nos exercicios preparatorios.
85. Quando no correr de um tiro occorrer uma falha, o atirador deve esperar alguns segundos antes de abrir o ferrolho, para evitar o perigo de um accidente devido a um retardo de deflagração. Aberto depois o ferrolho, retira o cartucho, gyra-o sobre si mesmo, o introduz na camara e atira de novo. Si o cartucho falha segunda vez, elle é empregado em uma outra arma; em caso de nova falha, é considerado definitivamente imprestavel.
Os cartuchos que não podem ser introduzidos na camara, ou cujos estojos e capsulas estiverem visivelmente arruinados serão considerados imprestaveis.
O numero de falhas e de cartuchos imprestaveis é indicado no boletim de tiro do dia e posteriormente registrado no livro de tiro da companhia.
TIRO DE PROVA
86. Quando o máo resultado de um tiro for attribuido a um defeito do fuzil, o official que assistir ao exercicio atira ou faz atirar alguns cartuchos com a arma em questão, afim de verifical-a.
Os resultados destes tiros de prova devem figurar no boletim de tiro do dia e no livro de tiro da companhia, ao lado do resultado do tiro que motivou a prova.
TIROS DE ANIMAÇÃO
Officiaes
87. O exemplo do chefe é sempre o mais fecundo incentivo para a tropa.
Os homens devem ser testemunhas do interesse pessoal dos officiaes pelo tiro, e estes não devem desprezar as occasiões de se aperfeiçoar no tiro, de modo a tornarem-se neste, como nos outros ramos da instrucção, o modelo da companhia.
88. O commandante do batalhão convoca para este fim os officiaes e os aspirantes do batalhão para diversos exercicios especiaes de tiro que devem ter logar na melhor estação do anno. Taes tiros são dirigidos pelo commandante do batalhão e se executam com certa liberdade, de modo a desenvolver o gosto pelo tiro; assim é que se podem empregar alvos especiaes, não regulamentares e atirar com armas de propriedade particular. Uma certa parte da dotação de munições destinadas a este fim póde ser posta pelo commandante do batalhão á disposição dos chefes de companhia, que deverão empregal-a para organizar dentro de sua unidade sessões especiaes de tiro para os officiaes. O resultado do tiro dos officiaes será registrado em um livro especial, a cargo do batalhão, e não figurará no livro de tiro das companhias.
89. Nas sessões de tiro para officiaes, o commandante de batalhão designará um official encarregado de todas as medidas de ordem e de segurança do stand.
90. Os officiaes que atirarem com fuzis não regulamentares devem, na execução do tiro, observar as prescripções do presente regulamento.
INFERIORES E PRAÇAS
91. Uma parte das economias de munição feitas pelo chefe da companhia durante o anno (cerca da metade) póde servir para a organização de exercicios especiaes destinados a aperfeiçoar o tiro.
92. Estes exercicios serão tanto mais proficuos e attrahentes quanto mais se afastarem dos exercicios prévios e principaes. Far-se-ha de preferencia emprego de álvos especiaes, em geral objectivos do campo de batalha.
93. O chefe da companhia fixará os resultados a obter nestes tiros. E’ prohibido na excução dos mesmos exercer qualquer pressão sobre os ativadores, no sentido de melhorar os resultados.
94. O resultado destes tiros figurará no livro do tiro da Companhia sob a rubrica seguinte: Exercicios especiaes organizados pelo chefe da companhia.
B – TIRO DE COMBATE
95. O tiro de combate constitue a parte mais importante da instrucção de tiro. Elle offerece occasião de fazer do homen um atirador consciente e autonomo e do subalterno um conhecedor perfeito das regras de direcção de fogo e em geral seus deveres em todas as situações do combate pelo fogo.
96. No tiro de combate o atirador applica, em condições que se approximem tanto quanto possivel de uma situação real de guerra, tudo quanto aprendeu nos tiros de instrucção e nos exercicios de combate.
O manejo correcto da arma em todas as posições, a execução conscienciosa de cada tiro e a vontade tenaz de attingir um determinado objectivo são as condições capitaes de successo. Deve-se, exigir que a conducta do homem em um exercicio de tiro de combate seja tão inflexivel como na guerra e que cada um proceda sempre como se estivesse em um combate real.
97. Em tempo de paz as differentes phases do combate se desenrolam muito mais rapidamente que na realidade, e os resultados dos tiros de combate são superiores aos que se obteria em condições analogas no campo de batalha. Não se deve, pois, tirar dos tiros de combate do tempo de paz uma falsa conclusão sobre a efficacia do fogo; os homens e os officiaes devem ser devidamente elucidados a respeito desta questão.
98. Os tiros de combate podem ter logar em todas as estações do anno.
99. Os superiores, a partir dos commandantes de brigada, devem empregar todos os meios para que a infantaria disponha sempre do tempo necessario á execução judiciosa e instructiva de seus tiros com cartucho real pois esta é a parte da instrucção mais importante para a preparação da guerra. Para attingir este «desideratum» é necessario utilizar equitativamente os locaes de exercicio (campo de instrucção) durante a permanencia das tropas nos mesmos.
MARCHA DA INSTRUCÇÃO
100. Assim como nos tiros de instrucção, a instrucção e educação individual do atirador são a base dos tiros de combate. Depois de se ter instruido cada homem em particular, passa-se progressivamente á esquadra, ao pelotão e á companhia.
Nos exercicios de esquadra deve-se ter especialmente em vista instruir os inferiores na direcção do fogo.
101. Deve-se sempre começar esta instrucção recapitulando as noções sobre a theoria do tiro e os conhecimentos praticos adquiridos nos tiros de instrucção.
O homem deve habituar-se, atravez de repetidos exercicios, a adaptar ao terreno as differentes posições de tiro, de modo a proteger-se o mais possivel contra os effeitos do fogo de inimigo e augmentar a precisão de seu tiro.
102. Assiduamente, durante todo o tempo do serviço militar, far-se-hão exercicios de pontaria e de assestamento do fuzil com todas as posições da alça e a distancia correspondentes a differentes alças; taes exercicios não deverão ser muito demorados.
Deve ser rigorosamente exigido que durante todo o correr do anno se executem exercicios de pontaria em terreno variado a distancia de combate, escolhendo objectivos e faixas de terreno – pouco visiveis.
Só atravez de taes exercicios se conseguirá desenvolver a capacidade visual e a faculdade de descobrir os objectivos; especialmente modificando a posição dos objectivos e seu aparecimento, poder-se-ha tambem, nestes exercícios, experimentar o espirito de observação e a actividade de combate e dos homens.
103. Deve-se attribuir grande importancia á rapidez no carregamento, á presteza na collocação da aba, á rapidez e no assestamento da arma e á execução cuidadosa do tiro em todas as posições.
104. Só se deve passar ao tiro com cartucho real depois os homens aprenderem os processos do combate de atiradores nos exercicios de detalhe, organizados de accôrdo com o regulamento de exercicios para a infantaria, e depois de ter desenvolvido nos chefes e na tropa o julgamento e a confiança em suas proprias acções.
105. Os exercicios de dupla acção com cartuchos falsos ou de festim constituem um complemento necessario dos tiros de combate; a presença de alvos vivos torna-os mais variados e mais interessantes que os exercicios de tiro com cartucho real; elles facultam, sem perigo para as circunvisinhanças, uma utilização completa do terreno e permittem que no desenvolvimento da acção prevaleçam sempre as razões de ordem tactica. Os tiros com cartucho real são porém os unicos que permittem julgar do modo por que a acção foi dirigida e constituem o unico meio de se adquirir a verdadeira habilidade na direcção do fogo, isto é, engarfar o objectivo no feixe de balas; por outro lado, elles provocam no homem e no chefe excitação cerebral que poderosamente influe sobre o julgamento e a acção.
106. Estes dous generos do exercicios formam a base do ensino do combate e devem se completar para a efficacia da instrucção da tropa.
107. A instrucção dos subalternos, dos inferiores e dos soldados designados como chefes de esquadra, no ponto de vista da direcção do fogo, faz-se partindo do simples para o composto. Collocam-se os iniciados nas condições de um tiro observado e se lhes determina que fixem a alça para engarfar objectivo. Exercicios assim feitos permittem adquirir a experiencia necessaria para a solução de problemas mais difficeis. Os objectivos escolhidos para esses exercicios deverão ser bem visiveis.
108. Os exercicios de tiro de combate em que figura a acção combinada da infantaria e das metralhadoras offerecem occasião de dar a conhecer aos homens o emprego das metralhadoras no combate e o effeito de seu fogo; para que a observação deste ultimo seja concludente, é indispensavel que nestes exercicios os alvos attribuidos ás metralhadoras não tenham de ser batidos pela infantaria.
109. Os exercicios de tiro de combate em que figura a acção combinada da infantaria e da artilharia só podem ser proficuos si é possivel realizal-os em condições correspondendo á guerra.
EFFICACIA DO FOGO
110. A diminuição do espaço razado (vide numeros 14 e 25), a dispersão crescente, devida á arma (vide numeros 15 e 26) e a devida ao atirador, reduzem o emprego do tiro individual ás pequenas distancias; dentro deste limite a probabilidade dos resultados de tiro augmenta com a approximação, dimensão e densidade do objectivo. Contra pequenos objectivos isolados só se póde contar com o exito do tiro individual até a distancia de 400 metros.
111. A efficacia do fogo collectivo (vide numeros 17, 21 e 26) depende de diversas circumstancias que em parte se subtrahem á vontade do grupo que atira, porém, que devem ser tomadas em consideração para julgar do rendimento de seu fogo.
112. Abstracção feita do numero de tiros (numero de fuzis), duração e velocidade do fogo, devem ser tomadas em consideração, para julgar do resultado do fogo collectivo, as dimensões e natureza do objectivo (altura, largura, profundidade, densidade e visibilidade), a natureza do terreno nas proximidades do objectivo (maior ou menor facilidade do observar os pontos de queda, terreno mais ou menos propicio á producção de ricochetes e estilhaços de toda sorte, inclinação do terreno em relação á linha de mira), o estado do tempo (vide numero 9) e finalmente a dispersão em profundidade (vide numero 26). Os factores capitaes da efficacia do fogo collectivo são, porém, a direcção do fogo e o rendimento dos atiradores (vide numeros 20 e 21).
