DECRETO N. 13.684 – DE 9 DE JULHO DE 1919
Approva o regulamento para o manejo e emprego das armas brancas de cavallaria
O Vice-Presidente da Republica dos Estados Unidos do Brasil, em exercicio, usando da attribuição que lhe confere o art. 48, n. 1, da Constituição, resolve approvar o regulamento para o manejo e emprego das armas brancas de cavallaria, que com este baixa, assignado pelo general de brigada Alberto Cardoso de Aguiar, ministro de Estado da Guerra.
Rio de Janeiro, 9 de julho de 1919, 98º da Independencia e 31º da Republica.
DELFIM MOREIRA DA COSTA RIBEIRO.
Alberto Cardoso de Aguiar.
Regulamento para manejo e emprego das armas brancas de cavallaria
LANÇA
OBSERVAÇÃO PRELIMINAR
A preparação cuidadosa e ininterrupta da cavallaria no emprego da lança, é condição essencial ao feliz exito da applicação desta arma no momento opportuno. Para a consecução desse elevado gráo de treinamento, e, ao mesmo tempo, de uma direcção, dos exercicios, torna-se indispensavel que a lança não tenha segredos para os officiaes e que, portanto, todos elles estejam familiarizados com seu uso.
A pratica demonstra que é grande erro didactico exigir o instructor de qualquer alumno um esforço que elle instructor não é capaz de fazer ou que, pelo menos, nunca tentou avalizar por si mesmo. Cabe a todo official que instrue conhecer a fundo os regulamentos, e exercitar-lhes os preceitos, afim de poder deante da tropa ensinar com honestidade e commandar com vontade de ser obedecido. Compete-lhe, em uma palavra, ser modesto de seus subordinados. Muitas vezes a difficuldade encontrada por um recruta na execução de um preceito regulamentar desapparece instantaneamente com o só auxilio de um bom exemplo e o valor deste sobe de ponto quando ministrado por um official.
Urge, pois, que os officiaes se dediquem ao manejo e emprego das armas com o mesmo afinco e interesse com que se dedicam á equitação.
I PARTE
A) NOMENCLATURA DA LANÇA
1. A lança compõe-se de pronta, haste e conto.
Nella se encontram: o fiador de couro, preso por um nó pouco acima do annel superior e por uma das extremidades, emquanto a outra fica frouxa, de modo que possa correr livremente: o punho de cautechú, com dous anneis; dous pequenos pinos com orificios para prender a bandeirola, e a bandeirola com cordões, que servem para prendel-a á lança.
O comprimento total desta arma é de 2m,80 e seu peso de 2kg,065. Chama-se parte anterior a que vae do annel superior á ponta e parte posterior a comprehendida entre o annel inferior e o conto.
2. O nó do fiador deve ser bastante apertado para que não passe por cima do annel e não saia de seu logar com os movimentos da arma.
3. É prohibido o uso de botões de madeira, ou outros meios de protecção, nas pontas das lanças, tanto a cavallo como a pé, a não ser para exercicios de combate individual. Os soldados devem habilitar-se a manejar a arma tal como será empregada.
4. No combate individual, porém, convem usar uma lança de molas de aço com aquelles dispositivos, e que cedam quanto se toca com sua extremidade em um corpo qualquer.
B) ESCLARECIMENTOS DE ALGUMAS EXPRESSÕES
5. Diz-se que a mão empunha a lança na posição directa quando do indicador e o pollegar ficam dirigidos para a ponta e o dedo minimo para o conto. Sob este ponto de vista é indifferente que o pollegar se conserve por cima da lança ou do lado de fóra.
Diz-se que a mão empunha a lança na posição inversa quando o indicador e o o pollegar se acham voltados para o conto e o dedo minimo para a ponta da lança.
Inverter a posição da mão é passar de uma posição á outra.
6. Faz-se esta inversão de tres maneiras: girando a lança em torno do punho, de cima para baixo; arremessando-a de baixo para cima; ou apoiando-a na forquilha.
Chama-se forquilha o angulo formado pelo indicador e o pollegar da mão que tem as rédeas.
Não se aconselha, por pouco pratica, a passagem da posição inversa á directa pelo arremesso da lança.
II PARTE
A) POSIÇÃO COM A LANÇA A PÉ
7. Perfilar lanças! – Colloca-se a lança na vertical ao lado direito, com o conto apoiado no solo junto ao pé direito, e segura-se a mesma sem esforço com a mão direita cahida naturalmente. O braço fica estendido de maneira que o pollegar se conserve entre a lança e o corpo, e os outros dedos esticados do lado de fóra.
Esta posição é a da escola a pé, quando passada em revista. A voz descançar, a arma permanece na mesma posição.
8. Para marchar, cada soldado, á respectiva voz de commando, leva a mão direita com a parte posterior da lança a dous palmos ou menos á frente do corpo, descançando a arma sobre o hombro direito. Esta posição é conservada em marcha mesmo quando são dadas as vozes: A vontade, sentido, ou olhar á direita ou esquerda: Quando, porém, a tropa faz alto, toma a posição de Perfilar lanças.
9. Para as conversões individuaes, estando parado, o soldado levanta a lança meio palmo do chão, sem voz de commando. Ao fazer alto, toma a posição de Perfilar lanças. Nas conversões individuaes em marcha põe a lança na vertical com auxilio da mão esquerda, durante o tempo da conversão.
10. Em guarda! – A mão direita empunha a lança, segurando-a na posição directa pelo punho, baixando a ponta até a horizontal, emquanto o pé direito se afasta do esquerdo á distancia de um passo para a direita. A parte posterior da arma fica unida ao ante-braço direito e presa entre o cotovello e o corpo. O instructor prestará attenção para que esta posição horizontal seja mantida, sendo preferivel a ponta da lança um pouco baixa. (*)
O pollegar da mão direita fica do lado de dentro e os outros dedos seguram a lança com as unhas voltadas para baixo. A mão esquerda é collocada na altura da cintura, á frente do corpo, como na posição de segurar redeas. O tronco conserva-se vertical, com o peso distribuido pelas duas pernas estendidas.
11. Si a tropa tem espada, guarda-a presa no gancho. Attendendo, porém, a que o manejo da lança é ensinado a pé, com o fim exclusivo de sua utilização a cavallo, e que a tropa montada traz a espada presa aos arreios, deve-se prescindir desta arma nos exercicios de lança a pé.
12. Perfilar lanças! – Une-se o pé direito ao esquerdo e toma-se a posição do § 7º.
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(*) Nos exercicios contra alvos a altura da ponta dependerá do alvo.
B) POSIÇÃO COM A LANÇA A CAVALLO
Modo de ter o cavallo pelas redeas e de conduzil-o a pé
13. O cavalleiro perfilado, na altura da cabeça do cavallo, segura com a mão direita as redeas do bridão (ou freio) perto das argolas, emquanto com a esquerda empunha a lança na posição directa pelo meio do punho, apoiando-a no chão ao lado do pé esquerdo e mantendo-a vertical. Para marchar, escorrega a mão esquerda mais ou menos a meio metro abaixo de punho, e deita a lança no hombro esquerdo, de modo que ella possa ser mantida em equilibrio por uma leve pressão.
Montar
14. Preparar para montar! – O cavalleiro faz direita volver e colloca-se na altura do estribo esquerdo, apoiando a lança no chão, o conto a meio metro atrás de seu calcanhar esquerdo, e inclinando-a sobre o cavallo.
Em seguida, correndo a mão esquerda pela haste da lança, procede no mais como prescreve o primeiro tempo de montar, do R. Eq.
15. A cavallo! – Executa-se conforme o R. Eq. Uma vez montado, o cavalleiro segura a lança com a mão direita por baixo da esquerda, alçando-a por impulsos daquella mão entre o braço esquerdo e o corpo até desembaraçal-a, de modo a poder leval-a ao lado direito, apoiando a mão sobre a coxa. A lança toma a posição do n. 22.
Apear
16. Preparar para apear! – A mão direita levanta a lança na vertical, passando o conto sobre as cruzes do cavallo e deixa-a escorregar entre o braço esquerdo e o corpo pela espadua esquerda do animal. A mão esquerda, que está acima das cruzes, segura a lança e recebe da mão direita um punhado de crinas. Procede-se no mais conforme o primeiro tempo de apear, do R. Eq.
17. A pé! – Executa-se segundo prescreve o R. Eq.
Logo que fica a pé, o cavalleiro empunha a lança na vertical, com a mão esquerda, na posição directa e no meio do punho. Avança um passo e segura as redeas do bridão conforme o prescripto no n. 13.
18. Para fincar lanças! – O cavalleiro abandona por um elevando a lança com as duas mãos á frente, do corpo, volve ao centro, fazendo direita ou esquerda volver, e alinhando-se pelo centro.
Fincar lanças! – O cavalleiro, elevando as mãos para ganhar impulso, finca a lança verticalmente no chão e volta a seu logar, ao lado do cavallo.
19. Em terreno duro, onde a lança não possa ser fincada e se queira dar descanço á tropa, mandar-se-há simplesmente: Deitar-lanças!
