DECRETO N. 14.745 – DE 23 DE MARÇO DE 1921
Approva a primeira parte do Regulamento para a Organização do Terreno
O Presidente da Republica dos Estados Unidos do Brasil, usando da attribuição que lhe confere o art. 48, n. 1, da Constituição, resolve approvar a primeira parte do Regulamento para a Organização do Terreno, que com este baixa, assignado pelo Dr. João Pandiá Calogeras, ministro de Estado da Guerra.
Rio de Janeiro, 23 de março de 1921, 100º da Independencia e 33º da Republica.
EPITACIO PESSÔA.
João Pandiá Calogeras.
INTRODUCÇÃO
O Regulamento para o Organização de Terreno, assim deminado porque não trata exclusivamente de trabalhos, mas de um conjunto de disposições previstas e ordenadas pelo Cominando, é dividido em duas partes.
A primeira expões as regras da organização do terreno e a marcha que se tem de seguir para realizal-a.
A segunda trata dos pormenores dos trabalhos e dos processos de execução.
Essa divisão permitte pôr em maior destaque, na primeira parte, isenta de qualquer minucia technica, o conjunto dos conhecimentos que em materia de organização do terreno, cevem servir de base á instrucção de todos os officiaes.
A primeira parte comprehende tres titulos.
– O Titulo I trata em conjunto:
Dos elementos constitutivos da organização do terreno;
Dos caracteres geraes de que se deve revestir toda organização completa.
A ordem de importancia dos elementos constitutivos da organização do terreno que são objecto do capitulo I, é a seguinte;
– O flanqueamento;
– As vistas:
– As communicações e ligações;
– A coberta;
– O obstaculo;
Está, de facto, provado que, quer na guerra, de movimento, quando não houver tempo para crear coberta e obstaculo, quer na guerra do posição, destruidos que sejam esses dous elementos pelo bombardeio, as tropas pódem repelir um ataque desde que tenham flanqueamentos, possuam bôas vistas para a utilização das armas, e disponham de communições para exercicio do commando e deslocamento das reservas.
O Capitulo II indica como deve ser concebida actualmente a organização de uma posição.
Preponderam aqui dous factores:
A potencia da artilharia;
O poder dos meios de investigação (observação e photographia aereas) que permitte referir e bater com predisão qualquer elemento de organização insufficientemente dissimulado.
Nessas condições o fim que se deve ter em vista, antes de mais é difficultar o tiro da artilharia adversa e as investigações dos observadores aereos do inimigo. Para isso indispensavel espalhar os orgãos essenciaes da defesa, separal-os das linhas visiveis da organização e dissimulal-os tanto quanto possivel.
Esta regra applica-se sobretudo ás armas automaticas, sobre cuja potencia principalmente assenta a solidez do systema.
Por outro lado, porém, essa dispersão impõe:
Uma repartição estudada dos meios da defesa, com o fim de se obter o apoio reciproco das differentes especialidades e a proteção das armas automaticas;
Uma bôa organização do commando.
O agrupamento constituido por uma arma automatica (eventualmente varias) e pelos elementos encarregados de protegel-a contra os ataque a pequena distancia, chama-se grupo de combate. E’ a cellula da organização do terreno.
A reunião de varios grupos de combate fórma um ponto de apoio; a reunião de varios pontos de apoio, um centro de resistencia.
Quanto á rêde das escavações superficiaes, que constituem a parte apparente da organização adoptou-se a nomenclatura seguinte:
Trincheira – Fosso organizado para o tiro de fuzil:
Sapa – Fosso organizado para a circulação;
Prarallela – Fosso de direcção geral parallela á frente;
Normal – Fosso de direcção geral perpendicular á frente.
Assim:
As palavras «trincheira» e «sapa» suggerem unicamente a ideia de perfil: trincheira, perfil adaptado ao tiro do fuzil; sapa, perfil adaptado á circulação;
As palavras «parallela» e «normal» suggerem unicamente a ideia de traçado geral: parallela, fosso de direcção geral parallela á frente, cujo traçado é determinado principalmente por considerações relativas ao emprego do fogo, o em que o perfil trincheira predomina; normal, fosso de direcção geral perpendicular á frente, organizado principalmente para as communicações e em que, por conseguinte, domina o perfil sapa.
Para a execução das escavações , ha dous processos, como veremos adeante, e que se denominam:
Trabalho em linha.
Trabalho pelas extremidades.
Em resumo, na rêde das escavações superficiaes, encontra-se si se considera o perfil – trincheira e sapa; si se considera a posição á superficie – parallela, o normal; si se considera a execução das escavações – trabalho em linha, trabalho pelas extremidades.
Procurou-se nestas instrucções destacar o papel attribuido á parallela e á normal nas organizações actuaes. A importancia da parallela, como installação de combate , diminuiu sensivelmente uma vez estabelecido que se deve francamente separar da parallela a maior parte das armas automaticas. Demais, a necessidade da organização em profundidade e das acções lateraes conduz a organizar trechos da, normal, por vezes extensos e ligal-os a installações do combate estabelecidas em campo aberto. Assim, approximaramse as funcções da parallela e da normal. Na realidade, a rêde das paralleIas e normaes constitue principalmente hoje, um systema de communicações a coberto que permittem, além disso, e com grande vantagem, dissimular os elementos essenciaes da organização (abrigos, entrada das gelerias de accesso ciaes installações de combate estabelecidas cm campo aberto, etc.).
– O titulo II é consagrado ao estudo dos elementos constitutivos da organização do terreno.
Mui de proposito, o Flangueamento foi tratado com grande desenvolvimento, para, se tornarem claramente comprehensiveis as vantagens do seu emprego.
O capitulo das communicações não se limita a tratar de estabelecimento de normaes na zona do fogo; occupa-se tambem do conjuncto da rêde de communicações: estradas, caminhos, estradas de ferro de campanha, communicações telephonicas, etc.
No capitulo consagrado á Coberta (só se trata aqui da coberta destinada a proteger o pessoal e o material em posição de combate ou de espera), estuda-se primeiramente a organização geral da trincheira e do abrigo; depois a disposição e a combinação da trincheira, do abrigo e das installações de combate isolados, tendo em mira o emprego das differentes armas.
– O titulo III tem por objecto a, combinação dos elementos constitutivos da organização do terreno.
Começa com a organização do terreno em combate, por isso que:
1º Será no combate que o problema da organização do terreno apresentar-se-ha a todas as unidades, ao passo que, fóra do alcance efficaz do fogo inimigo, constituirá, uma excepção;
2º Constituirá o fim essencial dos trabalhos de instrucção das unidades adestral-as na organização do terreno em combate.
A exposição do assumpto foi encaminhada tendo-se em vista salienta especialmente os seguintes pontos:
– A organização do terreno é uma operação militar que deve ser concebida e conduzida pelo commando.
– O chefe actua neste caso como cm qualquer outra operação militar; suas decisões traduzem-se sempre pela, mesma fórma; seu papel, dirigindo a execução, continúa a ser o mesmo.
– Para uma tropa empenhada, a organização do terreno é uma fórma de combate.
– A aptidão ao emprego dessa fórma do combate, inseparavel das outras, adquire-se por uma instrucção meticulosa dos quadros e da tropa.
OBSERVAÇÃO IMPORTANTE
Para comprehender devidamente esta Regulamento cumpre Ter bem presente que, no ponto de vista do emprego tactico da tropa no combate, não ha differença essencial entre guerra de movimento e de posição.
A organização do terreno impões-se em todas os casos, porque tem em mora a Economia de forças. Mas assume naturalmente particular importancia quando o Commando decide ficar na defensiva em uma parte da frente e por um tempo dado. Dahi resulta que o terreno deve ser tanto mais seriamente organizado quanto maior é a permanencia da tropa nas mesmas posições, e mais poderosos sãos os meios disponiveis de toda especie.
O receio de falta, de tempo e recurso necessarios paro realizar uma organização completa não dispensa o emprehedel-a e impulsional – a constantemente de accôrdo com as possibilidades.
TITULO I
Caracteres geraes da organização do terreno
1. A organização do terreno impõe-se em todas as situações:
– No decorrer de uma acção offensiva, para assegurar a conservação do terreno conquistado e continuar o ataque;
– Na defensiva, para se ficar em situação de resistir a qualquer tentativa do inimigo, quer de trate de acções locaes em frentes effectivos, quer de acções emprehendidas em frentes extensas com meios poderosos;
– Em certos casos da guerra de posição , para preparação de uma offensiva, com o fim de empregar do melhor modo os meios (pessoal e material) que se tem em vista por em acção.
A organização do terreno attinge seu mais amplo desenvolvimento na defensiva, no decurso de uma estabilização , prolongada.
Na zona em que se conseguiu realizar uma organização completa para a batalha defensiva, os trabalhos complementares que se tem de executar para ficar-se em situação de passar á offensiva, são de importancia relativamente pequena em comparação com os existenstes Eis porque nestas Instrucções trata – se com maior desenvolvimento das organizações no ponto de vista da defensiva.
2. O trabalho da artilharia do ataque (na preparação como na execução) será auxiliado poderosamente, pela observação aerea. Sua efficacia será tanto menor quarto:
a) Mais solidas as organizações da defesa.
A constituição dos elementos da Organização (obstaculos, abrigos, etc.), é funcção da potencia dos calibres da artilharia do ataque o da tonelagem de munições que esta é susceptivel de despejar;
b) Menos conhecidas do assaltante.
Esta ultima condição impõe:
– O afastamento dos orgãos essenciaes (installações de metralhadoras, observatorios,...) das zonas em que se póde prever que o tiro de artilharia do ataque attingirá o maximo de densidade (vizinhança das trincheiras e normaes e, de modo geral, dos pontos notaveis do terreno);
– Emprego systematico do disfarce;
– Proscripção de qualquer typo de trabalhos que possa deixar transparecer n plano da organização e da repartição das forças (é, o caso, por exemplo, dos pontos de apoio isolados visiveis na photographia);
c) Melhor adaptação a um accionamento rapido dos meios em caso de ataque (organização cuidada os observatorios e postos de espreita e de suas ligações com os elementos que devem ficar de sobre-aviso (organização dos abrigos tendo em vista uma sahida facil) .
3. O exame dos processos de acção da defesa, taes como são encarados nos diversos regulamentos que tratam do combate conduz as conclusões seguintes:
A) A potencia do armamento permitte realizar, além da frente com fracos effectivos, as densidades de fogo necessarias.
Os orgãos de fogo da infantaria destinados a actuar além da frente podem ser escalonados em profundidade. Haverá até toda vantagem em escalonal-os (disponibilidades e entrada em acção opportuna melhor asseguradas, emprego mais maneavel)
E’, pois, inut'l muita gente no primeiro escalão. Do augmento impensado dos effectivo. do 1º escalão, resultaria sómente o augmento de perdas sem accrescimo correspondente de potencia para a defesa.
Augmentar-se-ha muito mais o poder da defesa pelo accrescimo dos meios de fogo (artilharia, infantaria’). pelo emprego judicioso dos mesmos, pela boa ligação das armas, do que reforçando as guarnições de infantaria.
B) O escalonamento da infantaria é regulado:
pela repartição dos seus orgãos de fogo e em particular das suas armas automaticas;
pela necessidade de limitar os progressos do inimigo que tenha penetrado na posição (emprego de, guarnições fixas conventemente distrubuidas em largura e em profundidade, as quaes, pelas razões expostas acima, podem ser de effectivo relativamente fraco);
pela necessidade de reconquistar o terreno perdido (tropas collocadas em pontos favoraveis ao contra-ataque com o apoio efficaz de seu fogo).