O rendimento dos atiradores depende de sua instrucção e educação (disciplina de fogo) e do seu estado de fadiga e alteração physica e moral.
113. Os objectivos altos e profundos podem ser vulneraveis até os limiteis extremos da alva, si o fogo é bem dirigido. A médias e pequenas distancias taes objectivos podem ser completamente destruidos.
Si se atira contra objectivos pouco largos, é de temer que o feixe de balas caia á direita ou á esquerda do mesmo; quanto maior é a distancia mais se deve recear esta eventualidade. Contra objectivos pequenos e densos só é possivel obter resultado efficaz a distancias médias (entre 800 e 1.200 metros); a partir dahi, é preciso dispor de grande quantidade de cartuchos.
114. As linhas de atiradores avançando em terreno descoberto sob o fogo de uma infantaria ainda não molestada pelo tiro, soffre a médias e mesmo a grandes distancias perdas consideraveis, que tanto maiores serão quanto mais densas as mesmas forem. Movimentos para a frente de linhas de atiradores densas e continuas sob o fogo do inimigo, a pequenas e médias distancias, são absolutamente inexequiveis.
Neste caso as fracções de tropa engajadas na luta, devem, reciprocamente, se auxiliar para ganhar o terreno que as separa do inimigo (combinação da marcha e do fogo).
115. Não é possivel contar com os effeitos do fogo quando a infantaria ataca de frente a artilharia de campanha com escudos, mesmo quando se combate a pequenas distancias.
A infantaria, porém, póde immobilizar a artilharia e perturbar seu tiro. Consideravel efficacia do fogo póde sempre se esperar si a infantaria consegue atacar a artilharia, de flanco, empregando grande numero de fuzis e não poupando cartuchos; para obter resultados rapidos é preciso abrir o fogo com segurança e de surpreza. A situação critica da artilharia em face do fogo da infantaria é quando ella está em marcha ou engata ou desengata os armões. Uma infantaria que tem a felicidade de surprehender as baterias nesta situação, póde inutilizal-a para a batalha.
116. A efficacia do fogo de infantaria contra as metralhadoras transportadas em carros ou em cargueiros é a mesma que contra a artilharia em marcha; contra as metralhadoras em movimento, mas transportadas á mão, a mesma que contra simples atiradores. As metralhadoras em posição de tiro constituem para o fogo da infantaria objectivos difficeis de destruir; a potencia do fogo das metralhadoras não diminue, mesmo que uma parte dos serventes seja posta fóra de combate. Para obter resultados contra as mesmas é preciso a médias e grandes distancias empregar muitos fuzis e dispôr do abundancia de cartuchos.
117. O fogo de flanco é sempre o mais efficaz a todas as distancias e contra todos os objectivos.
DIRECÇÃO DO FOGO
118. A direcção do fogo comprehende:
Escolha e designação do objectivo;
Apreciação ou medida da distancia;
Determinação da alça;
Distribuição do fogo e em certos casos determinação do ponto de visada;
Observação dos effeitos do tiro no objectivo;
Influencia do chefe sobre a actividade de combate da tropa;
Disciplina do fogo:
119. A occasião em que o fogo deve ser aberto depende, em todos os casos, da situação tactica correspondente; em geral o fogo é aberto segundo indicação do commandante da tropa que se acha mais perto do inimigo.
Em principio só deve começar a atirar quando o tiro póde ser efficaz ou quando forem precisos grandes sacrificios para avançar sem o auxilio do fogo. Uma abertura prematura do fogo revela na tropa desasocego e falta de confiança em seus meios de acção. O consumo de cartuchos sem resultado correspondente significa um desperdiço de forças; um fogo inefficaz levanta o moral do inimigo.
Para attingir o fim de um combate não se hesitará em consumir todos os cartuchos necessarios.
120. A direcção do fogo se exerce, si possivel, durante toda a duração do combate; é uma questão de honra para o chefe conservar até o ultimo momento a liberdade do dispor de todos os seus fuzis.
A tropa deve ser exercitada a dissolver-se e a constituir rapidamente novas unidades, no intuito de habituar os atiradores das fracções misturadas a se submetterem, sem perda de tempo, a uma nova direcção de fogo.
121. É contrario aos principios do combate de infantaria estabelecer limites para as attribuições de cada chefe. Os exercicios de tempo de paz devem conduzir á convergencia de todos os esforços para o fim commum.
Os superiores não se afastarão de seus deveres de direcção para prescrever medidas de detalhe. A educação dos subalternos é dirigida no sentido de desenvolver nos mesmos a coragem da responsabilidade e das decisões immediatas, afim de que elles tomem a iniciativa de ordenar além do que lhes foi prescripto ou contra o que lhes foi prescripto quando uma nova situação ou mudança de circumstancia assim exigirem.
122. O clamor do combate nas linhas de fogo impedirá muitas vezes de ouvir as ordens e os commandos; neste caso, elles são transmittidos de bocca em bocca, de chefe de esquadra a chefe de esquadra, ou si fôr necessario, de homem a homem. Transmittindo uma ordem, deve-se indicar sua proveniencia e seu destino. As ordens podem tambem ser transmittidas na linha de atiradores por escripto. Os chefes de esquadra são responsaveis pela sua transmissão; elles accusam a recepção de uma ordem levantando a mão. Os exercicios de transmissão de ordens nas linhas de atiradores devem se executar com toda a frequencia e com todo o desvelo.
123. Para a escolha do objectivo deve-se attender antes de tudo á sua importancia tactica; em segundo logar decidem as considerações relativas ás dimensões do mesmo.
Continuas mudanças de objectivo provocam perturbação na tropa e conduzem á dispersão de forças. A approximação de reservas inimigas de uma linha de atiradores já batida pelo fogo em regra não obriga a uma mudança de objectivo; a dispersão em profundidade do feixe é sufficiente para tornar perigoso todo o terreno que os reforços do inimigo teem de atravessar.
124. A indicação do objectivo deve ser tão curta quanto possivel, precisa, para que o atirador não hesite e clara para que elle o encontre rapidamente. Si o objectivo só é visivel com o auxilio do binoculo, deve-se indicar uma faixa do terreno como objectivo auxiliar. Si fôr possivel, o chefe da esquadra fará passar seu binoculo de mão em mão entre seus homens.
125. Uma exacta apreciação da distancia constitue a base de uma boa direcção do fogo; a medida das distancias com auxilio de telemetros, as informações fornecidas pela artilharia ou infantaria já engajada no combate, podem completar a apreciação das distancias, mas nunca substituil-as.
O chefe de pelotão faz com que os chefes de esquadra cooperem na apreciação das distancias; além disso, ao lado delle devem achar-se sempre dous «apreciadores de distancias»; estes homens communicam ao chefe de pelotão, mesmo sem serem solicitados os resultados de sua apreciação; elles coadjuvam ainda observando, não sómente o objectivo, mas outros pontos do terreno de combate e asseguram a ligação entre o chefe da companhia e o chefe do pelotão, salvo no caso de um corneta já ter sido incumbido da mesma.
Esta cooperação na apreciação das distancias deve ser objecto de exercicios especiaes, afim de que ella tenha no campo de batalha a realização desejada. O chefe de pelotão só ordena que os «apreciadores de distancias» tomem parte no fogo quando suas funcçõees perderem de importancia.
126. A alça deve ser determinada de accôrdo com o resultado da apreciação ou da medida da distancia; além disso, deve se levar em conta o estado do tempo e a disperção em profundidade (vide numeros 9 e 26).
Em caso de incerteza da distancia, deve-se abrir o fogo com a alça curta para que os tiros não passem acima do alvo, o que deve ser evitado a todo custo.
127. Até a distancia de 1.000 metros deve se atirar, por principio, com uma só alça.
Acima de 1.000 metros e quando não se tiver conhecimento exacto da distancia deve-se em regra atirar simultaneamente com duas alças differindo de cem metros. Desde que o chefe adquire, por determinação exacta da distancia ou pela observação dos pontos de queda, uma base segura para a fixação da alça correspondente, deve, mesmo acima de 1.000 metros, fazer atirar com uma só alça.
Quando se tem de atirar simultaneamente com duas alças os homens que na formatura procedente da esquadra, pelotão ou companhia occupavam a primeira fileira atiram com a alça mais curta, os da segunda fileira com a alça mais longa.
128. Com o auxilio do binoculo é sempre possivel observar o effeito do fogo da infantaria.
Pela collocação dos pontos de quéda dos projectis ou pelas alterações sobrevindas na situação do inimigo, o chefe procurará verificar si as suas resoluções são acertadas.
A observação da efficacia do fogo e o valor real das observações feitas exigem uma pratica especial. Alguns projectis cahindo em pontos particularmente visiveis do terreno induzem muitas vezes a illusões sobre o valor exacto da alça empregada e conduzem o chefe a intempestivas resolucões.
No tiro contra os atiradores cobertos por uma elevação do terreno deve-se attender que só se póde observar a parte do feixe de balas cahindo aquem da crista.
129. A alça deve ser em geral considerada boa quando o effeito produzido no objectivo corresponde á munição empregada, ou quando se observam os pontos de quéda dos projectis aquem o além do mesmo.
Para augmentar o effeito do fogo póde-se, neste caso, modificar a alça de 50 metros, para mais ou para menos.
Si o effeito produzido pelo fogo é nullo ou insufficiente impõe-se uma modificação de alça. No caso de effeito nullo deve-se immediatamente modificar a alça de 200 metros; no caso de effeito insufficiente de 150 metros.
Em certos casos póde ser conveniente, antes ou depois da abertura do fogo, concentrar o fogo de um meio pelotão ou de todo um pelotão sobre uma parte do terreno situado no objectivo ou nas suas proximidades que permitta uma melhor observação do tiro; deste modo poder-se-ha obter um ponto de referencia para a conveniente posição do feixe.