O cavalleiro, levando o pé direito á frente, baixa o corpo e deita a lança a seu lado esquerdo, com a ponta voltada para a frente e o conto junto ao pé esquerdo.
Levanta o corpo e toma a posição de descançar.
20. Si depois se manda sentido, o cavalleiro toma a posição ao lado esquerdo do cavallo, como prescreve o R. Eq. Sem agarrar a lança.
21. Tomar-lanças! – O cavalleiro segura a lança e toma a posição do numero 17.
22. Descançar-lanças! – O cavalleiro segura a lança pelo punho, com a mão direita na posição directa (retira-a do cachimbo, si a tinha perfilada ou no fiador) e deita-a no sentido longitudinal do cavallo, com a ponta para a frente, pouco abaixo da orelha do animal; a mão direita, com o pollegar para cima e as unhas dos dedos voltadas para dentro, fica descançando no meio da coxa direita. A parte posterior da lança não deve tocar a garupa do cavallo, sem, no entanto, se afastar muito della.
Quando se monta com o equipamento completo, baixa-se a mão direita e afasta-se a parte posterior da lança quanto for necessario, sem envezal-a.
23. Nos exercicios de equitação (trabalhos individuaes) a lança póde ser atravessada diagonalmente sobre a cernelha do cavallo com a ponta do lado esquerdo, sempre na altura da orelha. Facilita-se a separação das rédeas do bridão.
24. A posição descançar-lanças não se altera quando commanda Sentido, á vontade ou Olhar á direita (esquerda).
25. Lanças no fiador! – Estando a lança na posição de descançar, o cavalleiro introduz o conto no cachimbo do estribo e passa o braço direito por dentro do fiador, deixando a lança cahir para trás de modo que o fiador vá apoiar-se no hombro. Deixa, depois, o braço direito cahir naturalmente ao longo da parte posterior da lança, segurando-a com a mão direita de modo que o pollegar fique para o lado de dentro e os outros dedos para fóra.
Commandando-se Á vontade, a mão direita pode abandonar a lança. É esta a posição para as marchas longas, quando a natureza do serviço não exige que se tenha a tropa prompta para entrar em acção.
Á voz de sentido, a mão direita segura a lança.
26. Perfilar – lanças! – Estando a lança no fiador, o cavalleiro atira-a para a frente com um movimento do braço direito. A mão direita, indo segural-a no meio do punho mantem-na vertical, o cotovello unido ao corpo.
Estando a lança na posição de descançar, o cavalleiro introduz o conto no cachimbo, tomando a posição acima.
Os officiaes e sargentos que não trazem lanças desembainham espadas a esta voz (conforme o numero 131).
27. Apresentar – lanças! Estando na posição de perfilar lanças, o cavalleiro estende o braço direito para frente, á direita, de modo a ter lança inclinada e sem que o conto saia do cachimbo.
Volta-se á posição de perfilar lanças pelo movimento inverso.
Quando a tropa presta continencia, ao commando Apresentar armas, os officiaes e sargentos apresentam espadas, e os lanceiros lanças.
28. Preparar para a carga! – A posição de partida é descançar lanças. O cavalleiro dá á lança a posição horizontal, elevando a mão direita, e traz a arma á posição em guarda (n. 10) ( * ).
Nota – Si se quer fazer o manejo da lança, a voz que deve dar é simplesmente: Em guarda! e a posição que cumpre ser tomada, a mesma de Preparar para a carga. Esta ultima só se dá para o ataque.
29. A lança perfilada é a posição normal para a parada, desfile em continencia e revista. A lança descançada sobre a perna é a posição normal para exercicios de evolução, marchas em cidade, serviço em campanha e em geral para os exercicios de equitação. É tambem a posição para a tropa que marcha afim de ganhar distancia e carregar no combate a cavallo, que, em vista do combate a pé, toma posição para apear.
30. Nas marchas longas póde-se permittir aos soldados passar a vontade a lança para o lado esquerdo, tendo-a pelo fiador.
31. Em um acto prolongado em que não se apeia é tambem permittido descançar a lança no chão pelo conto.
32. Uma tropa em marcha, trazendo a lança descançada ou no fiador, fará continencia tomando a attitude de sentido á voz Olhar á direita (esquerda).
Nota – O cavalleiro que em serviço ou companha faz alto para fallar a um superior, deixa o conto da lança tocar o solo e segura-a na vertical ao lado direito, com a mão na altura da cintura. Si não lhe deve fallar, não interrompe a marcha; toma a posição de descançar lança, volta o rosto para o lado delle e olha-o fixamente.
III PARTE
GOLPES
33. Os golpes dividem-se em:
Golpes com impulso do braço, aquelles em que o braço se estende completamente para dar impulsão á lança;
Golpes sem impulso do braço, aquelles em que esta impulsão é dada pelo movimento do cavallo para a frente, ficando por isso o braço direito curvo com a mão firme.
Estes ultimos devem ser exercitados com especial cuidado, porque são difficeis e os unicos empregados na carga.
34. Logo que se commanda a direcção de um golpe, os olhos do cavalleiro e a ponta da lança são dirigidos para a direcção indicada.
Si é um alvo a golpear, a visada é feita pela ponta da lança. Visam-se, pois, continuamente, até a execução do golpe, a ponta da lança e o alvo.
a) Golpes com impulso do braço
35. Todos os golpes são dados com energia, aquelles em que a lança é segura com a posição directa da mão são ajudados por uma inclinação do busto na direcção do golpe. O cavalleiro não deve, porém, perder o contacto da sella.
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(*) Cabe aqui a mesma observação do n. 10.
36. Executado o golpe a lança deve ser immediatamente retirada, voltando á posição inicial do golpe e dahi á de guarda, ficando o cavalleiro prompto para outro golpe.
37. Nos golpes em que a lança é segura com a posição directa, ao deslocamento da ponta para a frente corresponde uma torsão da mão para a direita, de sorte que, terminado o golpe, o pollegar passando por cima esteja voltado para a direita e os outros dedos de unhas para cima. A razão desse movimento combinado está não só na mais facil penetração da lança, como ainda na justeza que resulta dessa rotação, em que a parte posterior da lança vae escorregando ao mesmo tempo pelo braço, arrastada pelo movimento da mão.
38. A posição em guarda é o ponto de partida para a execução dos golpes que se seguem.
39. Em frente, á direita-lancear!
1) á voz lancear, o cavalleiro, visando o alvo pela ponta da lança, distende o braço com energia para a frente, com torsão da mão para a direita. A lança apoia-se então no antebraço e é mantida por pressão do braço de encontro ao corpo;
2) uma vez executado o golpe, o cavalleiro retira immediatamente a lança, de sorte a desembaraçar-lhe rapidamente a ponta. Com uma torsão contraria da mão, a arma volta á posição primitiva.
O movimento da lança para a frente (ou para trás), no desembaraçar a ponta, e a torsão da mão são feitos ao mesmo tempo, de modo que, uma vez terminado o movimento, as unhas estejam voltadas devidamente.
40. Em frente, á esquerda-lancear! – A voz em frente, á esquerda, passa-se a ponta da lança para o lado esquerdo por cima da cabeça do cavallo, dando-se-lhe novamente a direcção horizontal proximo ao pescoço do mesmo.
A execução é feita em dous tempos, como no golpe anterior.
41. A direita-lancear! – A voz A direita, o cavalleiro volta a ponta da lança para esse lado na horizontal, recuando um pouco o hombro direito por uma torsão do corpo.
Mantem-se lança firme por pressão do braço contra o corpo.
A voz Lancear, procede-se como em o n. 39.
42. A esquerda-lancear! – A voz A esquerda, o cavalleiro passa a ponta da lança para esse lado por cima da cabeça do cavallo, avançando um pouco o hombro direito por uma torsão de corpo. A arma toma novamente a posição horizontal, ficando a mão direita do cavalleiro em frente ao corpo por cima da esquerda. A parte posterior da arma é então mantida firme por pressão do ante-braço contra o corpo.
A voz Lancear, procede-se como em o numero 39.
43. A retaguarda, á direita-lancear! – A voz A retaguarda á direita, o cavalleiro inverte a posição da mão por meio de uma rotação da lança (n. 6), passa a parte posterior por cima da cabeça do cavallo descansando-a na forquilha e approxima a mão direita da esquerda. A lança é mantida firme nesta posição, por pressão do antebraço contra o corpo.
A voz Lancear:
1º, o cavalleiro, olhando para a direcção indicada e visando o alvo pela ponta da lança, executa o golpe por uma distensão energica do braço para traz. A parte posterior da arma escorrega pela forquilha da mão esquerda;
2º, retira a lança immediatamente.
Dá-se este golpe em uma retirada contra o cavallo do perseguidor, ou mesmo contra este.