O dispositivo das organizações que se deve realizar decorre das considerações precedentes.
4. Nas considerações que presidem á realização de uma organização defensiva deve existir sempre espirito offensivo.
Uma boa organização defensiva permitte manter a frente com pequeno numero de homens e augmentar os effectivos destinados a acções offensivas em qualquer parte da mesma.
Uma boa organização defensiva permitte-nos proseguir no esgotamento do inimigo, certos de causar – lhe mais perdas do que elle a nós. Assim, é com intenção offensiva que se devem aperfeiçoar sem descanso as organizações defensivas.
CAPITULO I
ELEMENTOS CONSTITUTIVOS ORGANIZAÇÃO DO TERRENO
5. Esses elementos são:
– O flanqueamento;
– As vistas;
– As communicações e ligações:
– A coberta;
– O obstaculo.
6. O flanquecamento – O flanqucamento permitte bater efficazmente, con meios reduzidos, faixas relativamente extensas de terreno tornando assim disponiveis as forças necessarias as outras missões (ataques, contra-ataques).
O flanqueamento resulta do proprio traçado (1) da organização defensiva, da qual elle é um dos elementos essenciaes.
7. As visitas – O emprego da infantaria e da artilharia exige boas vistas sobre terreno occupado pelo inimigo.
A potencia das armas de que dispõe a infantaria e sua utilização em flanqueamento, põem o defensor em condições de contentar-se com um campo de tiro pouco extenso e de estabelecer suas organizações em terrenos abrigados, em contra vertente; situação esta em que outr'ora nunca eram permittidas. O cominando e a artilharia, ao contrario, precisam observar não as immediações das organizações como tambem o interior das posições inimigas.
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(1) E’ necessario que a palavra traçado seja entendida aqui no seu sentido mais amplo de: distribuição judiciosa, no terreno, dos elementos superficiaes da organização (parallelas, normaes, installações de combate estabelecidas fóra das parallelas e das normaes, obstaculo).
– Por conseguinte; toda organização defensiva deve, comportar numerosos observatorios e assegurar à posse dos pontos favoraveis á observação.
8 – As communicações e ligações – As communicações garantem os deslocamentos rapidos o seguros das tropas e do material.
Exigem:
– uma rêde muito completa de communicações ordinarias (vias ferreas, estradas, caminhos...);
– uma rêde de communicações enterradas (normaes e galerias).
As ligações (transmissão de ordens , partes...) são asseguradas por meio de rêdes de transmissão electrica (telegrapho, telephonico, T. S. F., T. P. S.), artificios, pombos, postos de mensageiros, etc.
9. A coberta – A coberta é destinada á protecção do homem e do material em posição de combate, de alarma e de descanso. Na guerra de movimento a trincheira constitue uma solução sufficiente do problema.
Quando a frente sé estabiliza, o atacante póde empregar uma massa de artilharia muito mais poderosa, fartamente municiada, bem secundada pela aviação: a coberta proporcionada pela trincheira torna-se desde então insufficiente, não só em virtude de sua fraca resistencia, mas sobretudo pela impossibilidade em que se fica de furtal– a á observação inimiga. E’ necessario, então, juntar-lhe abrigos resistentes
Além disso, estando a parte visivel da rêde de escavações lineares particularmente exposta aos tiros de destruição, apparece a necessidade de separar e afastar o mais possivel dessa rêde certos orgãos essenciaes (installações de combate para armas automaticas, observatorios, etc.).
Quando o abrigo resistente for obrigatorio, torna – se indispensavel levar em conta um novo factor: o tempo necessaria para sahir delle e alcançar a posição de combate. E’ necessario que em caso algum o inimigo possa attingir o abrigo antes da sahida dos defensores, pois do contrario ficariam presos. E’ preferivel não ter abrigos, a possuil-os sem sahida sufficientemente rapida.
10. O obstaculo – O obstaculo tem por fim manter o inimigo durante certo tempo sob o fogo do defensor. Deve-se procurar constituil-o logo que seja possivel, utilizando os obstaculos existentes ou creando-os. Os obstaculos só teem valor, si forem inteiramente batidos pelo fogo da defesa.
CAPITULO II
COMBINAÇÃO DOS ELEMENTOS DA ORGANIZAÇÃO DO TERRENO
I – Definições (2)
11. «O conjunto das organizações de toda especie (installações de combate, obstaculos, abrigos, communicações, etc.), estabelecidas para permittir que as tropas encarregadas de manter uma frente possam promover e unir esterços nas melhores condições para a defesa da mesma, constituo uma Posição.»
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(2) Os textos entre aspas foram extrahidos do Regulamento para a Direcção das Grandes Unidades.
«A realização de uma concepção defensiva comprehende a organização de diversas posições successivas, estabelecidas de maneira que não fiquem expostas a uma mesma preparação de artilharia.»
A posição na qual o Commando quer resistir chama-se Posição Principal. E’ coberta frequentemente por uma posição avançada ou Posição de Postos Avançados. A posição que, atras, reforça a posição principal chama-se Posição de barragem.
12. Chama-se trincheira um fosso organizado para o tiro de fuzil.
Sapa um fosso organizado de modo que permitta a circulação ao abri o das vistas e, tanto quanto possivel dos tiros do inimigo.
Paralela. um fosso cujo traçado é de direcção parallela á frente.
Normal um fosso cujo traçado é de direcção geral perpendicular á frente.
O papel essencial das parallelas e normaes é assegurar as communicações, especialmente no decorrer de uma acção, entre os diversos orgãos que constituem a posição; além disso, são utilizadas como installações de combate em trechos de maior ou menor comprimento, e permittem a dissimulação dos orgãos importantes da posição (abrigos, entradas das galerias de accesso ás installações de combate em campo aberto, etc.).
As installações de combate terão naturalmente maior e desenvolvimento nas parallelas, cujo traçado é de direcção geral parallela á frente, do que nas normaes, cujo tragado e do direcção geral perpendicular á frente; o perfil trincheira (fosso organizado para o tiro) dominará nas parallelas, o perfil sapa (fosso de circulação) dominará, na normal.
13. As parallelas successivas (3) que se acham a partir da frente são:
parallela principal, precedida de orgãos de vigilancia, quer isolados (pequenos postos), quer reunidos por outra – de vigilancia;
parallela de reforço (eventualmente), a uma distancia de 20 a 40 metros atrás da principal;
parallela de apoio, estabelecida a 150 ou 200 metros atrás da principal, para ficar fóra da zona de dispersão do tiro dirigido contra esta;
parallela dos reductos;
parallelas intermediarios, entre a de apoio e a dos reductos (em numero variavel, conforme o terreno).
14. As parallelas dos reductos e as intermediarias algumas vezes são tambem reforçadas por uma de apoio.
Em certos casos, para attender á necessidade de uma acção lateral pelo fogo e do um contra-ataque quando as normaes não satisfaçam, organizam-se diagonaes, moldadas no mesmo typo das parallelas.
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(3) Trata-se, bem entendido de uma organização completa para a qual se dispõe livremente dos tempo.
15. Fóra da rêde geral das parallelas e das normaes, e ligadas a ella por communicações secundarias, estabelecem-se numerosas installações de combate, principalmente para metralhadoras, com a tropa de protecção.
16. Para assegurar a acção harmonica dos meios de defesa, os diversos elementos de uma posição, acima enumerados, distribuem – se entre certo numero de agrupamentos de commando, que são, por ordem de importancia, crescente:
O Grupo de Combate;
O Ponto de Apoio;
O Centro de Resistencia.
Uma posição comprehende, pois, centros de resistencia juxtapostos.
O sector (4), agrupamento de commando superior ao centro de resistencia, deve ter em geral pelo menos duas posições successivas. O sector póde ser dividido em sub-sectores.
Aqui, como, aliás, em toda situarão de guerra, a distribuição das missões faz-se, excepto motivos de força maior, por unidades constituidas.
Os agrupamentos de commando acima enumerados devem pois, corresponder, em regra geral, o unidades constituidas.
Assim:
– O Grupo de Combate, corresponde ao grupo de combate organico, eventualmente; reforçado;
– o Ponto de Apoio á companha, alguma vezes ao pelotão;
– o Centro de Resistencia, ao batalha.
A zona de acção do batalhão toma o nome de quarteirão; a do uma companhia sub-querteirão.
Só excepcionalmente, o por motivos bem definidos, se infringirá esta regra.
II – Grupo de combate
17. Dado o papel preponderante das armas automaticas na defesa das posições, ellas formam de certo modo a ossatura de toda organiação defensiva.
Para que essas armas possam agir com toda a sua potencias em uma direcção determinada, é indispensavel que tenham protecção assegurada nas outras direcções.
Esse papel de protecção pertence aos outros petrechos de que dispõe a infantaria, isto é: fuzil, granada de mão gravada V. R., petrechos de acompanhamento.
Impões-se assim agrupar especialistas de todas as categorias para fazel-os actuar de combinação, empregando cada um sua arma nas melhores condições de rendimento e em beneficio da missão cada ao conjunto do grupo.
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(4) Corresponde na maior parte das vezes á, Divisão (eventualmente á Brigad3a); o sub–sector ao Regimento (ou á Brigada).
Uma metralhadora estabelecida em A. , com a missão de bater a direcção A B, não tem acção contra um ataque que lhe seja dirigido do ponto C. Ao contrario, a metralhadora nada mais temerá si, por exemplo, estiver coberta por dous F. M., collocados em D e em E, por um posto de granadeiro rador, collocado em F, posto de granadeiro atirador, collocado em G, em fim por um posto de volteadores collocados em h.
A noção do combate em linha desenvolvida em uma simples trincheira, deve, por conseguinte, ser abandonada e substituida pela do escalonamento dos combates em grupos de especialistas, no sentido da largura e da profundidades.
O agrupamento de um certo numero de especialistas combatendo reunidos, sob as ordens de um mesmo chefe e com a mesma missão constitue o grupo de combate defensivo, cuja funcção corresponde á do grupo de combate offensivo, com a differença de que o primeiro comprehende frequentemente uma metralhadora, ás vezes duas, e póde receber um reforço de especialistas.
CLBR Vol. 03 Ano 1921 Pág. 403 Figura 1.
Cada installação em que se abrigam e combatem os diferentes especialistas do grupo (abrigos de metralhadoras, trincheiras, postos de granadeiros, etc.), constitue um dos elementos de grupo de combate. Assim, no esquema precedente os trabalhos effectuados em A. D. H. F. G. E. são elementos da organização do grupo de combate.
Este grupo é, de certo modo, a cellula de uma organização defensiva e comprehende sempre uma arma automatica (metralhadora ou F. M.) e numero variavel de especialistas incumbidos de protegel-a. Tanto a arma automatica como os epecialistas não poderão desempenhar o seu papel si se não acharem ao artigo do fogo, pelo menos até ao momento em que tiverem de intervir. O abrigo apresenta-se, assim, como o elemento principal da organização do grupo de combate.
A missão do grupo de combate é a mesma, é a mesma dada á arma automatica ou ás armas automaticas que delle fazem parte.
O effectivo do grupo de combate é normalmente o do grupo organico, reforçado eventualmente com especialistas, como acima se disse.
Quando comprehede duas metalhadoras, o conjunto fica sob as ordens do commandante da secção de metalhadoras. Em certos casos, o effectivo do grupo de combate póde descer até a esquadra (exemplo: grupo de combate tendo como elemento principal uma metralhadora collocada a grande distancia da frente).