130. Em geral o ponto de visada para cada atirador deve ser o pé do alvo que lhe corresponde no conjuncto do objectivo (vide n. 132).
Existem porém casos especiaes em que o ponto de visada deve ser deslocado para fóra do objectivo; em geral as proprias dimensões do objectivo devem ser utilizadas como medida para avaliar esses deslocamentos.
Si se quer levantar ou abaixar o feixe de balas quando se atira a pequenas distancias contra alvos fixos de pequenas dimensões, deve-se modificar immediatamente a alça, pois a essas distancias o deslocamento do ponto de visada modifica insensivelmente o alcance do tiro.
Si se atira contra objectivos deslocando-se lateralmente, deve-se escolher ponta de visada, attendendo á velocidade do alvo e á duração do trajecto do projectil á distancia considerada (vide appendice).
131. Contra objectivos em movimento, que avançam ou recuam, é preciso modificar a alça quando elles transpõem o limite efficaz da mesma. Si o objectivo recua e si seu deslocamente é muito pequeno, póde-se conservar a alça, modificando apenas o ponto de visada.
Contra objectivos que avançam ou recuam com muita rapidez é preciso mudar a alça. Aquem de 700 metros não é preciso mudar a alça quando se atira contra cavalleiros (vide n. 25).
O salto das linhas de atiradores inimigos, qualquer que seja a sua extensão, não exige mudança de alça; esta só deve ser feita quando as mesmas se deitam para continuar a atirar.
Quando se atira contra objectivos de pequena largura e si o vento sopra lateralmente, deve-se deslocar o ponto de visada para fóra do objectivo (vide n. 9 e 112). O deslocamento do ponto de visada augmenta com a distancia; elle é maior si o vento sopra da esquerda.
Nos casos em que o deslocamento do ponto de visada é difficil de avaliar devido a um vento forte, poder-se-ha, para augmentar a probabilidade do resultado de tiro, distribuir o fogo ao longo de uma frente externa.
Exemplo: em vez de commandar: ponto de visada, duas frentes de columna á esquerda! commandar: distribuir o fogo sobre uma frente de 5 a 20 metros á esquerda da columna!
Contra a artilharia e as metralhadoras cujos canhões e metralhadoras são individualmente difficeis de descobrir ou de indicar, deve-se na maioria dos casos bater pelo fogo toda a linha occupada pelas mesmas.
No tiro contra linhas de atiradores extensas não se deve levar em conta a acção de um vento Iateral, salvo quando se atira contra uma ala do inimigo ou contra uma linha apresentando grandes intervallos.
132. A distribuição do fogo sobre a frente total do objectivo é da mais alta importancia. O chefe do pelotão assignala, os limites da frente que seu pelotão deve bater pelo fogo. Esses limites são assignalados tomando um ponto de referencia no terreno e são expressos em numero de metros.
Exemplo: o pelotão N atira de 30 metros á direita até 40 metros á esquerda do capão de matto.
A distribuição do fogo póde ser feita antes ou depois da abertura do mesmo; isto depende do tempo de que se dispõe.
Afim de evitar que partes do objectivo deixem de ser batidas pelo fogo, é de recommendar que as fracções de uma linha de atiradores usurpem até certo ponto a frente que a fracção visinha tem de bater pelo fogo.
133. Em geral cada fracção e cada atirador em particular tem a bater pelo fogo a parte do objectivo que lhe fica directamente em frente: o que não quer dizer que não occorram casos em que o fogo deva ser cruzado. Em caso algum, porém, o facto da parte do objectivo que Ihe corresponde não ser bem visivel deve autorizar o atirador a abandonal-a para atirar contra outra parte mais visivel.
Não se conclua dahi que o atirador não deva aproveitar felizes occasiões (como por exemplo, um salto dos atiradores, inimigos, etc. ) para augmentar a efficacia do fogo.
134. A vivacidade do fogo deve ser regulada pela situação tactica, pelo fim do combate, pela munição disponivel e pela natureza do objectivo.
A grandes distancias, em caso de difficil reconhecimento do objectivo, ou más condições de luz (tempo ennevoado, levantar ou cahir do sól, etc.), a velocidade de tiro deve ser moderada.
Em geral grande velocidade de tiro diminue a efficacia do tiro isolado e augmenta a dispersão em profundidade do feixe de balas. Póde acontecer que a situação tactica, o fim do combate e a situação do inimigo obriguem a augmentar a intensidade do fogo para obter o maximo do effeito no minimo de tempo: neste caso justifica-se um grande consumo de cartuchos.
Os homens devem ser instruidos de modo a saberem reconhecer estas situações e a aproveital-as por iniciativa propria.
135. A continuação ou interrupção do fogo no tiro á vontade deve ser acto de iniciativa do atirador; uma boa educação e uma correcta instrucção constituem a melhor garantia do bom emprego desta liberdade.
O que se deve exigir de cada atirador é um tiro seguro, feito com a vontade tenaz de attingir o seu alvo particular; para satisfazer esta condição o atirador regulará em cada caso a intensidade de seu proprio fogo. Auxiliando-se mutuamente em sua actividade de fogo, os atiradores visinhos podem augmentar a intensidade geral do mesmo. A velocidade do fogo póde ser augmentada accelerando os movimentos para carregar e assestar a arma, mas em caso algum precipitando a pontaria ou accionando o gatilho de um só tirão.
136. A maior intensidade de fogo deve ser empregada na offensiva, nos ultimos momentos de preparação ao assalto; na defensiva, quando o inimigo se lança ao assalto; nos casos de ataque da cavallaria; em todos os encontros inesperados e immediatos com o inimigo, e finalmente na perseguição.
137. A salva (tiro de uma fracção sob commando) póde servir quando se quer fazer uma surpreza ou recuperar o ascendente sobre a tropa, no caso em que os effeitos desorganizadores do combate tenham abalado o moral da mesma. Fóra destas situações excepcionaes ella não deve ser empregada.
138. Deve ser sempre possivel uma interrupção instantanea do fogo de uma linha de atiradores. O commando de – Cessar foga! deve ser repetido por todos os homens. O fogo e o carregamento da arma cessarão immediatamente; a arma porém, continuará assestada; os atiradores guardarão o mais absoluto silencio e concentrarão sua attenção no chefe.
As pausas de fogo facilitam a transmissão das ordens; põe á prova a influencia moral do chefe sobre a tropa e permittem regular o consumo dos cartuchos.
Si o objectivo desapparece, os atiradores devem cessar o fogo por iniciativa propria.
139. O chefe exerce sua influencia sobre a actividade de combate dos atiradores dirigindo-os sem precipitação, emittindo ordens judiciosas, intervindo pessoalmente junto aos mesmos, quando se tornar necessario, vigiando a execução das ordens emittidas e observando si todas as recommendações relativas ao aproveitamento do terreno e á disciplina de fogo são applicadas. A escolha do logar a occupar pelo chefe na linha de atiradores é de capital importancia para a direcção do fogo.
Nos exercicios de tiro de combate os chefes devem dirigir o fogo do logar que elles deveriam occupar em um combate real.
Mais difficil ainda do que este exercicio exterior da autoridade será, no campo de batalha, dada a rude missão da infantaria, manter na tropa a calma, a confiança, a energia e a faculdade de reflectir, nas mais rudes situações, pela simples influencia moral e pelo exemplo do chefe. Este é o apanagio de uma solicita instrucção e educação no tempo de paz.
DISCIPLINA DE FOGO
140. Entende-se por disciplina de fogo a execução conscienciosa de todas as ordens que se succedem na linha de fogo e a exacta applicação de todas as prescripções regulamentares relativas ao manejo da arma e á conducta no combate, como por exemplo:
Exactidão na collocação da alça;
Não disparar a arma sem estar seguro na pontaria;
Disparar a arma com todas as precauções;
Approveitar o terreno para augmentar a efficacia do fogo e cobrir-se;
Estar sempre com a attenção voltada para a direcção do inimigo e do chefe;
Augmentar a vivacidade do fogo por iniciativa propria, quando o objectivo se tornar mais vulneravel;
Cessar o fogo por iniciativa propria, quando o objectivo desapparecer;
Regular o consumo dos cartuchos.
PROGRESSÃO E EXECUÇÃO DOS TIROS DE COMBATE
141. Os tiros de combate comprehendem:
Tiros de preparação;
Tiros de esquadra;
Tiros de pelotão;
Tiros de companhia;
Tiros de exame.
142. Todos os homens da companhia, excepção dos que estiverem destacados da mesma por tempo superior a seis mezes, tomam parte nos tiros de combate; todos os inferiores devem executar os tiros de preparação e de pelotão, podendo formar nestes ultimos um grupo especial.
Como chefes de esquadra, devem ser instruidos não só os cabos e anspeçadas, mas um certo numero de soldados, com aptidões especiaes, a juizo do chefe da companhia. Os aspirantes e os inferiores mais antigos devem ser instruidos como chefes de pelotão. Os tenentes (1º e 2º) mais antigos devem ter occasião, nos tiros de combate, de commandar a companhia.
143. Da direcção dos tiros de combate só póde ser incumbido um official.
Os tiros de preparação de esquadra e de pelotão se realizam na companhia e são em geral dirigidos pelo seu chefe. Os tiros de companhia são dirigidos pelo commandante de batalhão e os tiros de exame pelo commandante do regimento.
144. Os exercicios de tiro de combate devem ser concebidos de um modo simples; os objectivos empregados e a execução dos tiros se approximarão, tanto quanto possivel, das condições da guerra, de sorte que não se venha a adquirir uma falsa noção da efficacia real do fogo.
O emprego dos alvos de queda facilita a verificação dos effeitos do fogo; os effeitos do fogo do inimigo sobre a fracção que atira devem ser indicados ao chefe desta pelo director do tiro; esses podem ainda ser figurados pondo fóra de combate um certo numero de homens.