44. A retaguarda, á esquerda-lancear! – A voz A retaguarda, á esquerda o cavalleiro passa a ponta da lança por cima da cabeça do cavallo, descansando-a na forquilha da mão esquerda, que a segura: a mão direita, estando o braço estendido para trás, vae agarrar a arma pela parte posterior na posição directa, e mais ou menos no meio dessa parte. Assim que a mão direita tem segurado a lança, um movimento rapido do indicador esquerdo arremessa-a para a curva do braço esquerdo, onde ella vae descançar com a ponta dirigida para trás e o punho á frente do corpo.
A voz Lancear:
1º, o cavalleiro, olhando para a retaguarda e a esquerda visa o alvo pela ponta da lança, emquanto com a mão direita executa o golpe com energia, de fórma que a arma deslise pela curva do braço esquerdo, o que ajuda a manter a direcção do golpe.
2º, retira immediatamente a lança.
Este golpe é empregado em situação identica ao procedente, quando o perseguidor se apresenta pelo lado esquerdo.
45. Em frente, a fundo-lancear! – O cavalleiro passa a ponta da lança por cima da cabeça do cavallo e descansa-a pelo meio do punho na forquilha da mão esquerda, a ponta da lança dirigida para a frente á esquerda.
Emquanto a mão esquerda mantém a lança firme, a direita vae segural-a com o braço estendido para trás, e na posição directa, pela sua parte posterior, e, mais ou menos no meio dessa parte.
A voz Lancear!:
1º o cavalleiro visa o alvo pela ponta da lança e executa o golpe com impulso energico da mão direita, dirigindo-o para a frente e á esquerda.
A parte posterior da lança deslisa na forquilha da mão esquerda, que ajuda assim a conservar a direcção do golpe. No momento em que a ponta da lança attinge o alvo (verdadeiro ou supposto), sua parte posterior fica firme debaixo do braço direito, que a aperta contra o corpo, emquanto os dedos da mão esquerda a abandonam.
2º, retira a lança immediatamente, por um movimento do braço ou ante-braço esquerdo, (conforme ella venha a se apoiar em um ou outro), atira-a novamente na forquilha.
46. Em terra, á direita-lancear! – A voz Em terra, á direita, o cavalleiro inverte a posição da mão, por uma rotação da lança ou mediante arremesso (n. 6) e eleva a mão á altura da face, a ponta da lança dirigida para o chão na direcção do alvo (supposto ou não).
A voz Lancear:
1º, estende o braço direito verticalmente para cima e executa o golpe com energico impulso da mão direita para baixo, descendo-a quanto for necessario para attingir o alvo. Si este se acha muito baixo, representando, por exemplo, um infante deitado, o cavalleiro inclina o corpo para a frente, de modo que possa attingil-o. Cabendo á mão direita supportar só no choque, deve a lança permanecer bem segura, para que não se escape para cima, em vez de penetrar no alvo.
2º, a arma é retirada immediatamente, voltando a mão direita á altura da face.
47. Em terra, á esquerda-lancear! – A voz Em terra, á esquerda, o cavalleiro passa a lança por cima da cabeça do cavallo, descansando-a na forquilha, que a segura até que a mão direita vá empunhal-a na posição inversa, o braço estendido para o lado direito pelo meio de sua parte posterior. Quando a mão direita tem assim segurado a lança, o indicador esquerdo a arremessa no ante-braço esquerdo, onde ella vae descançar com a ponta dirigida para o alvo.
A voz Lancear!:
1º, executa-se o golpe com impulso da mão direita, de cima para baixo e da direita para a esquerda, a lança deslisa sobre o ante-braço esquerdo, que ajuda assim a manter a direcção do golpe;
2º, retira-se a lança immediatamente.
Este golpe só pode ser perfeitamente executado a cavallo e mesmo assim contra um alvo situado á distancia regular do animal.
48. Nos golpes dados para a terra devem os cavalleiros tomar um ponto para alvo e procurar attingil-o. Somente quando o sólo é pedregoso não se deve permittir que taes golpes sejam levados até esse ponto.
b) Golpes sem impulso do braço
49. Quando se marcha em andadura viva (na carga, por exemplo), os golpes com impulso não são empregados contra alvos fixos ou moveis. De um lado os movimentos que dão impulso a estes golpes comprometteriam a justeza em vista dos deslocamentos rapidos do animal para a frente, de outro esta impulsão tornar-se-hia desnecessaria porque já seria dada pelo movimento do cavallo para diante. De mais neste caso não poderia a mão supportar sosinha o choque resultante do encontro da lança com o alvo.
50. Só tres golpes são aconselhados nessa andadura:
1º, Em frente, á direita-lancear! – A posição inicial é a do golpe com impulso, tendo, porém, o dedo pollegar para cima, a parte posterior da lança bem apertada entre o braço direito e o corpo. A mão bem firme, com os dedos fortemente cerrados, não abandona sua posição durante a execução do golpe. Não há, pois, deslocamento da mão para a frente, nem torsão. O cavalleiro já de longe visa o alvo pela ponta da lança, e no momento do golpe inclina o corpo ligeiramente para a frente, sem no entanto se levantar da sella, nem deixar de manter energicamente o contacto da perna com o cavallo.
Ao cravar-se no alvo, a ponta da lança tem um movimento de recuo. O cavalleiro cede a esse movimento com a mão e o braço, deixando a parte posterior da arma tocar-lhe nas costas e desta posição desembaraça-a do alvo.
2º Em frente, á esquerda-lancear! – A execução deste golpe, uma vez tomada a posição inicial correspondente e dedo pollegar para cima, obedece ás recommendações do anterior.
No desembaraçar a lança deve-se cuidar que a sua parte posterior (tão depressa a ponta se encrave no alvo e o braço direito receba o choque consequente) esteja levantada o bastante para, no impulso que toma, não bater na cabeça do cavallo.
É cedendo a essa impulsão que a mão direita desembaraça a ponta do alvo.
Faz-se com o braço direito uma pequena opposição ao movimento de rotação que a arma toma.
3º Em terra, á direita-lancear! – A posição é a mesma do golpe com impulso.
O cavalleiro visa de longe o alvo, com o braço bem curvo, a mão na altura da face, a lança segura firmemente e apoiada no ante-braço direito, o corpo inclinado para a frente e para o lado direito, e a ponta da arma dirigida para o chão.
A execução é feita pela distensão rapida do braço para baixo, assim que o alvo esteja sufficientemente proximo. Deve-se calcular a distancia para executar o golpe de accôrdo com a velocidade do cavallo.
51. Os dous primeiros golpes são desferidos nas cargas contra homens a cavallo ou de pé; o ultimo contra homens deitados (linha de atirados de infantaria).
52. No periodo dos exercicios de esquadrão pratica-se a instrucção do emprego da lança no galope mais alougado possivel.
Colloca-se o manequim na pista, por onde o esquadrão desfila a um de fundo, com distancias muito grandes. Cada cavalleiro, ao passar pelo manequim, procura lanceal-o com o golpe que convier empregar, sem diminuir a velocidade da carreira.
IV PARTE
PARADAS
53. Não existe parada verdadeiramente efficaz da lança. Falta-lhe o elemento de defesa, de sorte que é possivel realizar com ella a verdadeira esgrima, com golpes e paradas, como se faz com a espada. É uma arma offensiva e por isso mesmo a verdadeira arma do cavalleiro.
54. No caso de um combate de lança contra espada, a melhor defesa que ella póde offerecer é a produzida por ataques violentos e repetidos.
Admittem-se duas paradas com a lança: A direita-parar! e á esquerda-parar! feitas respectivamente das posições Em frente, á direita-lancear! e Em frente, á esquerda-lancear! por uma opposição da lança para a direita ou esquerda, acompanhada de uma torsão da mão de modo a ficarem as unhas para cima.
V PARTE
PASSAGEM DE UM GOLPE A OUTRO
55. O emprego da lança póde ser complicado, a titulo de exercicio, combinando-se dous a dous os golpes indicados na III parte.
As combinações resultantes recebem o nome de golpes duplos.
Tendo-as em vista, vamos indicar aqui o modo mais celere e racional de passar de um golpe a outro, suppondo sempre que se parte da posição inicial do primeiro para o segundo, sem a posição intermediaria da guarda.
56. Todas as vezes que a lança tem que passar da forquilha ao ante-braço, o movimento é ajudando por um impulso do indicador da mão esquerda. A passagem inversa faz-se por um impulso do braço.
57. Do golpe Em frente, á direita-lancear!:
Tendo-se tomando na III parte – A) (n. 38) esse golpe como ponto de partida para a explicação e ensino dos outros, fica desta sorte tambem estabelecido o emprego da lança partindo delle.
58. Do golpe Em frente, á esquerda-lancear!:
a) para Em frente á direita-lancear! – Passa-se a ponta da lança por cima da cabeça do cavallo;
b) para A direita-lancear! – Segundo a), dando á lança a direcção conveniente;
c) para A esquerda-lancear! – Volta-se a ponta da lança para a esquerda;
d) para A retaguarda, á direita-lancear! – Passa-se a ponta por cima da cabeça do cavallo, invertendo-se a posição da mão por uma rotação da lança, e descança-se a sua parte posterior na forquilha da mão esquerda;
e) para A retaguarda, á esquerda-lancear! – Descança-se a lança na forquilha e estende-se o braço direito para a direita, correndo a mão pela parte posterior da arma;
Passa-se a arma da forquilha ao ante-braço esquerdo e dá-se a ponta a direcção conveniente;
f) para Em frente, a fundo-lancear! – Descança-se a lança na forquilha e escorrega-se a mão direita estendendo o braço para trás;
g) para Em terra, á direita-lancear! – Passa-se a ponta por cima da cabeça do cavallo e inverte-se a posição da mão por meio de uma rotação da lança;
h) para Em terra, á esquerda-lancear! – Segundo e), levando-se a lança á posição correspondente.