O grupo de combate, além dos abrigos, um observatorio ou um posto de espreita e as communicações para ligar entre si os differentes elementos. E’ installado geralmente nas proximidades de uma parallela ou de uma normal que assegura a communicação com as outras partes da organização. Do lado do inimigo, o grupo de combate é protegido por um obstaculo e convém que o seja tambem em outras direcções.
Na guerra de movimento, a rapida organização defensiva de grupo de combate obedece ás mesmas regras no que concerne ao jogo relativo dos diversos orgãos de fogo.
III – Pontos de apoio
18. A reunião de varios grupos de combate sob as ordens de um mesmo chefe, constitue um ponto de apoio.
Os grupos de combate de um ponto de apoio repartem-se em largura e em profundidade.
Da missão de cada um delles, deriva a missão de conjunto do ponto de apoio.
O ponto de Apoio tem sempre uma reserva, por menor que seja, destinada aos contra-ataques. E' occupado por uma unidade constituida, sob as ordens de seu chefe. O effectivo dessa unidade é normalmente de uma companhia, ás vezes de um pelotão.
O ponto de apoio póde ser cercado de um obstaculo continuo e ter um reducto. Os differentes grupos de combate de um ponto de apoio communicam-se pelas normaes e parallelas.
IV – Centros de resistencia
19. – Varios pontos de apoio agrupados em largura e em profundidade, reunidos sob o commando de um mesmo chefe, constituem um centro de resistencia.
O centro de resistencia é occupado por uma unidade constituida que fornece as guarnições dos pontos de apoio e as tropas de reserva. O effectivo da guarnição de um centro de resistencia é normalmente o de um batalhão (5).
Os centros de resistencia comprehendem sempre um reducto.
V – Posições
20. A posição dos postos avançados é mantida normalmente pelo effectivo estrictamente necessario para vigiar o inimigo, deter as tentativas de pouca importancia, retardar e dissociar os ataques de vulto.
A posição de resistencia em que o inimigo deve ser detido e batido fica situada, quando as circumstancias o permittem, a uma distancia sufficiente para escapar á acção densa dos tiros de preparação.
A posição de barragem attende-á, necessidade de deter o inimigo que consiga forçar uma parte da posição principal; sua distancia á posição principal (6 a 8 kilometros) deve ser tal que não possa se submettida ao mesmo tempo que esta, ao tiro de preparação da artilharia. Eventualmente organizam-se posições intermediarias entre as differentes posições normaes.
Essas posicões intermediarias comportam outras estabelecidas nas diagonaes, em logares favoraveis, ligando entre si as posições successivas, e destinadas a impedir que o inimigo aproveite, lateralmente, um successo obtido em uma parte da frente.
A posicão de postos avançados, de barragem, e as posições intermediarias organizam-se de conformidade com as mesmas regras estabelecidas para a posição principal.
A artilharia, em geral installa-se atraz da posição principal; excepcionalmente, porém, para actuar ao longe contra o campo inimigo, satisfazer necessidades de flanqueamento, apoiar a defesa da posição de postos avançados, certas baterias, secções ou mesmo peças isoladas, podem installar-se no interior das organizações da posição principal e até, eventualmente em uma situação intermediaria entre esta e a posição desses postos.
VI – Sectores
21. O conjunto da frente de combate é dividido em sectores.
O sector é uma zona limitada em largura e em profundidade, cuja defesa, se confia a uma Divisão eventualmente uma Brigada).
Em profundidade, o sector estende-se, em geral, no minimo, das posições ás de postos avançados.
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(5) Do qual, aliás, o Cmt. do Regimento póde tirar companhias para a reserva. Esse batalhão póde ser reforçado por uma ou varias secções da companhia de metralhadoras regimental e por petrechos de acompanhamento tirados de outros batalhões.
Em largura, a extensão do sector é fixada de accôrdo com a situação geral e a missão confiada á unidade.
O sector é geralmente dividido em sub-sectores, correspondendo aos regimentos (ou brigadas).
VII – Intervallos
22. Em situação de espera, do mesmo modo que no combate (offensivo ou defensivo), as zonas de acção das unidades empenhadas juxtapõem-se, o que não quer dizer occorra o mesmo com a tropa.
Por outro lado, a necessidade:
De assegurar as ligações e os deslocamentos lateraes;
De occultar ao inimigo o modo de occupar a posição;
Impõe, em uma organização completa, a continuidade dos parelelas sucessivas e que se proscreva absolutamente toda organização de grupo de combate, de ponto de apoio, etc., cujos contornos possam appareccer na photographia (6).
A posição deve apresentar um aspecto uniforme em todo desenvolvimento no sentido da frente; comtudo, não se deve concluir dahi que seja occupada uniformemente.
No interior dos grupos de combate pontos de apoio e centros de resistencia, existem partes activas em que estão concentrados os meios de combate, e intervallos mais fracamente occupados ou, mesmo sem occupantes.
Os intervallos devem se vigiados e efficazmente batidos pelo fogo. A extensão e o modo de Occupação desses intervallos, variam essencialmente com o terreno e a situação tactica; pelo seu aspecto em nada se devem distinguir das partes vizinhas.
No decorrer da batalha a necessidade da precaução contra qualquer surpreza em um terreno frequentemente revolvido e proprio á infiltração, impõe cuidadosa vigilancia de todas as partes da frente nem por isso, entretanto, se deve deixar de procurar manter economicamente, a frente, afim de dispor do maior effectivo possivel de reservas para os contra-ataques e as substituições. Para isso processo que se deve empregar consiste ainda em concentrar os meios, logo que se possa, nos pontos mais favoraveis, evitando sua repartirão uniforme.
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(6 (Nada de grupos de combate, ou pontos de apoio isolados susceptiveis de serem revelados pela photographia. Só se admittem organizações isoladas com a condição de serem invisiveis. (Por exemplo: orgãos destacados das parallelas parallelas e normaes, bosques, aldeias entre duas posições successivas.
Esta regra bem entendido, não póde ser observada quando se trata de organização rapida: nesse caso, então, ha necessidade de dissimular o mais possivel os trabalhos effectuados e executar falsos trabalhos (raspar simplesmente o terreno si houver necessidade de simular trincheiras) para illudir o adversario.
TITULO II
Elementos constitutivos da organização do terreno
As disposições que seguem, em sua maior parte só se applicam a uma organização completa, para a qual se dispõe do tempo necessario e do material requerido.
Na pratica far-se-ha o possivel para realizar tudo o que as circumstancias permittirem; entretanto, o modo de repartição da tropa e principalmente dos elementos de fogo no terreno, continúa immutavel.
CAPITULO I
O FLANQUEAMENTO
23. Uma arma está disposta para flanquear uma trincheira quando atira parallelamente á frente dessa trincheira e não quando a direcção dos seus tiros é perpendicular á mesma.
A figura 2 põe em evidencia as vantagens do flanqueamento.
CLBR Vol. 03 Ano 1921 Pág. 407 Figura 2.
Si um grupo inimigo G, H, M, K avançar para o ataque do elemento de trincheira CD, todos os homens são obrigados a atravessar a trajectoria da arma disposta em flanqueamento em A e pódem ser attingidos: a zona rasada estende-se deante de toda a frente do elemento de trincheira C D. Si a arma estabelecida em A é de tiro rapido (metralhadora, fuzil-metralhador), por si só, póde impedir o accesso da trincheira C D.
Si a mesma arma estiver collocada em B para atirar normalmente á trincheira, só um pequeno numero de homens ficarão expostos ao seu fogo: a zona rosada abrange sómente uma pequena parte adeante da frente e a arma, mesmo de tiro rapido, não interdicta o accesso da trincheira C D. O tiro de ceifa só mui incompletamente póde attenuar esse inconveniente.
Assim augmenta-se consideravelmente o rendimento de uma arma collocando-a em flanqueamento, e esse augmento é tanto maior quanto maiores a rapidez do seu tiro e a força de penetração de seus projectis.
Consequencias:
a) O modo de emprego normal da metralhadora e do fuzil-metralhador e em flanqueamento. Esta regra sofre excepção quando se trata de bater uma passagem estreita de especial importancia, ou ainda de concentrar contra um objectivo o fogo de todas as armas que o pódem bater (superposição de fogos de frente e de flanco);
b) O flanqueamento, combinado com defesas accessorias, que detenham o inimigo sob n fogo das arma flanqueantes, permitte defender frentes muito extensas com pessoal reduzido: o flanqueamento é um meio essencial de economia de forças;
c) O flanqueamento permitte abrir mão de vistas directas muito extensas. Exemplo: uma linha estabelecida na contra vertente, a pequena distancia da crista, póde ser extremamente solida desde que disponha de bons flanqueamentos para bater o terreno immediatamente além da sua frente e, si for possivel, o terreno além da crista, que escappa ás vistas directas.
d) Um dos primeiros cuidados de todo commandante de unidade deve ser o de obter o flaqueamento de todas as partes da frente que lhe foi confiada.
24. O flanqueamento resulta do traçado.
CLBR Vol. 03 Ano 1921 Pág. 408 Figura 3.
E’ obtido estabelecendo-se orgãos de fogo nas parellelas, nas normaes ou fóra dellas (orgãos destacados).
Este ultimo caso será o mais frequente tratando-se de metralhadoras.
25. Orgãos de flanqueamento estabelecidos nas parallelas e normaes – O traçado das parallelas e normaes é determinado de modo que se tenham bons flanqueamentos, graças a uma combinação habil dos salientes e dos reentrantes.
Um saliente immediatamente visinhas, mas tambem para flanquear elementos situados a distancia muito grande.
A installação de uma arma em flanqueamento requer, além da installação de tiro e do abrigo, um systema de pretecção da arma do flanco exposto ao inimigo.
Por isso:
– reforçam-se as defesas accessorias nesse flanco;
– batem-se essas defesas accessorias, seja com outros fuzis ou outras metralhadoras, dispostos por sua vez em flanqueamento (fig. 3), seja com volteadores, mas principalmente com granadeiros lançadores ou atiradores collocados proximo á arma flanqueante (fig. 4).
O serviço de um orgão de flanqueamento importante requer, pois, a organização de um grupo de combate, cujos homens sejam encarregados, uns, do flanqueamento propriamente dito, os restantes, da protecção dos primeiros.
26. O flanqueamento com orgãos destacados – O funccionamento dos orgãos de flanqueamento, estabelecidos nas parallelas e nas normaes, é aleatorio em caso de ataque, uma vez que esses orgãos se achem nas zonas de intensidade maxima do fogo da artilharia inimiga. Nessas condições sujeitam-se á destruição antes de poderem actuar, a actuar tardiamente, ou, ainda, a ficar com a zona de acção consideravelmente reduzida pelo revolvimento do terreno.
Os orgãos de flanqueamento serão, por conseguinte, installados, na maioria dos casos, nos espaços que separam as parallelas successivas, aproveitando do melhor modo possivel porções dominantes de terreno, e escalonados em grande profundidade para a retaguarda, sem que se tema utilizar os grandes alcances.
CLBR Vol. 03 Ano 1921 Pág. 409 Figura 4.
Alguns desses orgãos, ás vezes, mas raramente, poderão ser estabelecidos na frente da parallela principal, si de accôrdo com a situação particular (terreno, afastamento de inimigo) assim for util e possivel.