145. O official encarregado de dirigir o tiro formulará préviamente um thema cuja execução seja compativel com o numero de cartuchos disponivel. Os themas para os tiros de combate não consistirão apenas em um problema technico, mas encerrarão sempre uma idéa tactica que obrigue os executantes a reflectir sobre o modo de ligar seus esforços aos das fracções amigas.
146. E’ de recommendar que se façam com frequencia exercicios de tiro de combate com as unidades (esquadra, pelotão, companhia) em effectivo de guerra, bem assim exercicios de tiro de combate, depois de marchas forçadas; não se devem desprezar as occasiões que se offereçam para executar tiros de combate empregando os meios de remuniciamento das linhas de atiradores, regulamentados para a guerra.
147. Os exercicios de tiro de unidades superiores á companhia teem a incontestavel vantagem de demonstrar como crescem as difficuldades da direcção de fogo quando augmentam os effectivos a desenvolver. Estes exercicios, porém, não entram no quadro dos tiros de combate do presente regulamento. A sua execução póde ter logar por ordem dos commandantes de regimento ou das autoridades superiores, quando se dispuzer para tal fim de tempo e de munições.
Dado o numero reduzido de cartuchos de que se poderá dispor para esses exercicios, nunca será possivel o desenvolvimento completo de uma acção de infantaria; em geral, figurar-se-hão phases de combate, sendo de recommendar que estas representem uma lucta contra a infantaria e metralhadoras.
Mesmo nos exercicios de tiro de unidades superiores não se deve desprezar a observação meticulosa de certos detalhes, como por exemplo, o modo de carregar, assestar a arma e accionar o gatilho.
148. Na apreciação do resultado de tiro de combate deve-se attender, antes de tudo, á conducta da tropa e do chefe no ponto de vista da tactica, da direcção e da disciplina do fogo. Em caso algum se deve procurar melhorar os resultados empregando meios inexequiveis no campo de batalha, ou não correspondentes á guerra.
149. Nos tiros de esquadra, pelotão e companhia um inferior ou uma simples praça, habil na escripta, deve registrar todas as disposições ordenadas pelo chefe; nos tiros de exame um official será encarregado deste serviço. De posse destas notas e dos resultados obtidos, o director do tiro fará uma critica instructiva, que deverá constituir o acto final de cada exercicio. Nesta critica devem ser elucidadas a solução do thema, as disposições do chefe e todas as circumstancias que influiram para augmentar ou diminuir a efficacia do fogo.
150. Si por qualquer circumstancia a critica do tiro não puder ser devidamente desenvolvida no terreno do exercicio, o director a realizará mais tarde.
A critica deve ser feita posteriormente, sempre que as informações dos annotadores forem incompletas, ou não possam ser examinadas com o cuidado devido.
151. Afim de que os ensinamentos a tirar de cada exercicio não aproveitem apenas á fracção que o executou, é de recommendar que todos os homens inferiores e officiaes da compannhia, assistam aos tiros de esquadra e de pelotão.
152. As companhias devem possuir cadernos especiaes para registrarem o resultado dos tiros de combate. O formato e a escripturação destes cadernos não devem ser regulamentados; nelles serão mencionados o logar e a data do exercicio, a posição em que os atiradores executaram o tiro, o consumo de munições, a distancia e a natureza dos alvos empregados para cada tiro. As informações sobre os resultados a mencionar nos tiros de esquadra, pelotão e companhia serão os mesmas que figuram no modelo n. 5 para os tiros de exame, devendo estas ser acompanhadas de um diagramma (vide modelo n. 7) que será collocado no proprio caderno, em seguida aos dados relativos a cada tiro. Nos tiros de preparação dever-se-ha mencionar o nome de cada atirador.
No livro de tiro da companhia serão mencionados o logar e a data em que cada homem executou os tiros de combate.
153. O uniforme para os tiros de combate será o mesmo que para os exercicios principaes dos tiros de instrucção, ajuntando ainda o cantil, o bornal, os instrumentos de sapa e a barraca.
154. Os tiros de combate se executam em terreno variado, nas praças de exercicio, campos de instrucção e nos arredores das guarnições, dentro dos limites que a segurança das povoações vizinhas permittir.
Os tiros de preparação podem ser executados nos proprios stands destinados aos tiros de instrucção; neste caso a sua execução se approxima da destes ultimos. Quando se fôr obrigado a executar os tiros de preparação nos stands devem ser tomadas todas as precauções, afim de não tornar perigoso o terreno situado na retaguarda, e nos flancos do mesmo. Si, apesar das medidas de segurança, a fórma do terreno não afastar de todo o perigo para as circumvizinhanças, será preferivel reduzir a distancia e executar os tiros de preparação com menor desenvolvimento.
E’ terminantemente prohibido collocar os objectivos sobre parapeitos, podendo facilitar os ricochetes. Quando se executar o tiro de preparação em um stand, a largura do objectivo não deverá exceder á do alvo para o tiro á distancia de 400 metros. Em todos os casos, os objectivos serão collocados, como os alvos dos tiros de instrucção, acima do nivel do solo.
155. O terreno onde se deverão realizar os tiros de combate propriamente ditos será escolhido de modo a afastar todo o perigo para a vida e a propriedade dos visinhos. Deve-se sempre attender á natureza do solo, afim de que não se produzam accidentes devidos ao ricochete das balas. Durante o tiro toda a zona perigosa deve ser guardada, de modo a impedir que qualquer pessoa a circule. Chama-se zona perigosa a extensão de 4.000 metros no sentido do tiro e de 650 metros a partir dos flancos dos alvos exteriores. O director do tiro poderá reduzir as dimensões da zona perigosa, si as circumstancias locaes permittirem.
156. Os postos de segurança destinados a impedir o accesso da zona perigosa serão installados fóra da mesma. Alguns desses postos serão apenas de aviso, os outros funccionarão como verdadeiras guardas, competindo ao director do tiro fazer esta distincção.
O accesso da zona perigosa será impedida, mesmo por meio da força, a todas as pessoas que manifestamente não comprehenderem os avisos feitos, seja por ignorancia da lingua, seja por falta de comprehensão do perigo (será o caso das creanças e das pessoas atacadas das faculdades mentaes).
157. Os marcadores e os montadores dos alvos serão vigiados por um ou mais inferiores (em certos casos todos se acharão sob as ordens de um official). Si os marcadores não puderem ficar abrigados na visinhança dos alvos, dever-se-ha fazer com que elles se recolham ao logar occupado pelos atiradores. Antes do inicio do tiro verificar-se-ha si esse pessoal conhece precisamente o seu serviço.
TIROS DE PREPARAÇÃO
158. Estes tiros assignalam a transição entre os tiros de instrucção e os tiros de combate propriamente ditos. O seu fim capital é preparar o homem para exercer sua actividade de fogo como membro de uma fracção de tropa.
Os chefes das esquadras devem tambem nestes tiros aprender a utilizar o terreno para conduzir sua esquadra no combate, a emittir as ordens de fogo, a observar seus effeitos e a vigiar na linha de fogo a actividade de cada atirador em particular.
159. Nos tiros de preparação deve-se especialmente exigir:
Utilização do terreno para executar as operações de carregar e assestar a arma;
Collocação rapida e segura da alça;
Escolha do ponto de visada;
Cuidadoso e consciente disparo da arma;
Destresa para se levantar, executar um salto e tomar novamente a posição do tiro;
Exercicio da vista para reconhecer rapidamente os objectivos e batel-os immediatamente pelo fogo;
Saber modificar a intensidade de fogo;
Aproveitar rapida e decisivamente os momentos mais favoraveis para a efficacia do fogo;
Observar o objectivo, mesmo com o emprego do binoculo;
Estar sempre com a attenção voltada para a direcção do chefe e do inimigo;
Agir por iniciativa quando falhar a direcção de fogo.
161. Não é possivel dar instrucções precisas sobre o modo mais pratico e criterioso de organizar os exercicios de tiro de preparação.
Será preciso attender antes de tudo ás circumstancias locaes e ao tempo de que se dispuzer para realizal-os.
De um modo geral é de recommendar que nestes exercicios o instructor se occupe individualmente de cada homem, sem perder de vista que elle faz parte da esquadra. O instructor deverá observar em detalhe o modo de agir de cada atirador e attrahir a attenção deste para os erros commettidos. Poder-se-ha depois fazer com que varios homens atirem simultaneamente, não deixando, porém, de continuar a vigiar a execução das menores operações. Por este processo conseguir-se-ha pouco a pouco que os atiradores se habituem a agir em commum.
No caso em que os tiros de preparação tenham de ser executados nos stands (o que será sempre uma desvantagem), não será sufficiente fazer atirar em uma determinada posição de tiro contra um alvo fixo. É de recommendar para attingir o fim desses exercicios e tornal-os mais interessantes empregar alvos de quéda, fazer variar a grandeza dos objectivos, o processo de fogo e a velocidade do tiro; deve-se ainda collocar os homens sob o commando de um chefe de esquadra, que emittirá as ordens de fogo.
162. Quando os tiros de preparação se executarem nos stands de tiro não se deve nunca permittir que mais de dous homens atirem ao mesmo tempo. Os homens restantes da esquadra (ou pelo menos alguns destes) se collocarão ao lado dos atiradores, de modo a aproveitarem tambem das observações feitas pelo chefe e principalmente para se habituarem á observação dos pontos de quéda dos projectis.
Dado o caracter transitorio dos tiros de preparação, deve-se empregar, para os mesmos, alvos faceis de attingir. Ao lado de um conveniente emprego tactico do fogo e de uma execução cada vez mais perfeita do tiro, procurar-se-ha nestes exercicios augmentar a confiança do homem na perfeição da sua arma; para isto é indispensavel que o atirador tenha todas as probabilidades de attingir o alvo. Convém, pois, que os objectivos sejam collocados a distancias conhecidas e se facilite a observação dos effeitos do fogo (alvos de quéda).
164. Si os tiros de preparação se executam em condições de permittir o tiro simultaneo de varios atiradores, deve-se, ora collocar os alvos com intervallo sufficiente, para que cada atirador fique responsavel pelos effeitos a obter contra seu alvo particular, ora mais afastados um do outro, de modo a permittir a observação dos effeitos do feixe de balas contra o conjunto do objectivo.