59. Do golpe A direita-lancear!
a) para Em frente, á direita-lancear – Dá-se á ponta a direcção indicada;
b) para Em frente, á esquerda-lancear! – Passa-se a ponta da lança por cima da cabeça do cavallo, dando-se-lhe a direcção conveniente.
c) para A esquerda-lancear! – Segundo b), dando-se á ponta a direcção correspondente.
d) para A retaguarda, á direita-lancear! – Dirige-se a ponta para a frente e inverte-se a posição da mão por meio de uma rotação da lança, cuja parte posterior na forquilha.
e) para A retaguarda, á esquerda-lancear! – Passa-se a ponta da lança por cima da cabeça do cavallo, descançando a arma na forquilha, a mão direita escorrega pela parte posterior da lança estendendo o braço para a frente. O indicador da mão esquerda arremessa a lança para a curva desse braço, a ponta sendo dirigida para trás.
f) para Em frente, a fundo-lancear! – Passa-se a ponta por cima da cabeça do cavallo descançando-a na forquilha; segura-se a lança pela sua parte posterior, com a mão direita na posição directa e o braço estendido para trás.
g) para Em terra, á direita-lancear! – Dirige-se a ponta para a frente e inverte-se a posição da mão por meio de uma rotação da lança ou pelo seu arremesso para cima.
h) para Em terra, á esquerda-lancear! – Segundo e), dando-se á lança a direcção correspondente, com a posição da mão invertida.
60. Do golpe A esquerda-lancear!:
a) para Em frente, á direita-lancear! – Passa-se a lança por cima da cabeça do cavallo e dirige-se a ponta para a frente.
b) para Em frente, á esquerda-lancear! – Dirige-se a ponta para a frente.
c) para A direita-lancear! – Segundo a) dirigindo-se a ponta convenientemente.
d) para A retaguarda, á direita-lancear! – Passa-se a lança por cima da cabeça do cavallo, inverte-se a posição da mão por meio de uma rotação da arma, e descança-se a parte posterior na forquilha.
e) para A retaguarda, á esquerda-lancear! – Descança-se a lança na forquilha e segura-se a mesma pela sua parte posterior com o braço direito estendido; passa-se depois a arma da forquilha para a curva do braço esquerdo e dá-se á ponta a direcção conveniente.
f) para Em frente, a fundo-lancear! – Descança-se a lança na forquilha e segura-se a mesma pela sua parte posterior a meio metro do conto e na posição directa, dirigindo-se a ponta para a frente.
g) para Em frente, á direita-lancear! – Passa-se a ponta para o lado direito e inverte-se a posição da mão por uma rotação da lança; leva-se a mão direita á altura da face e dirige-se a ponta para o chão. Ou inverte-se a posição da mão arremessando a lança para cima e passa-se a mesma por cima da cabeça do cavallo, dirigindo-a para o chão.
h) para Em terra, á esquerda-lancear! – Segundo e), dando-se á lança a direcção correspondente, com a posição da mão invertida.
61. Do golpe A retaguarda, á direita-lancear!:
a) para Em frente, á direita-lancear! – Inverte-se a posição da mão por meio de uma rotação da lança e dirige-se a ponta para a direita.
d) para A esquerda-lancear! – Segundo b), dirigindo-se a ponta para a esquerda.
e) para A retaguarda, á esquerda-lancear! – Traz-se a mão direita á altura do hombro, a lança na horizontal com a ponta para a frente, passa-se a mesma ponta por cima da cabeça do cavallo, dirigindo-se para a retaguarda, com a lança apoiada na forquilha, e inverte-se a mão direita, que escorrega para a parte posterior, estendendo o braço para a frente.
f) para Em frente, a fundo-lancear! – Segundo b), descança a lança na forquilha e escorregando a mão direita pela parte posterior da arma de fórma a estender o braço.
g) para Em terra, á direita-lancear! – Traz-se a mão direita á altura da face e dirige-se a ponta da lança para o chão.
h) para Em terra, á esquerda-lancear! – Segundo e), sem inverter a posição da mão e dirigindo-se convenientemente a ponta da lança.
62. Do golpe A retaguarda, á esquerda-lancear!:
a) para Em frente, á direita-lancear! – Descança-se a lança na forquilha: a mão direita escorregando até o punho segura-a na posição directa. Passa-se a ponta da arma por cima da cabeça do cavallo e dá-se-lhe a direcção conveniente.
b) para Em frente, á esquerda-lancear! – Segundo a), sem passar a ponta da lança para o lado direito. Dirige-se a arma convenientemente.
c) para A direita-lancear! – Segundo a), dirigindo-se a ponta para a direita.
d) para A esquerda-lancear! – Segundo a), sem passar a ponta, que é dirigida para a esquerda.
e) para A retaguarda, á direita-lancear! – Descança-se a lança na forquilha e escorrega-se a mão direita até o punho, invertendo a posição. Passa-se a ponta da lança por cima da cabeça do cavallo, rodando-a em torno da mão direita e dirige-se a mesma ponta para trás descançando a parte posterior na forquilha.
f) para Em frente, a fundo-lancear! – Descança-se a lança na forquilha, dirigindo-se a ponta para a frente.
g) para Em terra, á direita-lancear! – Segundo e), dirigindo-se a ponta convenientemente.
h) para Em terra, á esquerda-lancear! – Dirige-se a ponta convenientemente, invertendo a posição da mão.
63. Do golpe Em frente, a fundo-lancear!:
a) para Em frente, á direita-lancear! – Escorrega-se a mão direita até o punho e passa-se a ponta para a direita.
b) para Em frente, á esquerda-lancear! – Escorrega-se a mão direita até o punho e levanta-se a lança da forquilha.
c) para A direita-lancear! – Segundo a), dirigindo-se a ponta convenientemente.
d) para A esquerda-lancear! – Escorrega-se a mão direita até o punho, levanta-se a lança da forquilha e dirige-se a ponta para a esquerda.
e) para A retaguarda, á direita-lancear! – Inverte-se a posição da mão trazendo-a ao punho; leva-se a lança ao lado direito, passando a ponta por cima da cabeça do cavallo e imprime-se-lhe uma rotação, a ponta girando de cima para baixo.
f) para A retaguarda, á esquerda-lancear! – Leva-se a mão direita á frente mantendo o braço estendido, passa-se a lança da forquilha para a curva do braço esquerdo, dirigindo-se a ponta para trás.
g) para Em terra, á direita-lancear! – Inverte-se a posição da mão escorregando-a até o punho; passa-se a ponta por cima da cabeça do cavallo, dirigindo-se a arma para baixo.
h) para Em terra, á esquerda-lancear! – Inverte-se a posição da mão mantendo-se o braço estendido; passa-se a lança do braço para a curva do braço esquerdo dirigindo a ponta para baixo.
64. Do golpe Em terra, á direita-lancear!:
a) para Em frente, á direita-lancear! – Inverte-se a posição da mão por meio de rotação da lança.
b) para Em frente, á esquerda-lancear! – Segundo a) passando-se a ponta para o lado esquerdo.
c) para A direita-lancear! – Segundo a), aponta dirigida para a direita;
d) para A esquerda-lancear! – Segundo b), dirigindo-se a ponta para a esquerda;
e) para A retaguarda, á direita-lancear! – Descansa-se a parte posterior da lança na forquilha e dirige-se a ponta para trás;
f) para A retaguarda, á esquerda-lancear; – Gira-se a lança em torno da mão, passando a ponta para o lado esquerdo e dirigindo-a para trás, mantem-se a arma pela forquilha emquanto se estende o braço direito para segural-a pela sua parte posterior na posição directa. Passa-se a lança na forquilha para a curva do braço;
g) para Em frente, a fundo-lancear! – Gira-se a lança em torno da mão passando a ponta para o lado esquerdo; inverte-se a posição da mão direita descansando a arma na forquilha, e estende-se o braço para trás;
h) para Em terra, á esquerda-lancear! – Segundo f) sem inverter a posição da mão e dirigindo-se a ponta convenientemente.