No caso de orgãos destacados, principalmente si são importantes, deve-se fazer o possivel para que fiquem effectivamente fóra da zona de dispersão do tiro dirigido contra as organizações apparentes mais proximas, sem, comtudo, prejudicar o fim tactico que se tem em mira.
E’ essencial pôr ao abrigo das investigações aereas do inimigo, toda obra isolada, visivel, achando-se ameaçada de perigo. Deve-se, por conseguinte, empregar todos os esforços para modificar o menos possivel o aspecto do terreno (utilização de crateras, de taludes, de cercas, de ruinas, de locaes sob as arvores; ligações por communicações subterraneas disfarçadas, de modo que se confundam com a rêde geral das communicações enterradas, etc.).
A arma em flanqueamento requer, na maioria dos casos, uma tropa de protecção, e constitue então, como no caso, precedente, o nucleo de um grupo de combate.
A installação de um grupo de combate sempre comportará defesas accessorias, que deverão ser organizadas de modo que não denunciem, no local, a existencia de um flanqueamento.
A existencia de orgãos de flanqueamento destacados, de que o inimigo não suspeite, é um factor capital da solidez da posição.
CAPITULO II
AS VISTAS
27. E’ necessario ver para conhecer o inimigo, acompanhar as manifestações de sua actividade, attingil-o com precisão, evitar suas investidas e pôr em jogo, sem demora, em caso de ataque, os meios disponiveis (artilharia, infantaria, etc.).
Vigia-se o inimigo, combinando-se a observação aerea com a terrestre. Esta deve ser organizada tão completamente como si a primeira não existisse.
A observação de espreita, observatorios. E’ assegurada pela infantaria e artilharia.
A caracteristica de todo serviço de observação bem estabelecido é ver sem ser visto: os postos de espreita e os observatorios assim como as vias de accesso, que a elles conduzem, devem, por conseguinte, ser dissimulados e disfarçados cuidadosamente.
A circulação junto aos observatorios é formalmente prohibida. Evitar-se-á estabelecer observatorios nas proximidades immediatas dos pontos notaveis do terreno.
28. Postos de espreita – São destinados á vigilancia das organizações inimigas, com o fim:
a) de informar da vida diaria do inimigo, dos seus habitos, da collocação dos seus petrechos, dos movimentos effectuados nas proximidades de sua frente;
b) de dar o alarma em caso de ataque, no momento em que a infantaria inimiga sae das trincheiras para abordar as organizações.
E’ sempre vantajoso que os homens de atalaia utilizem a observação lateral para evitar que o inimigo os alveje (fig. 5).
CLBR Vol. 03 Ano 1921 Pág. 410 Figura 05.
ab – parte da trincheira inimiga vigiada do posto de espreita A. ac – parte da trincheira inimiga vigiada do posto de espreita B.
Em caso de ataque, todos os postos de espreita da categoria precedente, devem dar rebate mas é necessario além disso, dispor de postos especiaes satisfazendo ás seguintes codições:
Resistirem sufficientemente ao bombardeio; estarem situados a uma certa distancia da parallela principal, de modo que o bombeiro, sem deixar de ver o terreno na vizinhança immediata dessa parallela, não seja envolvido pela parte mais densa do tiro de preparação inimigo dirigido contra ella:
Possuirem um meio seguro e rapido para transmittir aos elementos, que devem dar rebate (artilharia), infantaria), as informações colhidas.
Todo systema de postos de espreita que não satisfizer esta ultima condição será destituido de valor.
Todo abrigo deve ser ligado a um posto de espreita; o mesmo se fará com os orgãos de artilharia encarregados de executar as barragens.
A organização material do posto de espreita, sua combinação, com o abrigo, tem, portanto, capital importancia.
Mesmo munidos de periscopio, esses postos devem ser organizados de maneira que possam permittir a observação directa.
Quando se prevê uma ruptura da frente; Organizam-se postos de espreita em toda a profundidade da posição.
29. Observatorios – Os observatorios representam um papel analogo ao de espreita, mas em zonas geralmente mais extensas em largura e em profundidade.
Pertencem ou ao commando ou á artilharia.
A rêde dos observatorios é organizada de modo que parte alguma do terreno, visivel das nossas linhas, escape á vigilancia.
As condições que devem satisfazer são as mesmas que para os postos de espreita: serem disfarçados, blindados si for possivel, disporem de numerosos e seguros meios de transmissão.
Os observatorios são dotados de um material mais completo que o dos postos de vigia (cartas, panoramas, material de observação, telephonio, algumas vezes optica, em alguns casos, T. S. F., pombos correios, etc.).
A organização e o funccionamento do serviço de observação constituem assumpto do «plano de observação».
CAPITULO III
AS COMMUNICAÇÕES
30. As communicações têm por objecto a circulação facil das tropas e do material (deslocamentos e concentrações de meios que as operações reclamam, abastecimentos, evacuações).
O desenvolvimento e o estado da rêde das communicações influem de modo capital no valor de uma posição.
O estabelecimento de uma boa rêde de communicações deve, por conseguinte, ter começo logo que se iniciem os trabalhos de organização de uma posição.
31. A rêde das communicações de uma posição deve satisfazer ás codições seguintes:
Apresentar um desenvolvimento e uma disposição conforme ás necessidades que possam se apresentar, levando em conta os reforços e concentração de meios reclamados pelas operações;
Permittir eventualmente um emprego tão desenvolvido, quanto possivel, dos meios de grande rendimento: estradas de ferro de campanha (bitola reduzida), prolongadas até onde permittam as condições locaes e estradas para vehiculos automoveis;
Reduzir ao minimo possivel o numero de carretos (estradas e caminhos até tão proximo quanto possivel da primeira linha);
Permittir em todas as circumstancias, mesmo a despeito do inimigo, os movimentos no interior da posição e as relações dos diversos orgãos que constituem a posição entre si, e desta com os orgãos de retaguarda: communicações enterradas (parallelas e normaes) e subterraneas;
Constituir um conjunto coherente, cujos elementos (estradas, caminhos, estradas de ferro de bitola reduzida, communicações enterradas) se ajustem todos de modo que se auxiliem, se completem e tornem faceis os movimentos pela utilização successiva dos diversos elementos da rêde;
Estar apparelhado para o trafego maximo que for previsto (desvios nas communicações de toda especie, pontos de carga e descarga, convenientemente repartidos, nas estradas e vias ferreas de bitola reduzida);
Ser tão pouco vulneravel quanto possivel (escolha das zonas de percurso e dos traçados convenientes, disfarces de certos elementos, etc.).
32. A rêde das communicações é muito sensivel; degrada-se facilmente por effeito da circulação e das intemperies.
Consegue-se mantel-a em bom estado com uma disciplina rigorosa de circulação e uma organização judiciosa e previdente dos trabalhos de conservação.
Por ordem de importancia os elementos de uma rêde de communicações, são:
Estradas e caminhos;
Estradas de ferro de bitola reduzida;
Communicações enterradas.
ESTRADAS E CAMINHOS
33. As communicações por estradas e caminhos devem, como se disse acima, approximar-se tanto quando possivel da frente.
Há vantagem em organizar a rêde de estradas de modo que se preste ao estabelecimento de circuitos. Em todo caso, o circuito só será amplamente utilizado si as vias de ida e volta forem reunidas por varias transversaes.
As estradas serão estabelecidas de modo que permittam a circulação, quer em um só sentido, quer nos dous.
Nas estradas que apenas permittem a circulação em um sentido, é conveniente estabelecer desvios, de distancia em distancia, para que os vehiculos se possam emparelhar e eventualmente cruzar.
34. A rêde de estradas será completada com caminhos; Para viaturas, hippomoveis, estabelecidos ao longo de certas secções de estradas, para evitar o congestionamento e diminuir o desgasto;
Para viatura hippomoveis e para a infantaria, destinados a desembaraçar ou prolongar a rêde de estradas. Entre estes, os que só venham a ter utilidade em caso de circulação intensiva (caso de reforço), poderão ser apenas balizados; em tempo normal, ficarão interdictos, pelo menos na vizinhança da frente, afim de evitar que sejam referidos pelo inimigo.
35. De um modo gera, o desenfiamento das estradas e dos caminhos ás vistas dos observatorios terrestres e dos balões do inimigo, constituirá objecto de um estudo attento (procura de itinerarios desenfiados para as estradas e passagens de formação nova, disfarce dos trechos de estradas e de passagens viziveis dos observatorios terrestres e dos balões do inimigo).
Os trabalhos de desenfiamento dos itinerarios teem que ser executados immediatamente e sem esperar que a acção da artilharia inimiga demonstre sua necessidade.
ESTRADAS DE FERRO DE CAMPANHA
36. Em uma posição em que se permanece muito tempo 36. O emprego das estradas de ferro de bitola reduzida (0m, 60 ou 0m,40) é muito vantajoso em virtude:
do seu rendimento;
da economia de pessoal;
da diminuição de congestionamento e desgasto da rêde de estradas.
37. A rêde de 0m,60 prolonga para a frente a de bitola normal. Presta-se principalmente para o transporte de materiaes pesados (munições de artilharia, material de engenharia, etc.); tem grande flexibilidade para o serviço das installações de certa fixidez: depositos de munições de material de engenharia, baterias pesadas, etc.
Utiliza-se a tracção a vapor tanto quanto possivel; empregam-se tambem locotractores a gazolina ou de tracção animal (para pequenos percusos ou quando a proximidade da frente impossibilita a tracção a vapor).
38. A rêde de 0m,40 prolonga para a frente a de estradas ou a de 0m,60, conforme o caso.
De menor rendimento, mas de construcção mais facil e mais rapida que a linha de 0m,60, a de 0m,40 é preciosa para o transporte de materiaes pesados, em percurso pouco extensos, alimentação de baterias ou de depositos de material a que se não póde chegar por estrada ou por estradas de ferro de 0m,60, aprovisionamento das tropas dos setores em material, munições e generos, transportes interiores, nos locaes de trabalho, taes como remoções de desaterros, etc.
Os transportes, pela linha de 0m,40 fazem-se pela tracção animal ou a braço.
COMMUNICAÇÕES ENTERRADAS
39. Destinadas a permittir os movimentos ao abrigo das vistas na vizinhança do inimigo; comprehendem:
Communicações no sentido da frente, parallelas successivas que uma posição possa ter. (As parallelas são organizadas na maior parte do seu desenvolvimento como trincheira, Vide Cap. V);
Communicações no sentido perpendicular á frente, normaes;
Communicações subterraneas, destinadas a permittir a execução de certos movimentos com o maximo de segurança, o accesso ás installações, de combate, a ligação de abrigos entre si, a substituição, por uma galeria, de certos elementos de normaes importantes e especialmente expostos.
a) NORMAES
40. As normaes ligam entre si e com a retaguarda, as parallelas abrangidas pela posição.
Seu desenvolvimento para a retaguarda é determinado attendendo á profundidade de escalonamento das tropas da defasa, o aos deslocamentos provaveis das forças em caso de ataque. Poderá naturalmente ser menor em terreno accidentado ou coberto do que em terreno de fórmas pouco accentuadas e descoberto.
41. As normaes classificam-se em:
principaes, destinadas a assegurar as relações com a retaguarda, e que são continuas em toda a profundidade da rêde das communicações enterradas;
secundarias, destinadas a ligar entre si as parallelas successivas.
Em geral, e sempre que as tropas estão empenhadas, as normaes principaes são repartidas em:
normaes de adducção;
normaes de evacuação;
Assim em cada normal a circulação só se faz em um sentido.