Em qualquer dos casos acima referidos só se indicará o resultado do tiro quando todos os homens tiverem atirado.
TIROS DE ESQUADRA, DE PELOTÃO E DE COMPANHIA
165. O fim dos tiros de esquadra é enraizar nos homens a disciplina de fogo cujas primeiras noções foram inculcadas nos tiros de reparação, e ensinar aos chefes de esquadra seus deveres e responsabilidades de combate. Nos exercicios de tiro de esquadra os homens constituem já uma unidade do combate onde se procura reunir os esforços individuaes para um fim commum; mas, apesar disso, taes exercicios deverão ser executados de modo a permittir sempre observação particular da actividade de cada atirador. Como os graduados se acham em condições muito vantajosas para defender immediatamente as linhas de atiradores contra os effeitos desmoralizadores do fogo, os tiros de esquadras são os que se podem executar com mais cuidado, e que permittem uma melhor observação da conducta dos atiradores.
Os themas para os tiros de esquadra devem ser muito simples. Figurar-se-ha sempre que a esquadra faz parte de uma unidade superior representada pelos homens que não atiram. O chefe da esquadra será instruido a utilizar o terreno para conduzir sua fracção, a dar uma ordem de fogo, a cooperar na distribuição do fogo e na observação dos seus effeitos, a escolher a alça, a regular a intensidade do fogo e o consumo das munições, a transmittir as ordens e a julgar da occasião propicia para effectuar um salto.
Dada a escassez de cartuchos, não será sempre possivel nos tiros de esquadra variar os objectivos. O interesse desses tiros póde ser augmentado empregando alvos moveis e do eclipse. Na execução dos tiros de esquadra não se deve atirar além das pequenas distancias.
166. Nos tiros de pelotão os subalternos praticam a vencer, em condições approximando-se de um combate real, as difficuldades da direcção de fogo, que constituem seu principal dever de combate.
Ao mesmo tempo os tiros de pelotão permittem aperfeiçoar a instrucção dos chefes de esquadra e dá-lhes occasião de se exercitarem a combinar seus esforços e a secundarem judiciosamente o chefe do pelotão na direcção do fogo.
Nestes exercicios dever-se-ha tambem suppor situações tacticas muito simples e é de recommendar que os objectivos escolhidos sejam linhas de atiradores, pouco visiveis, a pequenas o médias distancias.
167. Nos tiros de companhias os chefes dessas unidades praticarão no modo de combinar a acção dos seus pelotões para attingir com segurança o fim do combate. Só dirigindo um exercicio de fogo real elles comprehenderão a difficuldade de manter sobre a tropa o ascendente moral quando as circumstancias do campo de batalha impõem a dispersão total da mesma ou a sua divisão em dous escalões de combate. Os chefes de pelotão, de esquadra e a tropa propriamente dita teem nestes exercicios occasião de praticar na direcção e disciplina de fogo em condições mais difficeis que anteriormente, devido á fatal mistura das fracções e á difficuldade da transmissão das ordens.
Para a execução dos tiros de companhia deve ser observado o que foi prescripto para os exercicios de tiro de unidades superiores. (Vide n. 148.)
TIRO DE EXAME
168. Os Commandantes de regimento inspeccionarão annualmente a instrucção da tiro do combate das companhias. Para esse fim cada companhia resolverá em presença do commandante do regimento um thema de tiro por este organizado.
Os tiros de exame das companhias se executarão de preferencia durante a permanencia das tropas nas praças de exercicio (campos de instrucção) e devem ser, si possivel, assistidos pelos commandantes de brigada. O relatorio dos tiros de exame (ver modelo n. 5) será remettido todos os annos, antes de 15 de novembro, ao chefe do Grande Estado Maior, por intermedio dos chefes das inspecções regionaes.
C – TIROS DE APPLICAÇÃO
169. Estes tiros teem por fim:
a) demonstrar a força de penetração da bala;
b) resolver certos problemas de tiro de guerra de companha e da guerra de sitio;
c) fazer applicação do tiro com alvo auxiliar.
Os tiros a que se referem as alineas a e b serão de preferencia executados no regimento ou mesmo na brigada, quando occorrer que os regimentos se reunam em uma mesma praça de exercicios, porque elles serão tanto mais instructivos quanto maior fôr o numero de cartuchos de que se dispuzer.
A tropa não deve ser exercitada na execução do tiro com alvo auxiliar. Este tem apenas por fim demonstrar aos officiaes e aos inferiores os processos a empregar neste caso;
DEMONSTRAÇÃO DA FORÇA DA PENETRAÇÃO DA BALA
170. Para este fim dever-se-ha atirar contra a terra, areia, terreno coberto de vegetação, terreno pantanoso, estrumado; contra as arvores, muros, ferro, etc. Do resultado destes tires os homens concluirão a espessura que devem possuir as obras de defesa para protegel-os contra os effeitos das balas inimigas.
171. Quando se atira contra corpos produzindo estilhaços perigosos é de recommendar que préviamente se os cubra com papelão ou panno recoberto de papel e que os marcadores evacuem os abrigos.
TIROS PARA RESOLVER CERTOS PROBLEMAS DA GUERRA DE CAMPANHA
172. Estes tiros teem especialmente por fim elucidar certas questões de tactica o de tiro de guerra, como por exemplo, a densidade das linhas de atiradores, a extensão dos saltos, a extensão da frente das fracções executando um salto, a marcha de rastros em comparação com a marcha por saltos, o reforço das linhas de atiradores pelas reservas, a influencia do vento sobre o feixe de balas, a distribuição do fogo sobre um objectivo estreito, a efficacia do fogo com a alça exacta em comparação com a efficacia do fogo feito com um pequeno erro de alça, a efficacia do fogo executado com uma só alça, comparada com a efficacia do fogo executado com duas alças, a efficacia do fogo feito contra uma faixa do terreno, etc.
TIROS PARA RESOLVER CERTOS PROBLEMAS DA GUERRA DE SITIO
173. Estes tiros serão em geral menos destinados ao immediato desenvolimento da instrucção de tiro que a dar á tropa uma noção das questões especiaes que ella terá de resolver na guerra de sitio.
TIRO DE DIA
174. Far-se-ha com que atiradores isolados, collocados em uma trincheira ou atrás de um parapeito, atirem a cerca de 200 metros contra alvos igualmente abrigados (atrás seteiras, chapas de aço, saccos de terra). A altura das setteiras deixando apparecer a figura do alvo será de 10 a 12 e a sua largura de cinco a oito centimetros.
Em alguns casos será bastante empregar como objectivos alvos da fórma, côr e dimensão das obras de defesa; as setteiras serão pintadas com uma côr mais escura.
Os visinhos do atirador observarão os resultados e os communicarão áquelle.
Esses exercicios teem por fim familiarizar os homens com as obras de defesa empregadas na guerra de sitio; mostrar-lhes sua influencia sobre o tiro e principalmente demonstrar-lhes como é importante observar e corrigir o tiro si se quer attingir um alvo de pequenas dimensões.
TIRO Á NOITE
175. Na guerra de sitio, quando se quer, durante a noite ou em um dia ennevoado, bater pelo fogo uma certa extensão do terreno, faz-se emprego de estativas ou de simples estacas, destinadas a dar á arma mais ou menos a direcção exacta do tiro e a fixal-a de modo a se poder conservar a mesma efficacia depois de uma longa duração do fogo.
176. A construcção e o emprego destes supportes serão simples, para que em caso de necessidade se os possa construir em pouco tempo e em grande quantidade com os materiaes correntes e tambem para que os homens em pouco tempo aprendam a utilizal-os.
177. Ao cahir da noite os homens installarão as armas sobre os supportes, effectuarão a pontaria e só quando a escuridão fôr completa, terá logar o tiro.
Os objectivos empregados representarão uma reunião de tropas de certa importancia collocada a distancias variando entre 200 e 700 metros.
TIRO COM ALVO AUXILIAR
<<ANEXO >>CLBR VOL. 01 ANO 1913 PÁG. 97 figuras 08 e 09
178. Si da posição desenfiada ab se deve bater pelo fogo o espaço A, que o inimigo tem de atravessar, é preciso apontar para c, ponto de intercessão das linhas ay e bx.
Para determinar o ponto c assim se procede: dous homens collocam-se em d e e, mais ou menos á distancia de 50 passos de ab e no alinhamento de ay e de bx; um terceiro homem marcha na direcção de A, faz meia volta e procura collocar-se ao mesmo tempo no alinhamento de ad e de be; quando esta posição estiver determinada, elle a assignala plantando no chão uma bandeirola que deverá ter o comprimento necessario para ser vista de todos os pontos da linha ab.
Se a alça foi bem determinada, todos os tiros partindo de ab na direcção de c cahem em A.
179. Para determinar a alça exacta colloca-se uma arma em um ponto qualquer da linha ab apoiada em um sacco de terra ou em um monte de terra e aponta-se com a alça de xy para um ponto da linha xy situado na direcção do ponto c. Dirige-se depois a linha de mira sobre c, sem mudar a posição da arma mas apenas modificando a altura da alça. Para atirar aponta-se para o ponto c com a alça assim obtida. Se os pontos a, c e y se acham na mesma altura, esta alça deferirá pouco da alça correspondente á linha xy.
Quando não se puder collocar a arma na altura necessaria para visar o ponto y, a pontaria em direcção será feita approximadamente atrás da massa cobridora e sem fazer conta da mesma.
180. A figura 9 representa o processo a empregar para da posição desenfiada ab bater pelo fogo varias zonas do terreno. As bandeirolas c, d e e devem se achar sufficientemente separadas para não serem confundidas. Quando se quizer empregar a mesma alça para atirar contra A, B e C procedo-se de modo seguinte: por exemplo, determina-se primeiro a alça correspondente a A, como foi descripto no n. 178, e depois collocam-se as outras bandeirolas de modo que a alça empregada contra A sirva tambem contra B e C.