65. Do golpe Em terra, á esquerda-lancear!:
a) para Em frente, á direita-lancear! – Descansa-se a lança na forquilha emquanto a mão direita, escorregando até o punho, segura-a na posição directa. Passa-se a ponta para o lado direito;
b) para Em frente, á esquerda-lancear! – Segundo a), sem passar a ponta para o lado direito;
c) para A direita-lancear! – Segundo a), dirigindo-se a ponta para a direita;
d) para A esquerda-lancear! – Segundo b), dirigindo-se a ponta para a esquerda;
e) para A retaguarda á direita-lancear! – escorrega-se a mão direita até o punho e gira-se a lança em torno da mão passando-a para o lado direito, dirigindo-se a ponta para trás;
f) para A retaguarda á esquerda-lancear! – Dirige-se a ponta para trás, invertendo-se a posição da mão;
g) para Em frente, a fundo-lancear! – Prende-se a lança na forquilha e inverte-se a posição da mão. Dirige-se a ponta para a frente;
h) para Em terra, á direita-lancear! – Segundo e), dirigindo-se a ponta convenientemente.
VI PARTE
EXERCICIOS DE DESTREZA
66. No intuito de desenvolver a destreza dos soldados, devem fazer-se, além dos golpes já indicados, os exercicios chamados molinetes.
a) Molinetes
67. Chamam-se molinetes, em exercicios de lança, os movimentos em que a ponta da arma descreve circumferencias.
São quatro os molinetes admittidos:
1º, molinete horizontal em torno do corpo;
2º, molinete lateral;
3º, molinete á direita (esquerda);
4º, molinete horizontal por cima da cabeça
Os molinetes, por isso que são gymnastica de destreza, devem, como os golpes, ser executados tanto com a mão direita, como com a esquerda.
A posição de partida para os molinetes é a Em guarda!
68. Ennunciado o molinete, á voz um toma-se a posição inicial e á voz dous começa-se a execução.
Molinete horizontal em torno do corpo
69. Este molinete deve ser executado com energia e tão rapido quanto possivel. Cada soldado deve fazer para isso o maximo esforço.
A lança passará á mão esquerda á voz de Lanças á mão esquerda! e depois á mão direita á voz Lanças á mão direita!, sem que o molinete seja interrompido.
Execução:
1º A parte posterior da lança é levada até as costas por uma rotação conveniente, a ponta ficando dirigida para a direita (posição inicial).
2º Por um impulso da mão direita, ajudando por um ligeiro golpe de rins, roda-se a lança, sempre segura por essa mão, por cima da cabeça e leva-se a mesma ao lado esquerdo, apoiando-a de encontro ao braço com a ponta o mais possivel para a esquerda. Nesta passagem o braço direito deve ser energicamente estendido acima da cabeça.
3º Sem fazer uma grande parada, inverte-se o sentido dos movimentos, rodando-se a lança novamente por cima da cabeça e trazendo-a ao lado direito com impulso, encostando-a nas costas como em 1º). Prosegue-se dessa fórma o molinete até que seja dada a voz Em parada!
Molinete lateral
70. Execução:
1º Estando a lança empunhada na posição directa da mão, estende-se o braço horizontalmente para a frente, as unhas voltadas para a esquerda e um pouco para baixo, de sorte a trazer a lança á frente do corpo, mas ao lado direito
Do cavallo, e um pouco inclinada para a esquerda, com a ponta para cima, (Posição inicial).
2º Baixando-se a ponta da lança para a frente, descreve-se com ella uma circumferencia ao lado esquerdo do cavallo, emquanto o conto, pelo movimento correspondente, descreve um arco de circumferencia ao lado direito e para a retaguarda vindo passar para a esquerda por cima da cabeça do cavallo.
A lança toma então deste lado posição analoga á anterior, sendo a inclinação agora á direita.
3º Continuando o molinete, baixa-se a ponta da lança para a frente, a qual descreve agora uma circumferencia do lado direito do cavallo, o conto virando ao lado esquerdo, no mesmo sentido, passa por cima da cabeça do animal e a lança chega á posição 1º, o molinete continúa assim, alternativamente, a direita e á esquerda, até a voz de Em guarda! O braço deve ser conservado quanto possivel estendido á frente do corpo.
Molinete á direita (esquerda)
71. Execução:
1º Estende-se o braço direito (esquerdo), com a lança segura na posição directa, horizontalmente á direita (esquerda), as unhas voltadas para a frente e um pouco para baixo, de sorte que a lança tenha uma pequena inclinação para a frente. (Posição inicial).
2º Imprime-se á lança uma rotação parallelamente ao cavallo, de modo que a ponta descreva uma circumferencia de cima para baixo, cada vez que ella chega ao ponto de partida, vira-se a mão de fórma a poder dar impulso pra novo giro. O braço deve ser mantido em extensão.
O molinete termina á voz Em guarda!
Molinete horizontal por cima da cabeça
72. Execução:
1º Faz-se a lança escorregar para a frente e segura-se a mesma pelo meio de sua parte posterior, prendendo-a pelo conto em baixo do braço. (Posição inicial)
2º Da-se-lhe uma rotação para a esquerda fazendo-a rodar por cima da cabeça, além da qual se eleva o braço direito. Mantendo-se este braço um pouco curvo, vira-se a mão cada vez que uma circumferencia vae começar, de modo a se poder dar nova impulsão.
O molinete termina á voz Em guarda.
VII PARTE
EXERCICIOS A PÉ
a) Generalidades
73. Os exercicios de emprego da lança a pé precedem naturalmente aos do emprego a cavallo na instrucção dos recrutas, para lhes dar a destreza necessaria. Devem mesmo continuar por todos os periodos de instrucção que o permittam, a titulo de gymnastica de flexionamento. Convém que todos os soldados que não estiverem occupados em outros serviços, pratiquem tão frequentemente quanto possivel nos referidos exercicios.
74. As exigencias devem ser progressivas de modo a haver desenvolvimento gradual dos musculos, nenhum exercicio deve ser prolongado até produzir grande fadiga, não só porque isso prejudicaria a correcção dos movimentos, como para afastar o perigo dos excessos.
75. No começo usa-se a lança sem banteirola, mas, logo que os recrutas estejam familiarizados com os movimentos da arma, não haverá mais motivo para retiral-a.
76. Deixa-se bambo o fiador da lança para não prejudicar as mudanças de posição da mão. Levanta-se a extremidade inferior para o nó da superior.
b) Exercicios sem alvo
77. Estes exercicios são os primeiros na preparação dos recrutas no emprego da lança, porque permittem ao instructor observar os defeitos de cada um e melhor corrigir as posições. Convém varial-os o mais possivel, afim de que não se tornem fastidiosos.
78. No começo dividem-se os recrutas em pequenas secções (de 10 a 12 homens) para que os erros de cada um sejam mais perceptiveis.
Todo sargento deve estar habilitado a dar essa instrucção.
79. Achando-se a escola formada em ordem unida e querendo-se preparal-a para exercicios de emprego da lança, mandar-se-há primeiro formar em uma fileira e seguida numerar por 6 a partir a direita. Depois, dar-se-há a voz: Para o emprego da lança, estender-marche!
A voz Marche os numeros «um» iniciam a marcha para a frente, tomando cada qual um ponto fixo na mesma frente para onde se dirigirá, de sorte que todos guardem sempre entre si o mesmo intervallo. Os numeros «dous» occupando os logares deixados pelos numeros «um» mediante deslocamentos lateraes, contam os passos destes e iniciam por sua vez a marcha na mesma direcção, e cobrindo pela frente, assim que elles tenham dado os seis passos. Os numeros «tres» procedem com relação aos numeros «dous» como estes o fizeram em relação aos numeros «um». E assim por deante até que toda a escola esteja em marcha. O instructor commandará então Alto! e em seguida Direita ou Esquerda-volver!
Dest’ art haverá um intervallo e uma distancia de seus passos de homem a homem, o que permitte movimentos livres.
80. O emprego da lança é conduzido como a cavallo; a mão esquerda mantem-se fechada na altura da cintura como si tivesse as redeas, e a direita eleva-se, em todos os movimentos que o exijam, o sufficiente para simular a passagem da lança por cima da cabeça do cavallo, ou para evitar que o conto lhe toque a garupa.
c) Golpes contra alvos
81. Logo que os recrutas sejam capazes de empregar a lança com correcção, começam os exercicios contra alvos. São feitos com o fim não só de assegurar a direcção do golpe, como ainda de habituar os soldados aos effeitos da resistencia offerecida pelos alvos.
82. Para isso devem os objectos que servem de alvo ter cohesão e peso capazes de resistir um pouco á penetração da lança.
83. Taes objectos são presos a supportes de madeira ou ferro (vide appendice), ou ao chão, e dispostos num rectangulo que é a propria pista de equitação (picadeiro aberto situado, si possivel, mesmo no pateo do quartel).
84. Afim de que haja tempo para a passagem de um golpe a outro, devem os referidos apparelhos ser collocados á distancia conveniente.
85. Os exercicios são feitos ao passo natural e depois a marche-marche.
86. Deve-se fiscalizar si a lança é immediatamente retirada logo depois de desferido o golpe e exigir que o soldado assim proceda, afim de preparar-se para o golpe seguinte. Para conseguir isso e as demais correcções, distribuem-se sargentos auxiliares do instructor pelos apparelhos.
VIII PARTE
EXERCICIOS A CAVALLO
a) Generalidades
87. O manejo da lança a cavallo é o coroamento da parte da instrucção que visa o combate á arma branca da cavallaria contra a cavallaria e os ataques dessa arma contra as outras.