Para cada regimento é preciso que se disponha pelo menos de uma normal principal de adducção e de uma principal de evacuação. O numero das normaes secundarias augmenta á medida que se caminha para a frente.
Cada companhia dispõe, em regra, de duas normaes entre a parallela principal e a de apoio.
A densidade da rêde de normaes deve ser determinada segundo estas regras, suppondo applicado o plano de reforço.
42. Traçado das normaes – A localização de uma normal é determinada levando-se em conta:
o fim a que se destina;
o interesse que possa haver em incorporal-a a uma organização destinada a compartir a posição;
as facilidades de desinfiamento que podem apresentar certas partes do terreno;
as condições do escoamento das aguas.
O traçado é minuciosamente determinado de modo que se evite o enfiamento ou se restrinjam seus effeitos (traçados sinuosos, em zig-zag, cremalheira, travézes, travézes contornaveis).
43. Perfil das normaes – O perfil da normal é do typo "sapa" nas partes em que só se trata de assegurar a circulação, e do typo „trincheira“ naquellas em que ella é utilizada como installação de combate.
O perfil pode, comtudo, depender:
a) da situação tactica; exemplo: necessidade, de arrazar o parapeito para diminuir-lhe a visibilidade, removendo, para certa distancia, as terras resultantes das escavações; para o mesmo fim póde utilizar-se a sapa russa;
b) da natureza do terreno; assim, a rocha e o terreno humido obrigarão fraca profundidade e augmento de relevo.
44. Organização defensiva das normaes – As normaes devem ser organizadas para attender:
– á sua defesa interior, palmo a palmo, em todos os casos (setteiras para fuzil ou para fuzis-metralhadores, estrados para granadeiros com certas mudanças de direcção, em frente aos quaes se estabelecerão alinhamentos rectos de comprimento sufficiente;
– á sua utilização para acções lateraes (installações de combate e defesas accessorias, como para as parallelas, degráos para subida e passagens superiores para os contra-ataques).
COMMUNICAÇÕES SUBTERRANEAS
(Em uma posição em que se permanece muito tempo)
45. As communicações subterraneas terão o mais amplo emprego no estabelecimento dos orgãos destacados da rêde das trincheiras e das normaes (ligação dos elementos dos grupos de combate entre si, galerias de accesso aos grupos de combate, partindo das normaes ou parallelas vizinhas).
As communicações subterraneas dessa categoria e, de um modo geral, as que interessam as installações de combate, são as mais importantes e devem ser executadas em primeiro logar. Estabelecem-se tambem communicações subterraneas entre os abrigos vizinhos para que todos disponham de numerosas sahidas. Emfim, ha por vezes necessidade de transpôr certas passagens perigosas pela galeria (e não pela normal).
46. A execução das galerias é lenta porque a superficie de ataque do trabalho é necessariamente limitada.
O trabalho pode ser accelerado:
1º, atacando a galeria por varios pontos ao mesmo tempo (descida em poços que permittem atacar o trabalho por pontos supplementares) quando a distancia do inimigo ou uma coberta favoravel o permittir;
2º, empregando meios mecanicos apropriados e mão de obra exercida.
CAPITULO IV
AS LIGAÇÕES E AS TRANSMISSÕES
47. Os differentes meios de transmissão das ordens e portes (rêde telephonica, T. S. F., T. P. S., telegrapho optico, signaleiros, paineis, artificios, mensageiros, pombos correios), constituem objecto da Instrucção para a Ligação e as Transmissões.
Devendo o chefe poder dispôr separadamente de qualquer desses meios de transmissão, e sendo todos solidarios, porque em dado momento qualquer delles terá de substituir todos os outros, as installações que lhes dizem respeito guardam entre si intima dependencia.
Entre essas installações, as relativas á rêde telephonica e á rêde optica, são as unicas que requerem trabalhos especiaes de alguma importancia. Esses trabalhos devem constituir o objecto de um plano de conjunto, resultante do plano das ligações, concebido na hypothese do maximo de necessidades previsiveis (casos de reforço).
E' essencial que a rêde das transmissões seja estabelecida e mantida em condições que lhe assegurem o maximo de segurança em caso de acção intensiva. Os meios que para isso se devem empregar são:
– a protecção e a dissimulação de todos os postos de transmissão (telephone, T. S. F., T. P. S., optica, mensageiros, pombos);
– traçado judicioso das linhas telephonicas e dos itinerarios dos mensageiros;
– a protecção das linhas telephonicas sujeitas aos riscos de destruição.
CAPITULO V
A COBERTA
48. A coberta é constituida pela trincheira, o abrigo e, além disso, pelas organizações isoladas para armas automaticas (com elementos de protecção, si for mistér); essas ultimas participam mais ou menos, segundo as circumstancias, da trincheira e do abrigo.
A TRINCHEIRA
49. Perfil da trincheira – O perfil da trincheira deve satisfazer ás condições seguintes:
1º Protecção – A melhor protecção é dada por uma trincheira estreita e profunda, cortada de travézes, destinada a limitar os effeitos dos projectis e proteger os homens dos fogos de escarpa e de enfiada.
Comtudo, a trincheira deve ser sufficientemente larga para permittir a circulação facil por trás dos atiradores.
O perfil varia com a natureza do terreno, conforme a profundidade que elle permitta dar á trincheira.
2º Visibilidade tão reduzuda quanto possivel – A trincheira deve ser difficilmente referida pelos observadores terrestres ou aéreos.
Pelo facto de, em terreno descoberto, a trincheira apparecer sempre na photographia, não se deve de modo algum desistir de obter a visibilidade minima. Diminuindo a nitidez das fórmas, póde-se perturbar de modo muito efficaz o trabalho do observador de artilharia inimigo (terrestre ou aéreo).
Diminue-se a visibilidade:
– Com a reducção do relevo, tanto quanto o permitta a necessidade de se ter um commandamento sufficiente sobre as immediações da trincheira, póde haver necessidade de supprimir o parapeito; nesse caso, a remoção dos desaterros torna o trabalho muito longo;
– Com a suppressão das fórmas muito regulares e das arestas;
– Com o disfarce dos desaterros de modo que pela côr elles se distingam o menos possivel do terreno adjacente.
50. Traçado da trincheira – O traçado da trincheira e determinado:
1º, pela situação tactica;
2º, pelas condições de flanqueamento;
3º, pela exigencia de obter-se uma acção efficaz de fogo contra as immediações da trincheira e o terreno do inimigo (em particular de um apoio de artilharia) e, inversamente, de condições capazes de diminuirem a efficacia dos fogos do inimigo.
CLBR Vol. 03 Ano 1921 Pág. 417 Figura 6.
1º Situação tactica – Em fim de combate, a tropa é geralmente obrigada a organizar-se no terreno que occupa, em contacto com o inimigo.
Nessas condições, só em limites muito restrictas é que se póde escolher o traçado.
Nos demais casos, a escolha do local que se deve occupar é determinada principalmente pela necessidade de assegurar passagens e bons observatorios. Inversamente, o traçado deve permittir dominar as sahidas eventuaes do inimigo.
2º Flanqueamento – Ver o capitulo I do titulo II.
3º possibilidade de acção de fogo e em particular de apoio de artilharia – O exame das vantagens e inconvenientes das diversas installações representadas na figura 6, fornece elementos de apreciação para a escolha de uma installação.
a) Em A temos um bom campo de tiro e vistas longinquas, mas o apoio da artilharia contra as encostas situadas na frente de A é muito difficil; por menos accentuadas que estas sejam, a artilharia de campanha só poderá attingil-as com baterias dispostas em flanqueamento (si lhe for possivel encontrar installações favoraveis e com o desenvolvimento sufficiente).
A artilharia inimiga vê bem a trincheira em A e o terreno em B A: está assim em condições de executar contra esse terreno tiros precisos e de apoiar efficazmente sua infantaria.
b) em B, tem-se boas vista longinquas, mas:
O campo de tiro B A é geralmente curto;
A partir de A o terreno escapa ás vistas (angulo morto) em grande extensão;
O apoio da artilharia no terreno B A, que só é visto de B e que escapa aos observadores afastados, é muito incompleto;
Em compensação, o inimigo só vê as avançadas da posição: escapa-lhe todo o terreno atrás de B.
c) Em C (contra-vertente) não se tem mais vistas extensas e o campo de tiro C B é curto, mas não ha mais difficuldades para o apoio da artilharia porque esta vê bem o terreno C B.
O inimigo vê bem o terreno até B, mas a partir de C o terreno fica para elle em angulo morto em grande extensão. Além disso, sua artilharia terá difficuldades para agir contra a encosta C D.
d) Em D, tem-se a vantagem do apoio pela artilharia que vê bem o terreno em B D, mas o inimigo descobre toda a posição. Comtudo, a artilharia inimiga terá ainda difficuldades para actuar contra as encostas C D, por menos pronunciadas que estas sejam.
e) Em E tem-se extenso campo de tiro, descobre-se bem o terreno do inimiço, graças aos observatorios situados atrás; a artilharia póde apoiar em boas condições, mas o inimigo dispõe igualmente de boas vistas e de facilidades para o emprego de sua artilharia.
Resulta da discussão precedente que a installação em contra-vertente (em C) apresenta sérias vantagens sob o ponto de vista da utilização dos meios de defesa para a conservação da posição (cooperação facil da infantaria e da artilharia, relativa á liberdade de movimentos na zona C D, difficil de bater pela artilharia inimiga).
Comtudo, a difficuldade de ver as organizações do inimigo, diminue de modo notavel as possibilidades de acção contra este em qualquer occasião (o que já é um grave inconveniente), mas principalmente no caso de operações offensivas.
E’ necessario, por conseguinte, que sejam asseguradas as vantagens inherentes á posse do observatorio, sem que se percam as da collocação em contra-vertente.
Para manter o observatorio, traça-se a trincheira na frente da crista e procura-se diminuir os inconvenientes dessa situação (que residem principalmente, como se viu, nas difficuldades de apoio pela artilharia), estudando e organizando a fundo os flanqueamentos (infantaria e artilharia).
– de deter com uma acção poderosa de fogos o inimigo que consiga transpôr a crista (nesse momento far-se-hão sentir de novo as vantagens de uma cooperação facil da infantaria e da artilharia);
– de repellir o inimigo para além da crista pelo contra-ataque.
A organização das zonas dotadas de observatorios importantes deverá ser muito cuidada segundo a ordem de idéas que acaba de ser indicada; comprehenderá, sempre que for possivel, communicações subterraneas que proporcionem ligações seguras, em quaesquer circumstancias, com os elementos estabelecidos adeante da crista (7).
51. Falsas trincheiras – As falsas trincheiras destinam-se a impedir o inimigo de discernir, pela observação directa ou pelo estado da photographia, a funcção e a importancia relativa dos diversos elementos da posição. Serão empregadas principalmente nos intervallos, para dar a estes a mesma apparencia dos elementos activos da organização.
As falsas trincheiras precisarão ter profundidade sufficiente para darem, em photographia, a illusão de uma verdadeira trincheira (50 centimetros no minimo). As terras extrahidas não deverão perturbar a acção dos orgãos de flanqueamento.
Haverá vantagem em traçar as falsas trincheiras de modo que possam, depois de aprofundadas, ser utilizadas em caso de necessidade.
O ABRIGO
52. O fim dos abrigos é conservar intactos a tropa e o material até o momento do seu emprego (8).
São orgãos essenciais da organização do terreno.