181. Si se quer atirar á noite com o alvo auxiliar, devem se empregar bandeirolas de certa dimensão pintadas de branco. E’ preciso que certas bandeirolas sejam bem visiveis; so fôr necessario, poder-se-ha assentar uma lanterna junto ás mesmas, a qual será encoberta por um movimento de terra, para não attrahir a attenção do inimigo.
III – AVALIAÇÃO DAS DISTANCIAS
182. A efficacia do fogo depende em primeiro logar do conhecimento da distancia.
Em geral, a distancia é avaliada á vista (apreciação da distancia) ou medida com auxilio de instrumentos. Chamam-se pequenas distancias as que são inferiores a 800 metros; distancias médias, as comprehendidas entre 800 e 1.200 metros;
183. Os exercicios de apreciação de distancia serão feitos em terreno variado, aproveitando os pontos notaveis do terreno, ou mandando collocar, a distancias conhecidas do instructor, alvos vivos, como homens de pé, de joelhos e deitados, ou alvos representando os objectivos do campo de batalha, como atiradores, peças de artilharia, cavalleiros, metralhadoras, etc. Depois que esta instrucção adquirir um certo andamento, convem que os homens se exercitem a apreciar as distancias na posição de tiro que realmente occupariam no campo de batalha.
Em todos os exercicios de combate e de tiro deve-se attribuir a maior importancia á habilidade da tropa para apreciar a distancia e actividade dos homens encarregados dos telemetros.
E’ indispensavel que os officiaes, os inferiores e todas as praças da companhia adquiram a aptidão necessaria para apreciar as distancias á vista.
APRECIADORES DE DISTANCIA
184. Os officiaes, os inferiores e no minimo oito homens por companhia devem saber apreciar á vista, com rapidez o segurança, todas as distancias a que a infantaria deve atirar no campo de batalha.
Os homens restantes da companhia apenas serão instruidos na apreciação á vista das pequenas distancias.
185. Os exercicios de apreciação de distancias devem começar logo depois da incorporação dos recrutas e continuarão a se realizar durante todo o tempo do serviço militar.
186. Para apreciar a distancia á vista deve-se medir com o olhos no terreno toda a extensão que separa o apreciador do alvo. O gráo de exactidão de uma distancia apreciada depende do gráo de nitidez do alvo.
Independentemente da fórma do terreno, é preciso attender na apreciação das distancias as condições de luz e de tempo, a hora da observação o as dimensões do alvo.
Em geral se commette um erro para menos na apreciação da distancia quando o sol brilho muito forte, quando há muita luz, quando se tem o sol pelas costas, quando o alvo se destaca em um fundo claro, quando o solo é muito unido, quando se tem de apreciar a distancia sobre a superficie das aguas ou quando o terreno é ondulado e certas variações do mesmo escapam á vista; commette-se sempre erro para mais quando faz muito calor, quando o alvo se destaca em um fundo sombrio, quando se dá a frente para o sol, quando se tem de apreciar distancias nas proximidades dos bosques e quando só uma parte do objectivo é visivel.
187. Todos os homens da companhia devem se familiarizar com as distancias inferiores a 400 metros. Para este fim far-se-ha, plantar bandeirolas, em differentes cias direcções a 200, 300 e 400 metros; os homens gravarão na memoria estas distancias. Para verificar a efficacia deste meio e a habilidade adquirida, o instructor mandará um homem caminhar até um ponto do terreno situado a uma distancia determinada, ou designar objectos situados a uma dada distancia.
188. Si a distancia a apreciar for muito grande, convirá proceder parcialmente dividindo a mesma em duas partes iguaes ou fraccionando-a de accôrdo com os pontos notaveis do terreno; a avaliação de cada parte será feita tomando para base as extensões com que os homens estiverem mais familiarizados.
Muitas vezes a distancia a apreciar poderá ficar comprehendida entre uma apreciação maxima e uma apreciação minima; neste caso, dever-se-ha adoptar a média das duas apreciações.
189. Quando certas partes do terreno adeante do objectivo escaparem á vista, ou quando se tiver de apreciar a distancia em um terreno mais ou menos plano, extenso e uniforme, é de recommendar que se transporte pelo pensamento a distancia em questão a uma linha lateralmente situada, como por exemplo, uma fileira de arvores, a orla de um bosque, etc.
E’ tambem de recommendar que se façam exercicios para a apreciação de distancias cuja origem não coincide com a estação do observador.
190. Antes ou depois do exercicio deve-se verificar com um telemetro, uma corda ou a passo a distancia exacta dos differentes objectivos. Os homens devem ser informados, depois de terminado o exercicio, do resultado desta medida, afim de que possam julgar do valor de suas apreciações. E’ conveniente que o instructor se informe como procedeu cada homem para apreciar a distancia.
Todos os homens precisam estar em condições de medir a passo com toda a exactidão as pequenas distancias. Para este fim se deverão realizar repetidos exercicios em terreno variado, afim de que cada homem rectifique o seu passo e saiba com segurança com quantos passos elle póde percorrer uma distancia de 100 metros.
INSTRUCÇÃO DOS TELEMETRISTAS
191. Um telemetro funccionando bem e manejado com pericia constitue um valioso auxilio para a determinação da distancia, quer na offensiva, quer na defensiva. Na offensiva elle permittirá, aquem da zona efficaz do fogo inimigo, determinar a distancia existente entre a posição a bater e o ponto de onde se quer abrir o fogo.
192. O telemetro de inversão de 70 centimetros do base (Zeiss ou Goerz) é sufficiente para medir com certa exactidão as distancias de tiro da infantaria e possue ainda a vantagem de ser um excellente binoculo para a observação detalhada do terreno e do inimigo, antes e durante o combate. Este telemetro póde acompanhar sempre o chefe da companhia, mesmo quando esta estiver estendida em atiradores.
193. A instrucção para a medida das distancias com o telemetro será dada no batalhão por um official do mesmo, que conheça perfeitamente o principio, o manejo e o emprego do instrumento.
194. Terminada a instrucção dos recrutas, cada companhia designará dous homens da classe mais moderna que, a juizo do chefe da companhia, deverão ser especialmente instruidos como telemetristas.
A instrucção dos telemetristas será continuada durante todo o tempo do serviço militar dos mesmos, afim de que se possa contar sempre com um pessoal numeroso instruido no manejo dos telemetros.
195. Em cada companhia deverá existir pelo menos um inferior conhecendo perfeitamente o manejo do telemetro. Da instrucção destes inferiores se encarregará tambem o official do batalhão instructor dos telemetristas.
196. Quando os homens que foram instruidos como telemetristas passarem do serviço activo para a reserva, será mencionada nas suas cadernetas a natureza do telemetro que elles aprenderam a manejar.
197. O commandante do regimento é responsavel de que existam por batalhão ao menos dous officiaes conhecendo perfeitamente os telemetros em serviço no corpo.
198. Annualmente os commandantes de batalhão inspeccionarão, ao menos uma vez, a instrucção dos telemetristas. Os pontos capitaes desta inspecção serão os seguintes:
Descripção do telemetro;
Sua verificação e regulação;
Seu modo de transporte;
Limpeza e medidas de conservação;
Medida pratica de distancias superiores a 700 metros.
RECOMPENSAS DE TIRO
DISTINCTIVOS
199. Os regimentos distribuirão distinctivos ás praças e aos inferiores que tiverem obtido os melhores resultados nos tiros de instrucção. Estes distinctivos serão conferidos por companhias:
Aos tres primeiros atiradores da classe especial de tiro;
Aos seis primeiros atiradores da primeira classe de tiro.
Aos cinco primeiros atiradores da segunda classe de tiro.
O modelo destes distinctivos e o modo de usal-os serão regulamentados pelo Ministerio da Guerra.
200. Os distinctivos de tiro só serão conferidos nos homens que executarem todos os exercicios da sua classe de tiro a distancias regulamentares e obtiverem os resultados exigidos. Para conferir os distinctivos de tiro tomar-se-ha por base o numero de balas atiradas, o numero de empates e finalmente o total de pontos obtidos. Quando dous ou mais atiradores obtiverem o mesmo resultado, compete ao chefe da companhia decidir da sua classificação, podendo o mesmo para este fim ordenar um tiro de desempate.
201. O chefe do regimento entregará aos homens premiados um attestado do distinctivo de tiro que lhes foi conferido. No livro matricula do corpo, na guia e na caderneta do reservista será mencionada a recompensa de tiro que cada um conquistou.
Por occasião da passagem á reserva ou da baixa, os distinctivos de tiro tornar-se-hão propriedade das praças e dos inferiores e estes deverão usal-os durante os periodos de instrucção, ou quando eventualmente voltarem ao serviço.
PREMIO DE HONRA
202. Annualmente terá logar em todas as regiões de inspecção um concurso de tiro entre os officiaes e outro entre os inferiores. O melhor atirador entre os officiaes receberá uma espada e entre os inferiores um relogio de bolso. Estes premios serão conferidos em nome do Presidente da Republica.
203. O concurso de tiro entre officiaes e entre inferiores para o premio de honra se executará dentro de cada regimento em época determinada pelo seu commandante, mas de preferencia na melhor estação do anno. Para escolha do dia do concurso dever-se-ha attender ás condições de tempo mais favoraveis.
Uma vez começado o tiro de concurso, este só será interrompido por motivo superior, a juizo do commandante do regimento.
204. São obrigados a tomar parte no concurso para o premio de honra todos os primeiros, segundos tenentes e aspirantes do corpo e bem assim todos os inferiores que se acharem presentes na guarnição, no dia do tiro, salvo si disso forem impedidos por um serviço inadiavel ou por molestia.
205. Os officiaes que obtiverem um premio de honra não poderão concorrer ao mesmo nos annos seguintes (vide n. 202).
206. O alvo empregado para concurso será o alvo de zonas circulares com 24 zonas; o raio do circulo interior (numerado 24) será do 25 m|m; os raios augmentarão de 25 m|m; de um circulo para outro.
As armas e as munições empregadas pertencerão ao corpo.