Por isso, uma vez chegada a instrucção ao desejado gráo, devem os exercicios da lança a cavallo ser repetidos tanto quanto possivel em todos os periodos do ensino, até no das evoluções de esquadrão, tanto para os recrutas, como para os soldados antigos. Aproveita-se para elles o ultimo quarto de hora da equitação (na época da instrucção individual) e dos exercicios de evolução dos esquadrões (neste periodo).
88. O recruta monta com lança desde que seu equilibrio e destreza a cavallo o permittam. No primeiro dia não se faz nenhum emprego; começa-se, porém, no segundo e desenvolve-se gradualmente, de accôrdo com o adeantamento da equitação e do emprego da lança a pé.
89. Os resultados a conseguir aqui sendo consequencia do gráo de adentamento dos recrutas na equitação e do seu desembaraço no emprego da lança a pé, deve o instructor ter o cuidado de não exigir uma destreza que acarrete movimentos defeituosos.
90. No que diz respeito á preparação dos cavallos para esses exercicios, trabalho a cargo dos melhores cavalleiros dos esquadrões, deve ser tambem observada uma progressão, de modo a que os animaes percam o medo da lança e de seus movimentos, familiarizando-se com ella.
No começo os exercicios são feitos sem a bandeirola.
b) Exercicios sem alvos
91. Os golpes a ensinar são com impulso do braço, isto e, os que correspondem ás andaduras lentas (passo, trote e galope curto).
92. Cumpre observar que os soldados não se elevem nos estribos, nem se inclinem para a frente e para o lado em demasia, e muito menos que movam a mão esquerda de sua posição, para não dar solavancos na bocca do cavallo.
93. Os exercicios são feitos por secções pequenas (podem ser, de preferencia, as mesmas de equitação) e em uma pista em rectangulo, para que o instructor collocado no centro esteja em condições de observar facilmente todos os cavalleiros, os quaes são conservados em movimentos.
94. No começo não devem as vozes de commando succeder-se rapidamente afim de que os cavalleiros, na preocupação de executar os movimentos com presteza, não batam com a lança no cavallo.
Convem primeiro exigir justeza, pois que a rapidez dos movimentos virá depois como consequencia della.
c) Golpes contra alvos
95. Os exercicios de golpes de lança a cavallo contra alvos são os que mais se acercam de seu emprego em combate.
96. Quanto maior for a difficuldade que os alvos apresentem, tanto mais util será o exercicio.
97. Essa difficuldade deve ser, porém, gradativa, de accôrdo com o desembaraço que os cavalleiros adquiram. Começa-se pelos alvos menores e não muito duros, para depois passar aos menores e mais resistentes que são os mais difficeis e só os que habituam;
1º, a bem dirigir a ponta da lança;
2º, a dar nos golpes com impulso a impulsão necessaria a penetração da arma de accôrdo com a resistencia do alvo, e a mantel-a no seu impulso, com a força bastante para supportar o choque;
3º, a desembaraçal-a promptamente do alvo, depois de executado o golpe, de modo a não deixal-o cahir.
98. Todos estes resultados, dependentes do golpe de vista do cavalleiro e de seu desembaraço no emprego da lança, só são conseguidos com progressão dos exercicios estabelecida na instrucção.
99. Os apparelhos são dispostos em alturas differentes correspondentes ás posições que podem tomar os infantes (deitados, de joelhos e de pé) e as proporções do cavalleiro a cavallo.
OBSERVAÇÕES
100. Para os exercicios de golpes com impulso do braço, serão os apparelhos dispostos a distancias convenientes uns dos outros, mas sem symetria, nos lados de um grande rectangulo, ora á direita, ora á esquerda da pista dos cavalleiros. Esta disposição permitte ao instructor, collocado no centro, observar facilmente toda a secção, que deve ser conservada constantemente em movimento.
101. Para os golpes sem impulso, porém, como tal disposição não seria vantajosa sinão em um grande rectangulo, collocam-se os apparelhos á direita e á esquerda da grande pista recta ou curva que os cavalleiros devam seguir.
102. Quando tiver sido attingido o necessario gráo de destreza, dispõem-se os apparelhos na área de um rectangulo relativamente pequeno, onde os cavalleiros farão exercicios, por grupo de tres a quatro. Percebe-se que a difficuldade será tanto maior quanto menor for o rectangulo.
103. Deve-se prestar attenção para que o contacto com a sella não seja abandonado pelos cavalleiros em movimento algum. Os principiantes teem tendencia a abrir as pernas e puxar as redeas no momento do golpe.
104. A parte superior do corpo deve-se inclinar um pouco para a direcção do golpe, sem que o cavalleiro se levante nos estribos.
105. Quando, immediatamente depois de um golpe Em frente, á direita, se quer lancear Em terra, á direita, a mudança preferivel da posição da mão é feita pelo arremesso da lança.
IX PARTE
COMBATE INDIVIDUAL
106. Os exercicios de golpes contra alvos constituem a preparação para o combate individual.
107. As regras geraes deste combate são ensinadas a principio a pé, com o fim de mostrar aos recrutas o partido a tirar da lança contra cavalleiro armado de lança ou espada, e contra infante armado de bayoneta.
108. Cumpre exercitar com especial cuidado o combate individual a cavallo, o qual depende tanto do gráo de adestramento do cavallo, como da agilidade e golpe de vista do cavalleiro.
109. Em principio deve-se prohibir todo movimento brusco de lança. Os golpes serão dirigidos para o peito do adversario.
110. Sendo a mão direita a que tem a lança, é este o lado mais forte do cavalleiro. Convém, portanto, procurar o lado esquerdo do adversario, offerecendo-lhe a direita.
111. Como as paradas são feitas com opposição de dentro para fóra, é depois de parado um golpe do adversario que o cavalleiro se encontra em melhores condições para atacal-o.
112. No começo fazem-se os exercicios a passo. Empregam-se depois as outras andaduras, de accôrdo com o progresso que se for obtendo.
113. O instructor deve fazer comprehender aos soldados que os movimentos simples, sendo os mais rapidos, são tambem os mais efficazes.
114. Dahi se infere que o melhor ataque depois de se Ter parado Á direita, é o dirigido para o peito do adversario pelo seu lado direito, carregando vivamente. O mesmo se fará respectivamente si um golpe pela esquerda não pode ser atalhado.
115. Deve se evitar cuidadosamente dar choque contra cavallos ou tocal-os com a lança.
116. É de toda a vantagem fazer exercicios contra cavalleiros armados de espadas e infantes munidos de baynetas.
117. Qualquer que seja a natureza do adversario, a ponta da lança deve ser-lhe constantemente dirigida para o peito, dando-se ao tronco a torsão que for necessaria para a realização deste objectivo.
118. Contra infante deve o cavalleiro com muito mais forte razão evitar ser atacado pelo lado esquerdo.
119. Nos combates de cavalleiro contra cavalleiro, cabe ao instructor determinar que só sejam feitos ataques depois de um golpe parado e sem violencia, para evitar que com os movimentos desordenados os homens machuquem os cavallos. Desta sorte, estabelece-se uma certa esgrima de paradas e respostas, acompanhadas de manejos do cavallo.
120. As paradas contra a lança do adversario, com o fim de desviar-lhe a direcção, abrindo uma linha de ataque, devem ser usadas com a precaução que exige o cuidado recomendado no n. 119.
121. Sendo a lança uma arma essencialmente offensiva, caberá ao instructor desenvolver no espirito dos soldados a iniciativa do ataque. Elle mostrará as vantagens da offensiva, principalmente contra infante, ou contra cavalleiro armado de espada.
122. Nas primeiras lições de combate individual de cavalleiro contra cavalleiro, o instructor começará por collocar dois soldados, um deante do outro, na posição de guarda, e designará qual delles deve tomar a iniciativa do ataque. Ensinará como o atacante procura contornar o adversario e como este evita, por movimentos do cavallo, ser aggredido pelo lado esquerdo ou pela retaguarda. Fará o atacado responder promptamente a todos os golpes que tenha parado, sempre procurando tomar a iniciativa da aggressão. Depois inverterá os papeis dos contendores.
PROGRESSÃO PARA O ENSINO DA LANÇA
a) Para os recrutas
1 – Posições e manejo da lança a pé – (Exercicios sem alvo).
2 – Posições e manejo da lança a cavallo – (Exercicios com alvo).
Estes exercicios serão effectuados desde o começo em movimento – passo, trote e depois galope curto (n. 93) – e logo que os recrutas tenham alguma firmeza na sella e estejam desembaraçados no manejo da lança a pé.
3 – Exercicios contra alvos.
As explicações respectivas serão feitas primeiramente a pé (ns. 81 e 86); seguir-se-hão depois os exercicios correspondentes a cavallo (ns. 95 e 98).
4 – Exercicios contra alvos, em andaduras rixas (ns. 49 a 51).
5 – Combate individual (ns. 107 a 123).
6 – Carreira (n. 52).
b) Para as praças promptas
1 – Posição e manejo da lança a pé e a cavallo.