Podem ser classificados em tres categorias:
1º Só para o pessoal:
Postos de commando;
Postos de soccorro.
2º Só para o material:
Abrigos de munições, de generos, etc.
3º Para o pessoal e o material (petrechos de combate):
Abrigos para os homens (com suas armas);
Idem para metralhadoras;
Idem para diversos petrechos;
Idem para canhões;
Idem para projectores, etc.
53. Collocação a capacidade dos abrigos – A collocação é fixada pelo commando que terá em vista, antes do mais, as necessidades tacticas e depois as facilidades de dissimulação, de construcção, etc.
_______________
(7) Exemplo: Posto telephonico adeante da crista, ligado por galeria subterranea, a um posto optico estabelecido na vertente occulta ao inimigo.
(8) Em uma organização rapida, preparar, antes de mais, os postos de commando e os abrigos para metralhadoras, em seguida os postos de soccorro.
E’ preciso evitar que considerações secundarias de commodidade, e de menor esforço, deem logar a uma repartição dos abrigos que não permitta o bom emprego dos meios em caso de ataque.
O escalonamento dos abrigos é funcção do escalonamento dos meios de defesa; não se deve proceder inversamente.
A capacidade dos abrigos é determinada por considerações da mesma ordem.
Geralmente os abrigos não deverão ser demasiadamente grandes, para limitar as consequencias dos accidentes e permittir uma sahida rapida.
Os abrigos para os homens serão estabelecidos para esquadras, meio pelotão, no maximo pelotão; comtudo, os abrigos para reservas importantes, construidos longe do inimigo, poderão ser mais espaçosos. Aliás, será sempre necessario que se disponha de abrigos de pequena capacidade em toda a profundidade da posição, uma vez que os elementos successivos dessa posição podem, em consequencia de um progresso do inimigo, desempenhar eventualmente o papel attribuido ás organizações da zona da parallela principal.
54. Dissimulação dos abrigos – E’ necessario dissimular os abrigos a todo custo. Sem essa precaução, tornar-se-iam alvo de tiros systematicos de destruição, e correriam muito o risco de não poderem desempenhar seu papel em caso de ataque, mesmo suppondo que tivessem resistido ao tiro dirigido contra elles. (Obstrucção possivel das entradas, tiros de neutralização com o fim de impedir a sahida, etc.).
As parallelas e as normaes constituem excellentes cobertas para a dissimualção da entrada do abrigo (9). Para isso ainda será preciso que desaterros de volume anormal não venham revelar as construcções subterraneas subjacentes. Será melhor, sempre que for possivel, remover os desaterros, lançando-os a grande distancia; em certos casos, poder-se-ha repartir esses desaterros e com elle simular abrigos nas zonas para onde não se receia attrahir o fogo do inimigo.
Indicios apparentemente insignificantes podem trahir um abrigo, por exemplo: a entrada, e mesmo uma simples chaminé de arejamento, apparecendo nas photographias sob a fórma de uma mancha sombria de fórma regular.
O disfarce deverá, por conseguinte, ser minucioso.
E’ essencial emprehendel-o desde o começo da construcção, porque, de facto, durante esta é que geralmente o trabalho se torna mais visivel.
55. Resistencia dos abrigos – Conforme sua resistencia os abrigos classificam-se em:
Abrigos ligeiros, que asseguram protecção contra os estilhaços de projecto e, até certo ponto, contra os projectis das peças de pequeno calibre (73 a 105);
Abrigos resistentes, capazes de resistir ao tiro systematico e regulado das peças de calibre médio (120 a 155).
________________
(9) E não é uma das menores vantagens das parallelas e normaes.
Os abrigos devem ser sempre resistentes, excepto nos casos em que de sua adopção resultem grandes inconvenientes e em que se encontrem difficuldades insuperaveis para sua construcção. De modo geral, devem existir em toda posição abrigos resistentes para alojar pelo menos o effectivo da guarnição normal. Obtido esse primeiro resultado o numero dos abrigos resistentes é augmentado, de accôrdo com as bases do plano de reforçamento.
O abrigo ligeiro é empregado quando não é possivel construir o resistente, ou, então, quando o trabalho necessario para a construcção deste ultimo não está em proporção com o fim que se quer attingir. Os abrigos ligeiros são sempre estabelecidos para pequenos effectivos (pequenos postos, refugios no itinerario que os mensageiros tem de seguir, etc.). Reduzem-se, assim, com a dispersão e o pequeno volume do abrigo, os perigos resultantes da diminuição de resistencia.
56. Modo de construcção dos abrigos, materiaes empregados.
– Quer sejam ligeiros, quer resistentes, os abrigos são construidos:
Em galeria de mina (abrigos cavernas);
Em escavação a céo aberto (abrigo estabelecido em uma escavação feita préviamente a céo aberto e coberto com materiaes trazidos de fóra (10).
O abrigo póde ser construido em galeria de mina na generalidade dos terrenos e na vizinhança do inimigo; para sua construcção basta mão de obra de aptidão média, salvo difficuldades especiaes, mas, para ser resistente, deve-se-o estabelecer á grande profundidade, o que é um inconveniente.
O abrigo em escavação a céo aberto não póde ser construido proximo ao inimigo, em vista da difficuldade de dissimilar o trabalho (excepção feita dos pequenos abrigos, taes como postos de espreita, e dos executados em terreno coberto). Demais exige o transporte até á obra de um enorme peso de materiaes. Seu emprego póde ser imposto por necessidades tacticas (por exemplo: organização de uma installação de tiro abrigada) ou pela natureza do terreno (terreno humido em que não se póde ir a grande profundidade).
Obtem-se o abrigo resistente:
– De typo galeria de mina, dando-se á terra virgem, do céo, uma espessura sufficiente (3 a 4 metros) conforme o terreno. Si a camada de terra virgem for insufficiente, será reforçada por meio de uma camada de arrebentamento (madeiras, trilhos vigas de ferro, etc.), que dê á galeria a resistencia necessaria nas direcções perigosas;
– Do typo a céo aberto, cobrindo-se, entretanto, a escavação com uma camada de materiaes constituida nas condições da camada de arrebentamento acima referida, mas de espessura mais consideravel.
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(10) O abrigo inteiramente em relevo será muito raro: far-se-ha sempre o possivel para enterral-o mais ou menos.
Quando se póde escolher o modo de construcção e os materiaes, ha sempre vantagem em empregar os que proporcionem a resistencia maxima com o minimo de espessura, porque assim se diminue a profundidade e o relevo do abrigo. A grande profundidade é uma desvantagem que se impõe com frequencia, mas constitue sempte um inconveniente.
57. Organização do abrigo tendo em vista o combate – Só se trata aqui dos abrigos da 3ª categoria (abrigos para a tropa e os petrechos de combate).
E’ de importancia capital que os abrigos dessa categoria satisfaçam as condições seguintes:
– Possibilidade de dar rebate de modo seguro e rapido em caso de ataque;
– Possibilidade de alcançar as installações de combate antes que o inimigo tenha podido attingir as entradas do abrigo.
Além disso, devem-se adoptar as disposições necessarias para a defesa das immediações.
58. Alarma – Todo abrigo deve ser combinado com o posto de espreita, tanto quanto possivel formando corpo com o abrigo, afim de que o alarma, em caso de ataque, possa ser dado instantaneamente aos occupantes.
Todo abrigo que não se presta á installação de um posto de espreita em sua vizinhança immediata deve ser posto á margem.
Quando se escolhe o local para um abrigo não se póde desprezar essa circumstancia.
59. Occupação das installações de combate – A occupação rapida das installaçes de combate exige:
Sahidas numerosas (duas no minimo por abrigo) e commodas;
Installações de combate situadas o mais perto possivel da posição de espera no interior do abrigo.
As observações seguintes, de grande importancia, são concernentes á distancia que deve existir entre a posição de espera no interior do abrigo e a de combate:
a) é de muita vantagem dispôr de abrigos resistentes pouco profundos (11);
b) obtem-se a solução idéal quando se póde proteger a installação de combate com um abrigo resistente: installação de combate e de espera confundem-se então, e a intervenção póde ser instantanea. Exemplo: casamata para metralhadora na extremidade de uma galeria que desemboca em rampa ingreme: abrigo resistente de tiro para metralhadora dissimulado em ruinas ou protegido por uma coberta qualquer, etc.). Algumas vezes empregar-se-ha utílmente um processo intermediario que consiste em estabelecer junto da installação de combate, um abrigo de alarma resistente, de dimensões estrictamente necessarias para o pessoal e o material. Exemplo: nicho estabelecido na beira de um poço-metralhador, onde, em caso de necessidade, a metralhadora e seus serventes se resguardam. A installação de alarma deve ser provida de meios de observação (periscopio, etc.).
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(11) Assim, theoricamente, o abrigo de concreto seria o melhor.
60. Defesa approximada dos abrigos – Consiste em impedir que o inimigo tome as entradas (organização dos travézes vizinhos, por exemplo) e – o que é melhor – na creação de galeria com sahida occulta para o campo aberto, que permitta um contra-ataque no caso do adversario se apoderar de outras sahidas.
61. Observação – E' essencial observar que a occupação opportuna das installações de combate não depende simplesmente de boa organização do abrigo.
Depende tambem, e muito mais, da instrucção e disciplina da tropa, que deve ser absolutamente adestrada, por frequentes exercicios de alarma, a tomar rapidamente as disposições de combate.
62. Preparação dos abrigos – Não se devem poupar esforços para melhorar as condições de habitabilidade dos abrigos, de modo que permittam uma demorada permanencia, sem as baixas motivadas pelas más condições hygienicas.
E’ indispensavel cuidadosa protecção contra a invasão das aguas.
Desde o começo da construcção devem-se adoptar medidas para esse fim (assegurar a impermeabilidade do revestimento, si se trata de abrigo-caverna; organizar dispositivos interiores que permittam o escoamento das aguas para depositos ou poços que serão esgotados por meio de bombas). Em qualquer caso é necessario impedir que as aguas da chuva penetrem pelas entradas.
Installam-se chaminés para o arejamento dos abrigos.
Os abrigos para o pessoal contém os necessarios artigos de alojamento (camas de campanha, etc.) e, além disso, para o caso de obstrucção, dispõem de algumas ferramentas (pás, picaretas, machados), de saccos de terra e meios illuminativos de occasião (lampadas de algibeira, velas).
PREPARAÇÃO DA TRICHEIRA E DO ABRIGO PARA UTILIZAÇÃO DAS DIFFERENTES ARMAS
Elementos dos grupos de combate
63. Metralhadora – As installações das metralhadoras ficam, na maioria dos casos, fóra das parallelas e são escalonadas em profundidade; comtudo, algumas vezes, embora raras fica-se obrigado a estabelecel-as nas parallelas.
Suas partes constitutivas são:
– uma plataforma de tiro a céo aberto ou abrigada;
– um abrigo para os homens, o material e as munições;
– uma communicação entre o abrigo e a plataforma.
Como já foi dito, é necessario aproveitar todas as circumstancias favoraveis para organizar a installação de tiro em um abrigo resistente (em taludes escarpados que permittam installação em casamata; na extremidade de uma galeria; em cobertas de diversas naturezas e que tornem possivel a construcção de abrigos em relevo).
Essa disposição tem a vantagem não só de proteger os serventes na posição de combate, como ainda permittir a intervenção instantanea da metralhadora quando o inimigo desemboca (o posto de alarma e a installação de combate confundem-se neste caso).