As condições do concurso serão as seguintes:
distancia – 150 metros,
numero do tiros – 7,
posição de tiro – os tres primeiros tiros serão feitos na posição da atirador deitado com e arma não apoiada e os quatro ultimos na posição de atirador deitado com a arma apoiada.
Os atiradores no concurso para o premio de honra poderão ter o direito a um cartucho para executarem com sua arma tiro de ensaio.
207. Só será conferido o premio de honra ao atirador que tiver obtido no minimo 140 pontos. Quando dous ou mais atiradores tiverem obtido o mesmo numero de pontos, elles serão classificados segundo a resultado do ultimo tiro; se este ainda fôr igual, ao penultimo, e assim por deante.
208. Os commandantes de regimento enviarão aos generaes chefes das regiões do inspecção o nome e o resultado do official e do inferior que obtiveram o primeiro logar no concurso feito no regimento. Os chefes das regiões de inspecção, depois de terem recebido o resultado dos concursos feitos em todos os regimentos, communicarão ao Ministro da Guerra, antes de 15 de novembro, o nome do melhor atirador da região (official e inferior).
209. O premio de honra para official e inferior será remettido directamente ao regimento pelo Ministro da Guerra, e sua entrega será feita com toda a solemnidade, em presença do corpo de officiaes.
PREMIOS DE TIRO
210. Cada batalhão de infantaria de linha ou de caçadores disporá annualmente da quantia de 100$, destinada a acquisição de premios de tiro. Esta quantia será dividida em tres ou quatro partes iguaes e distribuida entre o corpo de inferiores do batalhão e de cada uma das companhias.
As quantias em dinheiro serão destinadas exclusivamente á acquisição de premios de tiro, que terão caracter de uma lembrança e serão munidos de uma inscripção.
A distribuição de premios de tiro em dinheiro é expressamente prohibida.
211. O concurso de tiro para obtenção destes premios terá logar na melhor estação do anno. As praças e os infferiores effectuarão os tiros de concurso nas suas companhias; a clasficação dos atiradores e a distribuição dos premios serão feitas pelos chefes de companhia.
212. O tiro de concurso será feito á distancia do 150 metros, na posição de atirador deitado com a arma não apoiada; o alvo a empregar será o descripto no numero 206 e os atiradores farão tres tiros.
Para classificar os atiradores tomar-se-ha por base o numero total de empates obtidos. Quando dous ou mais atiradores tiverem obtido o mesmo resultado, far-se-ha a classificação segundo o valor do ultimo tiro; si o resultado deste ainda fôr o mesmo, pelo do penultimo, e assim por deante. Si o resultado dos tres tiros fôr o mesmo, far-se-ha um quarto tiro para desempate.
V – ALVOS E MUNIÇÕES
ALVOS
213. Os alvos a empregar nos tiros de instrucção serão de papelão ou de panno, recorbertos de papel, com molduras de madeira. Os alvos de papelão tambem poderão ser recobertos de papel, mas essa medida só é obrigatoria para os alvos de panno.
214. O alvo de zonas circulares (vide figura 10) terá uma altura de 1m,70 e uma largura de 1m,20 e conterá 12 circulos concentricos numerados de 1 a 12, partindo do circulo exterior. O raio do circulo inferior (n. 12) será de cinco centimetros; os raios augmentarão de cinco centimetros de um circulo a outro. As zonas nemeradas 10 e 11 serão pintadas de preto e constituirão com a zona 12 o espelho do alvo.
CLBR ANO 1913 VOL. I PÁG. 104 Figura 10
215. O alvo de zonas circulares com silhueta terá as mesmas dimensões e o mesmo numero de circulos que o alvo de zonas (vide figura 11).
O alvo será pintado de cinzento claro, o rosto da silhueta de vermelho escuro, a cabeça e o busto de listras alternativamente cinzentas e vermelhas.
A silhueta será pregada no meio do alvo, de sorte que a sua linha média coincida com o raio vertical do mesmo; em altura a silhueta não deve exceder o circulo numerado 10.
216. A figura 12 representa o alvo para o tiro de instrucção de 400 metros; este será pintaddo de cinzento, tendo a altura de 1m,70 e a largura de dous metros.
Sobre a superficie do alvo e com intervallo de 25 centimetros serão traçadas tres silhuetas de homem deitado; a linha inferior das silhuetas achar-se-ha a 60 centimetros acima da borda inferior do alvo. Duas linhas vermelhas e horizontaes, apenas visiveis para os marcadores, dividirão o alvo em tres zonas. O rectangulo inscripto na zona 3 será tambem traçado com tinta vermelha.
CLBR ANO 1913 VOL. I PÁG. 105 FIGURA 11 E 12
Toda bala que attingir este rectangulo valerá por tres pontos; a que attingir a zona central, por dous e a que attingir as zonas exteriores, por um ponto (vide figura 12).
MUNIÇÕES
217. Os batalhões de infantaria receberão annualmente uma quantidade de cartuchos compativel com o effectivo provavel das companhias e a execução dos tiros do presente regulamento.
A quantidade de cartuchos para cada batalhão será estabelecida de sorte que cada companhia disponha annualmente de:
60 cartuchos por homem para os tiros de instrucção;
20 cartuchos por homem para os tiros de preparação;
250 cartuchos por homem para os tiros de grupo, de pelotão, de companhia e tiros de exame.
218. Além dos cartuchos acima especificados o commandante do batalhão disporá de um excedente para a execução dos tiros de animação e concursos de tiro dos homens, dos inferiores e dos officiaes.
219. A' disposição immediata do commandante do regimento existirão, pelo menos em cada corpo de infantaria, 20 cartuchos por homem para as inspecções de tiro que elle houver por bem ordenar.
220. Toda economia de cartuchos feita nos tiros de instrucção será empregada pelo chefe da companhia para aperfeiçoamento da mesma (vide ns. 74 e 90).
Não se deve esperar economias nos cartuchos destinados aos tiros de guerra, mas si estas occorrerem e forem previstas a tempo deverão ser consumidas no correr do anno nos proprios tiros de combate. As economias de cartuchos destinados aos tiros do combate que forem verificadas no fim do anno de tiro deverão constituir uma reserva para os tiros de combáte do anno seguinte.
VI – ESCRIPTURAÇÃO DO TIRO
221. O livro de tiro da companhia conterá:
1º, uma lista por ordem alphabetica de todos os militares da companhia (1os e 2os tenentes, aspirantes, inferiores e praças);
2º, um registro das armas por ordem numerica com o nome do detentor, a indicação da pagina do livro onde estão registrados o resultado de seus tiros e uma columna de observações;
3º, um mappa indicando os dias de tiro e as munições consumidas (vide modelo n. 1);
4º, as folhas de tiro de todos os militares da companhia, por posto e por ordem alphabetica (vide modelo n. 2);
5º, a cópia do relatorio de tiro do chefe da companhia (vide modelos ns. 3 e 4).
O livro de tiro da companhia deve sempre se achar em dia, e da sua escripturação será encarregado um inferior; elle será renovado todos os annos e suas folhas rubricadas pelo chefe da companhia.
Os livros de tiro serão conservados nas companhias durante tres annos.
222. O modo de indicar os resultados de tiro será o seguinte:
1. Nos tiros contra os alvos de zonas com ou sem silhueta, as balas que attingirem uma zona serão registradas com o numero da zona (1 a 12); as balas que attingirem o alvo fóra das zonas serão designadas com o signal (+).
2. Nos tiros á distancia de 400 metros as balas que attingirem o rectangulo central contarão por 3; as que attingirem a zona do meio, fóra do rectangulo, por 2 e as outras por 1.
3. Nos tiros de verificação das armas as balas que attingirem o rectangulo são registradas com a lettra F e as que cahirem fóra do rectangulo com o signal X.
4. Nos tiros contra alvos representando figuras as balas que attingirem as figuras serão assignaladas pela lettra F.
5. Em todos os tiros as balas que não attingirem o alvo serão assignaladas por um O; o signal ∞ indicará um ricechete que attingir o alvo.
A posição exacta do ponto de empate será indicada do modo seguinte:
+ . .9 .9 6. 3.
Todos os resultados de um mesmo tiro serão inscriptos na mesma linha, um em seguida ao outro.
223. Nos tiros de instrucção os resultados serão registrados no proprio stand em um caderno que servirá de borrão para o livro de tiro da companhia.
Os resultados dos tiros de combate serão registrados em cadernos especiaes (vide n. 152).
224. A caderneta de tiro que cada homem deverá possuir será de um formato pratico e conterá:
1º, indicações sobre o fuzil com o grupamento do ultimo tiro de verificação;
2º, resultado dos tiros, copiado do livro de tiro da companhia;
3º, desenho dos alvos dos tiros de instrucção, com a posição dos pontos de empate.
A caderneta de tiro fica em poder de cada homem, que deverá trazel-a comsigo em todos os exercicios de tiro de instrucção. Nestes tiros de instrucção os resultados serão assignalados na caderneta logo após cada exercicio.
225. O exame dos livros de tiro permittirá acompanhar a marcha e os progressos da instrucção de cada companhia. E’ terminantemente prohibido pedir cópias dos livros de tiros das companhias para julgar do gráo de instrucção das mesmas, só pelo numero de cartuchos consumidos e pelos resultados obtidos (vide n. 28).
RELATORIOS DE TIRO
226. Quinze dias depois da conclusão do anno de tiro, os chefes de companhia apresentarão aos commandantes de batalhão um relatorio annual de tiro, segundo os modelos ns. 3 e 4.
227. O relatorio de tiro do commandante do batalhão será organizado de accôrdo com o modelo n. 4.
O commandante do regimento remetterá com seu relatorio dos tiros de exame (vide modelo n. 5) os relatorios dos commandantes de batalhão, annualmente, antes de 30 de janeiro, ao commandante da brigada, e este aos inspectores; as unidades que não fizerem parte de brigadas enviarão os relatorios aos inspectores. Os relatorios de tiro dos chefes de companhia ficarão no regimento, emquanto não forem requisitados pelas autoridades.