2 – Exercicios contra alvos.
3 – Combate individual.
4 – Carreira.
Nota – Os exercicios a pé de manejo da lança, tanto para as praças promptas, como principalmente para os recrutas, devem continuar por todos os periodos de instrucção que o permittam, a titulo de gymnastica de desenvolvimento (n. 73).
ESPADA
Observação preliminar
Relativamente á instrucção de espada cabem as mesmas reflexões expedidas com referencia á lança. Ella deve ser dada com mais cuidado aos officiaes, sargentos, musicos, clarins e a todas as praças que por suas funcções não sejam armadas de lança.
I PARTE
NOMENCLATURA DA ESPADA
123. A espada compõe-se de duas partes: a espada, propriamente dita, e a bainha.
Notam-se na primeira a lamina e a guarnição.
A lamina divide-se em duas partes: a forte e a fraca. Há nella o gume, o dorso, a ponta e as faces concovas. É presa ao punho pela espiga rebatida no capacete.
A guarnição compõe-se de capo, capacete e punho.
A bainha tem: a braçadeira com argola, o boccal e o calço.
O comprimento da espada é de 1m,05 e seu peso de 1 kilo e 400 grs.
124. O fiador da espada é preso á guarnição e deve ser utilizado todas as vezes que se lhe pratique o manejo.
125. Em todos os exercicios convem empregar somente a espada regulamentar.
126. No combate individual, porém, será preferivel usar-se uma espada mais leve e de manejo mais facil.
II PARTE
A) POSIÇÃO COM A ESPADA A PÉ
127. Posição de sentido com a espada embainhada: o soldado toma a posição indicada no R. E. C. tendo a espada fóra do gancho, segura com a mão esquerda apoiada sobre a perna por baixo a braçadeira, o braço ligeiramente curvo, os dedos unidos e voltados para baixo e o pollegar entre a bainha e o corpo.
A espada permanece cahida ao longo da perna, de maneira que, vista de lado, não ultrapasse o corpo. A distancia da extremidade da bainha ao solo dependerá da estatura do homem.
Esta posição tambem é regulamentar para os officiaes.
128. Ao iniciar a marcha, cada soldado, á respectiva voz de commando, inclina levemente a guarnição da espada para a frente, bastando para isso apertar os dedos que se acham unidos.
As vozes de Sentido! Olhar á direita! (ou esquerda) e Alto! Retoma a posição n. 127.
129. A tropa que traz outra arma (mosquetão) conserva a espada no gancho.
130. A posição do n. 127 é exigida para continencia individual e apresentações e a do n. 129 para passeios e marchas isoladas.
131. – Desembainhar-espadas! – Volta-se a guarnição para a frente, de maneira que a bainha fique um pouco inclinada; a mão direita vae ao punho e, segurando-o fortemente com todos os dedos, puxa a lamina com energia para fóra da bainha. A espada é trazida immediatamente para o lado direito, na vertical, o dorso da lamina, apoiado ao concavo do hombro, o punho junto ao quadril e o cotovello direito sem constrangimento para trás e um pouco para a direita. A espada fica segura pelo dedo pollegar e pelo indicador, auxiliados, pelos outros unidos e voltados naturalmente para baixo.
A mão esquerda prende a bainha no gancho e conserva-se ao lado esquerdo.
Esta é a posição da espada perfilada, tomada tambem á voz de Perfilar-espadas!
132. Apresentar-espadas! – A mão direita traz a espada á frente do rosto, o cotovello unido ao corpo sem constrangimento, o punho na altura do pescoço, o gume voltado para a esquerda, a ponta para cima e a lamina na vertical.
Observação – Os officiaes apresentam a espada em dous tempos:
1º tempo – Posição do n. 132.
2º tempo – Deixa-se o braço cahir lentamente ao lado direito, estendendo-se em todo o cumprimento, com as unhas para cima, o dedo pollegar ao longo do punho, os outros dedos unidos e cerrados, a ponta da espada para baixo e em frente á direita, sem tocar o solo. A lamina deve fiar no prolongamento do braço. A distancia da ponta da espada ao solo dependerá da estatura do official.
133. Embainhar-espadas! – A mão direita cerrando os dedos leva a espada verticalmente á frente, o ante-braço na horizontal; a mão esquerda tira a bainha do gancho e, cerrando por sua vez os dedos, inclina-se com o boccal para a frente. Volta-se rapidamente a ponta da espada na direcção do dito boccal e, dirigindo para ahi os olhos, introduz-se energicamente a lamina na bainha. A mão direita volta promptamente ao lado direito e o soldado toma a posição do n. 127.
134. Em guarda! – A mão direita, cerrando os dedos e com o pollegar estendido ao longo do punho, leva a espada á frente, as unhas para baixo, o gume para a direita, o cotovello um pouco afastado do corpo, a ponta da espada na altura dos olhos e dirigida para a frente, de modo que a lamina fique no prolongamento do ante-braço. Entrementes, o pé direito afasta-se um passo para a direita e na mesma linha do esquerdo. A mão esquerda depois de collocar a bainha no gancho, vem á frente do corpo, na posição de segurar as redeas.
Desfaz-se esta posição á voz Perfilar-espadas!
135. A tropa não marcha com a espada desembainhada sinão para prestar continencias.
As sentinellas, quando armadas a espada poderão tel-a em qualquer posição, sem no emtanto baixar-lhe a ponta. A approximação de um official tomam a posição de sentido, fazendo a continencia de accôrdo com o respectivo regulamento.
B) POSIÇÕES COM A ESPADA A CAVALLO
136. A espada a cavallo é sempre trazida no porta-espada, preso no arreio.
137. Desembainhar-espada! – A mão direita empunha a espada e tira-a da bainha.
138. Desembainhada a espada, ella vae á posição de perfilar, que differe da a pé, em ficar o capacete apoiado na parte superior da coxa, proximo ao quadril.
139. Apresentar-espadas! – Como a pé.
140. Perfilar-espadas! – Como no n. 138.
141. Embainhar-espadas! – Baixa-se a ponta da espada fazendo que ella descreva uma meia circumferencia pela frente e introduz-se a espada na bainha.
Sempre que possivel deve-se parar para embainhar a espada.
142. Em guarda! – Como a pé.
Nos exercicios contra alvos, a altura da ponta ficará dependente da do alvo.
Para o ataque, á voz Preparar para a carga!, a tropa desembainha a espada e a leva á posição Em guarda. A voz de Carga!, procede como está prescripto no R. E. C.
Em exercicios de evoluções, serviço de campanha, marchas (estrada e cidade) a tropa traz sempre a espada embainhada. Nessas condições a continencia é feita simplesmente com os preceitos do Olhar á direita (ou esquerda).
As honras funebres são prestadas com a espada desembainhada (se a tropa não tem outra arma).
III PARTE
GOLPES
143. Os golpes dividem-se em: golpes cortantes ou simplesmente golpes e golpes perfurantes ou pontas.
144. Todos devem ser executados com a maxima energia e rapidez. A efficiencia delles depende, em grande parte, da maneira correcta de empunhar a espada.
145. Uma vez terminado um golpe, a espada volta immediatamente á posição Em guarda!, ficando o cavalleiro prompto para a execução de outro.
A) GOLPES CORTANTES
a) Golpes obliquos
146. Logo que se ordena um golpe, os olhos voltam-se immediatamente para a direcção indicada.
147. A posição Em guarda é o ponto de partida para a execução dos golpes que se seguem.
148. Golpe Em frente, á direita-arma! – Commandada a direcção, traz-se a espada ao lado esquerdo, a lamina no prolongamento do ante-braço (que fica cruzado sobre o peito), a mão, com as unhas unidas para baixo, apoiada no mamelão esquerdo, a ponta para este lado. A voz Arma! Estende-se energicamente o braço para a frente, á direita, descreve-se com a ponta um arco de circumferencia e desfere-se o golpe obliquamente, de cima para baixo, inclinando e voltando o alto do corpo na direcção do alvo, em entretanto perder o contacto com a sella. A arma á Guarda pela continuação do movimento com que foi desferido o golpe, de modo a fechar approximadamente a circumferencia.
149. Golpe Em frente, á esquerda-arma! – Commandada a direcção, voltando-se as unhas para cima e leva-se a espada ao lado direito, o cotovello proximo ao corpo, a lamina no prolongamento do ante-braço, a ponta para a direita e para a frente. A voz Arma!, dá-se o golpe obliquamente de cima para baixo, estendendo o braço direito. A arma volta á posição primitiva pela continuação do movimento adquirido e de modo identica ao golpe anterior.
150. Golpe A direita-arma! – Commandada a direcção, toma-se a posição preparatoria do n. 148 e desfere-se o golpe para a direita, tendo em mente que o inimigo se encontra desse lado. A arma volta á posição primitiva de modo identico ao golpe anterior.