Quando tal solução não é possivel, procura-se dispor um abrigo de alarma pouco profundo, proximo á installação de combate, pelo menos para a metralhadora e as munições e, si for possivel, para os serventes. Haverá, então, um abrigo de descanso, um de alarma e uma installação de combate.
64. Fuzil-metralhador – O fuzil-metralhador atira, em principio, sem installação especial, mais ha sempre vantagem em organizar um posto analogo ao da metralhadora.
65. Fuzil – Em caso de ataque, o volteador atira por cima do parapeito. Em tempo normal, os volteadores isolados atiram pelas setteiras. Tanto quanto possivel a setteira é disposta obliquamente am relação á linha de fogo inimiga, afim de evitar o fogo de enfiada. A abertura exterior da setteira deve ser dissimulada, por exemplo, por meio de uma trama feita de cordão (evitar a fórma regular). A abertura inferior não deve projectar-se no céo ou em fundo que contraste com o da trincheira, para que o inimigo não possa distinguir si a setteira está ou não occupada. E' sempre prudente suspender um panno, de côr conveniente, em frente da abertura interior (12).
66. Granadas – A preparação de postos ou estrados para granadeiros consiste em dar á banqueta de tiro a largura de um metro (em vez 0m,50). Os postos para granadeiros atiradores não reclamam disposição especial.
61. Petrechos de infantaria – Para os petrechos de infantaria fazem-se varias adaptações conforme suas propriedades e condições do serviço. Muitas vezes, é inutil preparar installações de tiro que, exijam trabalhos importantes; em compensação, deve-se preferir um grande numero delles, para para que se possa aproveitar a mobilidade do material, porque essa mobilidade é um elemento de segurança ao mesmo tempo que augmenta à efficiencia.
PREPARAÇÃO DOS GRUPOS DE COMBATE
68. O grupo de combate comprehende uma ou varias armas automaticas.
Determina-se primeiramente a installação da arma automatica ou das armas automaticas, de accôrdo com a missão que lhes é dada, e depois a do observatorio do comandante do grupo (13).
Determina-se em seguida as installações das armas auxiliares.
E' essencial que os elementos do grupo de combate nã0 fiquem muito dispersos, para que se possa exercer a acção do chefe. Os elementos destacados teem sempre uma missão bem definida, subordinada á da arma perigosa, (flanqueamento).
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(12) Esta observação applica-se, claro esta a todas as setteiras (postos de espreita, observatorios).
(13) Perto do abrigo.
CLBR Vol. 03 Ano 1921 Pág. 424-1. Figuras 7 e 8.
Em certos casos uma metralhadora, pela sua collocação, se achará no raio de acção de grupos de combate visinhos: será inutil, nessas condições, dar-lhe elementos de protecção especiaes. A’ installação de combate de cada elemento corresponde um abrigo, excepto o caso de haver um abrigo para todo o grupo.
Completam a organização do grupo de combate as communicações, em que reunem entre si seus differentes elementos e, eventualmente, a rêde das defesas accessorias, especial do grupo.
Tanto quanto possivel as communicações serão subterranea (segurança das relações entre os diversos elementos do grupo de combate, invisibilidade). Si não se puder desde logo crear communicações subterraneas, estabelecem-se superficiaes para começar, mas, logo que se possa, fazem-se sem demora as subterraneas.
A rêde especial das defesas accessorias, que tem por fim cercar mais ou menos completamente o grupo de combate, deve ser especialmente cuidada no ponto de vista da dissimulação (adoptar-se-há frequentemente a rêde baixa de estacas muito espaçadas e irregularmente repartidas).
E’ sempre perigoso e deve ser evitado na organização do grupo de combate, fazer apparecer uma ilhota suspeita; convem, por conseguinte, antes de começar a execução, imaginar que fórma apresentará, no meio das organizações vizinhas, e plano que se elaborou, uma vez executado. Geralmente, ser-se-ha assim levado a retocal-o, e a préver organizações simuladas, afim de que, no conjuncto, o grupo desappareça do modo mais completo.
As figuras 7 e 8 dão, simplesmente como indicação, exemplos de organização de um grupo de combate.
PREPARAÇÃO DAS ZONAS DE CONTRA-ATAQUE
69. Para que um contra-ataque seja desencadeado automaticamente, é necessario que haja um plano preconcebido de contra-ataque, estabelecido de accôrdo com a hypothese mais verosimil e comportando apenas variantes simples.
O plano de contra-ataque é a base da preparação de terreno para o contra-ataque.
Essa preparação comprehende essencialmente:
Abrigos para a tropa de contra-ataque;
Orgãos que permittam proteger e apoiar o contra-ataque com o fogo.
Os abrigos devem satisfazer as condições geraes indicadas precedentemente. Si não estiverem situados na propria base de partida do contra-ataque, a ella ligados por numerosas normaes.
Executar-se-hão todos os trabalhos necessarios para que o movimento do contra-ataque seja possivel (degráos para a subida, passagens nas parallelas ou normaes, corredores nas rêdes de arame farpado).
Os orgãos de fogo consistirão em grupos de combate organizados nos flancos da base de partida, de modo que se possa apoiar durante o maior tempo possivel, a progressão do contra-ataque e proteger-lhe os flancos. Além disso, metralhadoras dispostas atraz, deverão estar em condições de apoiar o contra-ataque com tiro indirecto a grande distancia.
Procurar-se-há combinar as installações dos orgãos de fogo, compartindo o terreno por meio de defesas accessorias, de modo que aprogressão do inimigo se oriente para as zonas favoraveis á acção do fogo da defesa.
CAPITULO VI
O OBSTACULO
70. O obstaculo tem por fim estorvar a marcha do assaltante e mantel-o o maior tempo possivel sob o fogo a pequena distancia do defensor. E’ afinal um meio de augmentar a efficacia do fogo na defesa.
Assim sendo, não se concede um obstaculo não batido (14), isto é, não flanqueado, uma vez que o flanqueamento é o modo mais geral de emprego do fogo na defesa.
Reciprocamente, ha sempre a maior utilidade em reforçar a efficacia de um elemento de fogo, detendo o inimigo na zona de acção, por meio de um obstaculo.
Além disso, um obstaculo solido facilita o serviço de segurança e tira ao inimigo a possibilidade de um ataque de surpresa.
Tanto quanto possivel utilizam-se os obstaculos naturaes (cursos d’agua, zonas pantanosas, etc.); na falta destes, porém, recorre-se aos artificiaes (defesas accessorias).
CARACTERES GERAES
71. A organização de conjunto do obstaculo resulta das considerações relativas á organização de conjuncto de uma posição, expostas precedentemente.
O obstaculo é organizado em profundidade, conformando-se com a distribuição dos orgãos de combate. Comprehende uma ampla divisão do terreno em compartimentos, correspondendo ás grandes linhas da organização (parallelas, normaes), e é completado por installações secundarias, que correspondem aos pequenos grupos tacticos: (grupos de combate, pontos de apoio, etc.).
Na organização do obstaculo deve haver a preoccupação constante de não fornecer ao inimigo indicações uteis sobre o modo por que a posição está occupada e, em particular, de não lhe revelar as installações dos orgãos de combate importantes.
Nas minucias da organização do obstaculo, procurar-se-há satisfazer as condições seguintes:
1º, assegurar o flanqueamento completo do obstaculo, dispondo este ultimo em grandes alinhamentos rectos, convenientemente situados em relação aos orgãos de flanqueamento;
2º, permittir vigilancia approximada, evitando, comtudo, que o inimigo tenha a possibilidade de destruir com as mesmas peças o obstaculo e os orgãos de combate situado immediatamente atráz.
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(14) – Trata-se aqui sómente do emprego do obstaculo em um terreno preparado para o combate. O obstaculo empregado isoladamente só póde ter utilidade em outras circumstancias (obstrucção de vias de communicação, com o fim exclusivo de ganhar tempo, por exemplo).
Conciliam-se essas condições:
– Colllocando o obstaculo a uma distancia variavel de 20 a 100 metros, ás vezes mesmo maior, e dando-lhe um traçado independente do das organizações que protege;
– Empregando orgãos de vigilancia (pequenos postos reunidos ou não por uma parallela de vigilancia), cujas ligações com a parallela principal serão tanto quanto possivel dissimuladas.
3º, Não embaraçando o emprego dos meios de combate da defesa, o que se consegue, estabelecendo o obstaculo tanto quanto possivel com altura sufficientemente pequena para que se não fique obrigado a atirar através delle, (o que além de muito o estragar, diminue a efficacia do fogo); e interrompendo o obstaculo, onde fôr necessario para o jogo previsto dos contra-ataques, mas, tudo preparado para fechar essas passagens, si a situação o impuzer.
4º, Occultando o mais possivel o obstaculo ás investigações dos observadores terrestres e aereos do inimigo, para furtal-o á destruição e obter o effeito de surpreza:
– Ora com a escolha da installação (contravertente, depressões naturaes, bosques, culturas diversas);
– Ora pela implantação do obstaculo em uma depressão artificial, que se obtem cavando o terreno (15);
– Ora pela propria constituição do obstaculo: obstaculo baixo e pouco denso, que pequenos resaltos do solo ou uma vegetação pouco abundante, são sufficientes para ocultar (16).
5º, Dando progressivamente ao obstaculo o maximo de resistencia, contra tiros de destruição da artilharia inimiga, pela solidez dos seus elementos e, principalmente, por sua profundidade (faixa successiva, separadas por intervalos).
6º, Estabelecendo o obstaculo que intepessa a um orgão de fraca extensão de modo tal que não revele a situação desse orgão. Tal será o caso, por exemplo, de certos grupos de combate, pontos de apoio ou baterias, que se julgue util cercar com um obstaculo continuo; neste caso convém sacrificar a solidez á invisibilidade. Aliás, o que a diminuição de solidez faz perder em efficacia, póde ser compensado largamente pelo effeito da surpreza obtida pela invisibilidade.
PROPRIEDADES DOS DIVERSOS OBSTACULOS
72. Utilizam-se como defesas accessorias:
As rêdes de arame;
Os abatizes;
As palliçadas, as palancas, as barricadas;
As inundações, etc.
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(14) – Processo excepcional, porque acarreta grandes trabalhos de desaterro.
(2) – Este genero de obstaculo que consiste principalmente em pequenos arbustos, póde ser de uso corrente em muitos terrenos do nosso paiz.
Essa enumeração não póde ser limitada; tudo o que póde embaraçar a marcha do inimigo na zona batida pelo fogo do defensor, é susceptivel de ser empregado, confórme as circumstancias, como defesa accessoria.
73. As rêdes de arame constituem a melhor das defesas aceessorias, e, além disso, a, unica que póde ser empregada em grandes extensões.
Constróem-se rapidamente em um ponto qualquer, porque os materiaes necessarios, leves e relativamente de pequeno volume, são susceptiveis de transporte até á obra, com muita facilidade. Essas rêdes pódem, além, disso ser estabelecidas com elementos preparados de antemão (cavallos de frisa, typos diversos de rêdes dobraveis ou desmontaveis).
Em qualquer terreno, nos pontos em que ha motivos para se sacrificar a solidez, á invisibilidade, póde-se diminuir, quanto se queira, a sua visibilidade, conservando-lhes, comtudo, uma certa solidez.
As rêdes de arame são, por conseguinte, de facil adaptação ás diversas condições tacticas que se podem apresentar.
A desteuição das rêdes pelo fogo da artilharia e das metralhadoras é possivel, mas exige um consumo muito grande de munições (17).