VII – VERIFICAÇÃO DAS ARMAS E MUNIÇÕES
VERIFICAÇÃO DAS ARMAS
228. Para verificar a justeza das armas dever-se-ha atirar:
1º, com todos os fuzis e mosquetões que pertencerem á companhia, antes do inicio do anno de tiro e em seguida á limpeza geral do amamento, que terá logar immediatamente após as manobras annuaes;
2º, com todas as armas novas;
3º, com todas as armas que estiverem em reparo, depois de sua volta á companhia e antes de serem dadas novamente ao serviço.
229. A data e o resultado do tiro de verificação serão mencionados na columna de observações do registro das armas (vide alinea segunda do n. 221), si a verificação teve logar antes do inicio dos tiros de instrucção (vide alinea primeira do n. 228), si a verificação teve logar no correr dos tiros de instrucção; a data e o resultado figurarão na columna de observações da folha de tiro correspondente (vide alinea quarta do n. 221).
230. A verificação das armas terá logar em condições de tempo as mais favoraveis e o tiro deverá ser feito por um inferior ou uma simples praça da companhia que inspire toda confiança como atirador eximio. Um official deverá sempre assistir á verificação das armas. Evitar-se-ha de precipitar a operação e de fatigar o atirador.
231. O tiro de verificação se fará á distancia de 150 metros. O atirador sentar-se-ha para atirar e o cano da arma ficará apoiado em um sacco de terra collocado sobre a mesa de pontaria.
O alvo a empregar-se para o fuzil M|1908 será o representado pela figura n. 13 e para o mosquetão M|1908 o representado pela figura n. 14.
FUZIL M/1908
Alvo para tiro de verificação á distancia de 150 metros
CLBR ANO 1913 VOL. I PÁG. 109 FIGURA 13
A alça a empregar para o fuzil será 300 e para o mosquetão 200 metros. O ponto de visada será a borda inferior do espelho.
E’ expressamente prohibido faser um tiro de verificação das armas a distancias superiores a 150 metros. (Vide observação do n. 24.)
232. A verificação das armas se fará com tres tiros, um em seguida ao outro, sem o levantamento intermediario dos resultados parciaes. Os resultados do tiro serão levantados depois de concluida a serie e assignalados em um diagramma representando o alvo na escala de 1|10.
Estes diagrammas serão conservados na companhia durante dous annos; elles deverão ser apresentados nas inspecções de armamento, quando a pessoa encarregada das mesmas os requisitar.
MOSQUETÃO M/1908
Alvo para tiro de verificação á distancia de 150 metros
<<ANEXO>> CLBR ANO 1913 VOL. I PÁG. 110 FIGURA 14
233. Uma arma deverá ser considerada justa quando as tres balas cahirem no interior do rectangulo e quando o afastamento entre os empates extremos, quer vertical, quer horizontal, não exceder de 20 centimetros, si se tratar do fuzil e de 25 centimetros, si do mosquetão, ambos do modelo, 1908.
234. Si o official que assistir ao tiro de verificação constatar que o atirador commetteu um erro, ou que, de modo geral, influencias estranhas á arma concorreram para o máo resultado do tiro, o chefe da companhia poderá ordenar uma segunda pesquiza.
Será um erro repetir os tiros de verificação de uma arma sem justesa até obter um grupamento correspondente ás condições exigidas; este resultado, si for alcançado, será obra do acaso e não modificará de fórma alguma o juizo feito sobre a arma em questão.
235. As armas que não estiverem justas serão enviadas, com os diagrammas dos tiros de verificação, directamente pelos commandantes de corpos aos arsenaes ou officinas de reparação de armas da região.
236. As armas que nos tiros de verificação derem logar a empates, ovaes, mesmo si os grupamentos obtidos corresponderem ás condições estabelecidas no n. 235, terão o destino indicado no n. 235.
237. E' terminantemente prohibido atirar nos tiros de instrucção com armas sem justesa.
VERIFICAÇÃO DOS CARTUCHOS DE GUERRA
238. Quando em um regimento de infantaria se verificar defeitos nos cartuchos que façam duvidar da possibilidade de continuar a utilizar a munição existente sem prejuizo para a instrucção, o commandante nomeará uma commissão encarregada de verificar o estado da mesma.
239. Esta verificacão terá logar si no correr dos exercicios de tiro os factos seguintes se tiverem reproduzido:
1º, falhas de cartucho;
2º, retardos de deflagração (o golpe do percussor não é seguido da denotação; esta se produz depois de um apreciavel intervallo de tempo;
3º, escapamento de gazes de polvora, incommodando ou ferindo os atiradores;
4º, cartuchos que não puderem ser introduzidos na camara.
240. Si outros defeitos forem observados, será preciso pedir autorização ao Ministerio da Guerra para effectuar a verificação da munição.
241. A verificação da munição só attingirá o lote a que pertencerem os cartuchos que tiverem apresentado os defeitos acima referidos.
Entende-se por lote o conjuncto de cartuchos oriundos de uma mesma fabrica e confeccionados com uma mesma polvora.
As indicações relativas a cada lote figuram nos cunhetes e nas caixetas contendo os cartuchos de guerra.
242. A commissão encarregada de verificar os cartuchos compor-se-ha de um capitão, um 1º tenente e um 2º tenente. A disposição da commissão achar-se-hão cinco atiradores munidos de suas respectivas armas.
As armas serão previamente examinadas pela commissão, que julgará do modo de funccionamento do ferrolho e verificará a estado de conservação da camara (ferrugem, etc.), as molas do percussor serão substituidas por molas novas, pertencentes ás peças de sobresalente que o corpo possuir.
243. Da sessão de verificação lavrar-se-ha uma acta na qual serão mencionados o motivo que determinou a reunião da commissão, o lote de cartuchos verificado, o numero de matricula das armas e os resultados obtidos (vide modelo n. 6).
244. A commissão emittirá seu parecer sobre o valor dos cartuchos, limitando-se a declaral-os utilizaveis ou não utilizaveis. Este parecer será baseado nas indicações mencionadas no numero 245.
245. Para verificação dos defeitos mencionados no numero 236, a commissão fará disparar 1.000 cartuchos (200 em cada fuzil) a uma distancia de 50 metros da trincheira do stand de tiro.
Depois de cada série de 50 tiros far-se-ha passar agua no cano dos fuzis para resfrial-os e em seguida se os fará enxugar com uma vareta envolvida em estopa.
Para verificação das falhas ver o numero 85.
Si na verificação dos retardos de deflagração occorrer falhas, o ferrolho só será aberto 10 segundos depois da pancada do percussor.
Si se tratar de examinar os cartuchos no ponto de vista do escapamento de gazes da polvora, dever-se-ha attender que estes só se poderão produzir devido a fendas no corpo do estojo, ao deslocamento das capsulas ou ao repuzamento das bigornas. A verificação terá por fim determinar qual desses defeitos dá logar á cuspidella de gazes e constatar com toda a segurança si esta incommoda ou fere o atirador. Para evitar enganos, o ferrolho só será aberto tres segundos depois da partida do tiro.
O parecer da commissão será baseado sobre o conjuncto dos resultados obtidos com os cinco armas.
O lote de cartuchos será considerado inutilizavel:
1º, quando as falhas ou retardos de deflagração forem na razão de 2 %;
2º, quando as fendas do estojo, o deslocamento de capsulas ou repuxamento de bigornas forem na razão de 2 %, sob a condição de que taes defeitos deem logar a um escapamento de gazes, podendo incommodar ou ferir os atiradores;
3º, quando varios destes defeitos reunidos occorrem na razão de 3%.
246. Verificar-se-ha o calibre dos cartuchos, introduzindo, com a bocca da arma voltada para a trincheira de tiro, 100 cartuchos em cada arma e procedendo como foi indicado no numero 86. Si a quantidade de cartuchos que não podem ser introduzidos exceder de 2%, o lote será consideardo inutilizavel.
247. Quando os cartuchos forem julgados inutilizaveis pela comimssão, enviar-se-hão ao chefe da região da inspecção a que pertencer o corpo:
a) a acta da sessão de verificação;
b) um cunhete de cartuchos do lote verificado;
c) uma relação dos cartuchos do mencionado lote existentes na carga do corpo.
Si em virtude dos defeitos verificados nos cartuchos o corpo vier a soffrer falta de munição, o seu commandante requisitará ao chefe da região de inspecção a substituição immediata da munição inutilizavel.
Rio de Janeiro, 8 de janeiro de 1913. – Vespasiano Gonçalves de Albuquerque e Silva.
APPENDICE
Distancias em metros percorridas pela tropa em marcha durante o trajecto, no ar, da bala S, de 9 grammas
DISTANCIAS |
TROPAS A PÉ |
TROPAS MONTADAS | |||
A passo (100 metros por minuto) | A passo accelerado (150 metros por minuto) | A tropa (250 metros por minuto) | A galope (400 metros por minuto | A galope de carga (600 metros por minuto) | |
100 ................................................................. | 0,2 | 0,3 | 0,5 | 0,7 | 1,1 |
200 ................................................................. | 0,4 | 0,6 | 1,0 | 1,5 | 2,6 |
300 ................................................................. | 0,6 | 0,9 | 1,5 | 2,4 | 3,3 |
400 ................................................................. | 0,8 | 1,2 | 2,1 | 3,3 | 5,0 |
500 ................................................................. | 1,1 | 1,7 | 2,8 | 4,4 | 6,6 |
600 ................................................................. | 1,4 | 2,1 | 3,5 | 5,5 | 8,3 |
700 ................................................................. | 1,7 | 2,6 | 4,3 | 6,8 | 10,2 |
800 ................................................................. | 2,1 | 3,1 | 5,1 | 8,2 | 12,3 |
900 ................................................................. | 2,5 | 3,7 | 6,1 | 9,8 | 14,7 |
1.000 .............................................................. | 3,9 | 4,3 | 7,2 | 11,5 | 17,3 |
1.100 .............................................................. | 3,4 | 5,1 | 8,4 | 13,5 | 20,2 |
1.200 .............................................................. | 3,9 | 5,8 | 9,7 | 15,5 | 23,3 |