151. Golpe A esquerda-arma! – Commandada a direcção, procede-se como em o n. 149, dando-se o golpe inteiramente para a esquerda e tendo em mente que o inimigo se encontra desse lado. A arma volta á posição primitiva de modo identico ao golpe anterior.
b) Golpes verticaes
152. Golpe de cabeça, em frente, á direita-arma! A voz de advertencia, levanta-se a mão á altura da cabeça, o cotovello para a direita e afastado do corpo, o ante-braço na vertical, a espada um pouco cahida para traz com a ponta para cima e o gume para a frente. A de execução Arma! dá-se o golpe de cima para baixo. A espada volta á posição primitiva pelo modo já indicado em 148.
153. Golpe de cabeça, em frente, á esquerda-arma! – A voz de advertencia, toma-se a posição do n. 152. A de execução (Arma!), dá-se o golpe como no n. 150, dirigindo-o diagonalmente para o lado esquerdo. A arma volta á posição primitiva pelo modo indicado em 148.
154. Golpe Em terra, á direita-arma! – A voz de advertencia, toma-se a posição do n. 151. A voz Arma!, desfere-se o golpe energicamente de cima para baixo, estendendo-se completamente o braço, inclina-se o alto do corpo e necessario para attingir o alvo.
B) PONTAS
155. Logo que se ordena a direcção de uma ponta, os olhos do cavalleiro e a ponta da espada voltam-se para essa direcção, e visa-se o objectivo pela ponta da arma.
156. Todas as pontas são dadas vigorosamente, com as unhas para baixo e o braço estendido na direcção do alvo.
Afim de attingir o objectivo, póde o cavalleiro inclinar o corpo para a frente sem perder o contacto com a sella.
157. As vozes de commando são:
a) Ponta em frente, á direita-arma!
b) Ponta em frente, á esquerda-arma!
c) Ponta á direita-arma!
d) Ponta á esquerda-arma!
e) Ponta em terra, á direita-arma!
IV PARTE
PARADAS
158. As paradas devem ser sempre feitas com o forte da lamina e dominado a do adversario pela sua parte fraca.
159. Na parada cumpre ao cavalleiro dirigir a ponta da espada para o adversario de maneira a estar sempre prompto a responder.
160. Para melhor supportar o choque da arma do contendor, deve o braço do cavalleiro conservar-se sempre ligeiramente curvo.
161. Tres são as maneiras de parar: á direita parar, á esquerda parar e á cabeça parar.
162. A direita-parar! – O cavalleiro afasta a espada para a direita de maneira a desviar com o seu forte, e da direcção do corpo, a arma do adversario.
163. A esquerda-parar! – Voltam-se as unhas para cima de maneira a ter-se o gume para a esquerda e desloca-se a lamina para este lado, afim de desviar do corpo a arma adversaria.
164. A cabeça-parar! – Leva-se a mão á altura da cabeça e um pouco á direita, com as unhas voltadas para a frente. A lamina, com o gume para cima e um pouco voltado para a frente, fica atravessada da direita para a esquerda, a ponta ligeiramente acima do punho.
V PARTE
PASSAGEM DE UM GOLPE A OUTRO
165. As passagens de um golpe a outro, e destes, ás paradas, são feitas percorrendo a espada o caminho mais curto, sem posições intermediarias.
166. Em combate deve o cavalleiro cuidar sempre de garantir-se contra os ataques do adversario, expondo o menos possivel o seu corpo.
VI PARTE
EXERCICIOS DE DESTREZA
A) Molinetes
167. Há duas especies de molinetes:
a) Molinetes verticaes;
b) Molinetes horizontaes.
168. Como gymnastica de destreza devem ser exercitados tanto com a mão direita, como com a esquerda.
169. O ponto de partida para a execução dos molinetes á a posição Em guarda!
170. Enunciado o molinete, á voz Um!, toma-se a posição inicial, e á voz Dous!, começa-se a sua execução.
a) Molinete vertical
171. Execução:
1º, estende-se o braço para a frente, a mão na altura do rosto, unhas ligeiramente para a direita, atravessando-se a lamina um pouco para a esquerda, a ponta na altura da cabeça posição inicial;
2º, baixa-se a ponta da espada e descreve-se com ella uma circumferencia ao lado esquerdo do cavallo. A arma toma então a posição anterior.
3º, continuando o molinete, baixa-se a ponta da espada que descreve agora uma circumferencia pelo lado direito do cavallo.
O molinete continua assim á direita e á esquerda até a voz Em guarda!
b) Molinete horizontal
172. Execução:
1º, como no 1º do n. 171;
2º, leva-se, por uma torsão de pulso, a ponta da espada pela esquerda para a retaguarda e completa-se o circulo para a frente. Terminado o movimento as unhas estarão voltadas para cima, a lamina atravessada para a direita com a ponta para esse lado;
3º, desfaz-se o movimento descrevendo um circulo em sentido contrario, terminando o movimento na posição 1º.
B) Golpes duplos
173. Ainda como exercicios de destreza á de toda a vantagem exercitarem-se os homens nos golpes, isto é, nas combinações de um golpe com outro, ou de golpes com pontas, etc, sem passar pela posição de guarda. Ficará ao alvitro do instructor escolher as combinações mais efficazes.
174. Observação – Para a progressão dos exercicios a pé, a cavallo e de combate individual são recommendadas as prescripções contidas nas VII, VIII e IX partes do manejo e emprego da lança naquillo que forem applicaveis á espada.
PROGRESSÃO PARA O ENSINO DA ESPADA
a) Para os recrutas
1 – Manejo e emprego da espada a pé.
2 – Manejo e emprego da espada a cavallo.
3 – Exercicios contra alvos.
4 – Combate individual.
b) Para as praças promptas, especialmente sargentos, clarins e musicos
1– Manejo e emprego da espada a cavallo.
2 – Exercicios contra alvos.
3 – Combate individual.
4 – Carreira.
Rio de Janeiro, 9 de julho de 1919. – Alberto Cardoso de Aguiar.
APPENDICE
APPARELHOS PARA SIMULAR OBJECTIVOS NOS EXERCICIOS DE LANÇA E ESPADA
Apparelho n. 1
É um apparelho fixo, destinado a ser posto na borda exterior da pista do picadeiro aberto, no pateo do quartel.
Compõe-se de um prisma de madeira ôco, de secção igual a 0,m30 X 0,m30 e de comprimento que varia entre 2m,20 a 2m,70 e até a 2m,90, segundo se quer representar a altura do busto de um homem a pé (de joelhos ou de pé) ou de cavalleiro. Enterra-se uma porção do prisma igual a um metro, para fixal-o bem no terreno. A base superior desse prisma ou poste é fechada e tem um orificio no centro, que deve ser mais elevado que as bordas, havendo assim um cahimento no meio para as extremidades.
A face que ficar voltada para o lado de fóra da pista deve ter, no meio e a mais ou menos 0m,20 da aresta superior, uma abertura de 0m,40 de comprimento por 0m,04 de largura.
A um terço da altura da abertura prende-se um encaixe de terra e nelle um carretel de b de aço, que deve girar facilmente em torno de seu eixo horizontal. Uma corda, de mais ou menos 0m,04 de espessura, atravessa o orificio da base do prisma, apoia-se no carretel e cahe ao longo da face. Na extremidade superior da corda prende-se uma bola de palha de 0m,20 mais ou menos de diametro, e na outra extremidade um contrapeso formado de chapas de ferro superpostas.
Uma guarnição de ferro presa abaixo e acima da abertura do prisma, serve para guiar a corda no seu movimento com carretel.
O apparelho n. 1 póde ser simplificado dispensando o dispositivo para o carretel: a corda passará então por dentro do prisma e utilizar-se-há como contrapeso uma pedra grande. A abertura da face externa do prisma é substituida por uma pequena porta, feita para a introducção do contrapeso. Nesses dous apparelhos a corda deve ser untada para correr mais facilmente e gastar-se mais devagar.
Apparelho n. 2
É um apparelho portatil, podendo ser utilizado no picadeiro fechado nos dias em que o tempo não permitta exercicios no pateo.
CLBR Vol. 03 Ano 1919 Pág. 45 Figura.
Compõe-se de um supporte de ferro de quatro pés, afastados nas extremidades inferiores e convergentes nas superiores, e presas aos cantos de uma mesa a. Esta tem um orificio central por onde passa uma haste de ferro vertical b, em cuja extremidade inferior está preso um contrapeso p. Na outra extremidade da haste prende-se uma bola de palha destinada aos golpes.
O contrapeso inferior serve para trazer a haste á vertical todas as vezes que, por effeito de um choque, ella venha afastar-se desta posição. A altura do apparelho varia como a do anterior, de modo a servir aos exercicios, conforme se suppõe o inimigo, de joelhos, em pé ou a cavallo. Os pés devem ser sufficientemente afastados na extremidade inferior para permittir o equilibrio do systema.
Apparelho n. 3
Representa um boneco de palha, que deve ser deitado ao lado da pista e ahi preso á estaca de madeira. Para confecção do boneco, com que se simula inimigo deitado (atirador de infantaria), convém aproveitar os uniformes velhos.
Rio de Janeiro, 9 de julho de 1919. – Alberto Cardoso de Aguiar.