Augmenta-se notavelmente sua resistencia á destruição, dispondo-as em faixas rectilineas não parallelas (2 a 4 feixas) de seis a oito metros de espessura, separadas por intervallos de l0 a 50 metros de largura.
74. Os atatizes, constituidos de arvores ou grandes ramos cortados, solidamente plantados, com os ramos principaes em ponta e ás vezes entremeiados de arame, constituem um obstaculo sério e difficil de destruir, mas as difficuldades consideraveis de transporte das arvores apenas permittem encarar seu emprego nos bosques ou na visinhança immediata destes.
75. As paliçadas, palancas e barricadas só são estabelecidas fóra dos logares expostos aos tiros precisos de artilharia e assim mesmo em pequena extensão (para fechar bréchas, impedir estradas e organizar orgãos de flanqueamento nas localidades, etc.).
76. As inundações estabelecidas além de parte da frente de uma posição facilitam muito sua defesa.
CAPITULO VII
ORGANIZAÇÃO DAS BATERIAS
Escolha das installações de baterias
77. O commandante da artilharia fixa, de accôrdo com as instrucções do commando, a zona que tem de ser occupada pelas baterias indicadas para desempenharem uma determinada missão (posição de bateria). Os commandantes de grupos, auxiliados por seus commandantes de bateria, fixam a installação exacta de cada bateria (installação de bateria).
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(17) – São necessarios cerca de 500 tiros de canhão de campanha para fazer uma brecha de 25 metros de largura em uma rêde de l0 a 15 metros de profundidade, a uma distancia de tiro inferior a 4.000 metros, e cerca de 3.000 de metralhadora para praticar uma brecha de tres a quatro metros em uma rêde de qualquer profundidade, a uma distancia de tiro inferior a 300 metros.
Na escolha das installações de bateria, devem-se levar em conta:
– As facilidades de construcção, para que a abertura do fogo se faça com a menor demora possivel;
– As cobertas naturaes que as desenfiem das vistas terrestres e aéreas ou facilitem a organização de mascaras artificiaes (bosques, margens de estradas, caminhos cavados, antigas posições de infantaria, localidades, ruinas, barreitas, etc.);
– As condições de accesso que influem na rapidez e segurança das communicações com a bateria, e que dão maior ou menor facilidade para furtal-a ás investigações do inimigo. Exemplo: o estabelecimento á margem de uma estrada permitte o remunciamento e as ligações da bateria sem se tornar necessaria a abertura de um caminho especial; isso é de especial vantagem para as baterias pesadas, cujos deslocamentos fóra das estações são quando faz máo tempo ainda mais aleatorios.
Organização das installações
78. A installação na qual assenta o canhão (terrapleno) fica geralmente abaixo do sólo natural, a uma altura igual á das munhoneiras, ou mesmo maior, si não resultar dahi que se tenha de atirar com uma alça minima inadmissivel.
O terrapleno é coberto ou não por uma casamata, que póde ser, ou cassamata ligeira á prova de estilhaços, ou casamata á prova de tiro de percussão.
A casamata á prova de tiro de percussão só é estabelecida quando se dispõe de muito tempo e muito material.
Muitas vezes estabelece-se em cima do terrapleno uma plataforma de madeira sobre a qual assenta o canhão. Aos lados de cada terrapleno preparam-se abrigos de bombardeio para o pessoal. Para as munições, abrem-se tambem nichos ao redor dos terraplenos.
Em cada bateria ou uma de suas salas, estabelece-se um posto de commando, com posto telephonico. A circulação a coberto na bateria faz-se por normaes. Dissimulam-se as entradas dos nichos de munições, nellas situadas, muitas vezes mais importantes que as dos terraplenos.
Esta organização, em suas grandes linhas mais ou menos a mesma em todos os typos de bateria, é completada:
– Com abrigos de munições estabelecidos a pequena distancia das baterias para conterem o complemento de seu aprovisionamento em munições;
– Com abrigos de pessoal organizados atrás das baterias em pontos menos expostos ao tiro do inimigo;
– Com observatorios, postos de signalização, postos de T.S.F.P.C. dos commandantes de grupos e de agrupamentos, etc.;
– Com todas as ligações necessarias (electricas, opticas e por artificios).
79. Além disso, toda bateria, para a qual a hypothese de um ataque approximado de infanatria inimiga não deva ser absolutamente afastada, precisa estar organizada para a defesa immediata.
Esta organização consistirá essencialmente:
– Na preparação de installações de combate para os serventes e as metralhadoras de artilharia;
– Em defesa accessorias, tão pouco visiveis quanto possivel, afim de não revelarem a installação da bateria;
– Em nicho de munição para armas portateis e granadas.
Far-se-hão exercicios frequentes de alarma para adestrar o pessoal na defesa approximada.
80. O disfarce das installações de bateria é da maior importancia. O plano de disfarce é estabelecido ao mesmo tempo que o projecto da organização da bateria.
O disfarce começa logo que se assenta o traçado da bateria em suas grandes linhas.
TITULO III
Combinação dos elementos da organização do terreno
81. O commando concebe a organização; ordena e dirige sua execução.
A concepção traduz-se em planos de organização.
A execução é determinada por ordens redigidas na mesma fórma das ordens de operações.
O emprego das organizações é previsto nos planos de defesa e de reforço estabelecidos pelo commando.
82. As condições de execução variam essencialmente com o terreno, e, sobretudo, com a situação tactica.
Uma boa execução, reclama em todos os casos:
– A traducção das decisões do commando em ordens perfeitamente claras;
– A distribuição logica das missões entre as differentes armas, tendo em mira particularmente utilizar do melhor modo possivel as aptidões especiaes das unidades de engenharia;
– O trabalho por unidades constituidas;
– A boa instrucção technica da tropa.
No combate, a organização do terreno é uma verdadeira manobra, cujo successo exige uma instrucção muito desenvolvida dos quadros e da tropa.
83. A continuidade dos planos de organização e a condição principal para uma realização rapida e logica, e um bom rendimento do trabalho.
Quando uma unidade é substituida por outra não deve haver modificações na concepção, realização e utilização das organizações.
CAPITULO I
ORGANIZAÇÃO DO TERRENO EM COMBATE
I – Caracteres da organização do terreno, em combate
84. A organização do terreno é uma operação militar, que, como qualquer outra, para ser coroada de bom exito, deve ser dirigida. O commando, em todos os escalões, deve, durante o combate, poder intervir promptamente. O combatente, exposto ao fogo, desde que se detém põe-se a trabalhar, mas, si o chefe não intervém, seus esforços são incoherentes, muitas vezes guiados exclusivamente pela preoccupação de abrigar-se. Uma decisão prompta faz convergir todos os esforços para um mesmo fim e evita os trabalhos inuteis.
85. O trabalho de organização confiado a uma tropa é uma missão, uma fórma de combate. Os deveres e as responsabilidades dos quadros, durante o trabalho, são os mesmos que no combate propriamente dito. Trabalha-se como se combate; por unidades constituidas.
86. E’ capital obter ascendencias sobre o inimigo na organizaçãodo terreno. Na offensiva é preciso surprehendel-o com uma organização rapida, que permitta atacar de novo antes que elle tenha tempo de se refazer. Na defensiva é preciso vencel-o em velocidade para lhe oppôr mais cedo solidas organizações.
II – Planos de organização
Ordens de execução
87. De um modo geral, as regras que se devem observar na creação de uma organização são sempre as mesmas, quer se esteja em combate, quer longe do inimigo.
Essas regras serão desenvolvidas no capitulo seguinte.
Comtudo, as condições do combate impõem naturalmente variantes na applicação.
88. Uma tropa empenhada organiza-se onde se detem, sempre que não tiver em mira a continuação immediata do movimento.
As organizações creadas durante o combate são por conseguinte, de importancia muito variavel.
89. Si se trata de realizar uma organização logo após uma parada imprevista, os primeiros trabalhos ficam entregues necessariamente á iniciativa das pequenas unidades.
Eles decorrem simplesmente por todo commandante de unidade logo que prevê paradas de alguma duração. Essas tem por fim:
– Estabelecer uma barragem de fogos de infantaria, em que o flanqueamento deve constituir o elemento essencial. Isso importa a escolha de uma installação e de um traçado (18) da frente favoraveis e a determinação das installações das armas automaticas.
– Ordenar o dispositivo, com particularidade, o escalonamento (19) das tropas e a organização do commando, do que resulta a determinação dos grupos de combate, pontos de apoio, centros de resistencia.
Emquanto se executam esses primeiros trabalhos por Emquanto se executam esses primeiros trabalhos por iniciativa dos commandantes das pequenas unidades, os escalões superiores reunem as informações necessarias para estabelecer o plano de conjunto, cujas grandes linhas são communicadas, o mais cêdo possivel, aos escalões subordinados sob a fórma de ordens, afim de orientar os esforços de todos e evitar os trabalhos que não estiverem de accôrdo com a organização projectada.
90. Si se trata de organizar o terreno conquistado, em consequencia de uma operação offensiva de objectivo limitado ou de uma parada prevista no decurso de uma operação offensiva, o plano de organização é asseitado préviamente e as medidas de execução são incluidas nas ordens de ataque. Estas indicam:
– A organização que se deve realizar a distribuição das missões para a execução dos trabalhos (esboço);
– A ordem de urgencia dos trabalhos;
– As disposições que devem ser tomadas para o aprovisionamento de ferramentas e materiaes.
Essas ordens poderão ter uma execução incompleta, em virtude do terreno ser insufficientemente conhecido, ou da situação em fim de combate differir da que foi prevista.
Competirá então aos escalões subordinados introduzirem no plano as modificações de minucia necessarias; o commando superior intervirá, depois, si for mistér, para rectificar o plano de conjunto.
III – Conducta da execução
91. Na conducta da execução serão obedecidas as regras e obervações seguintes:
92. Distribuição simples das missões – Em principio, trabalhar-se no logar onde se está. A observação deste preceito é simples, uma vez que o escalonamento das organizações deve corresponder ao das froças. Só as unidades empregadas como reforço de certos trabalhos especialmente urgentes fazem excepção a esta regra; assim mesmo, deve-se fazer sempre o possivel para reduzir os deslocamentos ao minimo.
93. Reconhecimento, plano, ordens de execução – O chefe procede a um trabalho preparatorio como si se tratasse de qualquer outra operação. O reconhecimento, o plano, a ordem de execução, em certos casos, podem dispensar qualquer documento escripto, mas devem sempre preceder a distribuição dos homens para o trabalho. Não se conduz uma operação, por menos importante que seja, de accôrdo com uma fórmula unica. Assim tambem acontece com os trabalhos mais simples. O chefe tem, em cada caso, o dever de capacitar-se das condições particulares em que se apresenta o trabalho, que deve ser executado, e escolher um processo de ataque ao mesmo apropriado: sem essa precaução expõe-se ás consequencias que em combate resultam sempre de uma acção mal preparada: derrota. fadigas inuteis, perdas, desmoralização.
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(18) Que será o da parallela principal em uma organização mais completa.
(19) De que decorrem as installações das parallelas successivas.
94. Ordem de urgencia – Todos os trabalhos não podem ser encetados ao mesmo tempo, em todo seu desenvolvimento. O fim que se tem em mira é uma execução progressiva, que a cada momento permitta dispor de uma organização tão solida quanto o tenham permittido o tempo e os effectivos empregados. Para isso é indispensavel assentar uma, ordem de urgencia cuidadosamente estudada. Basear-se-ha nas considerações seguintes:
a) estabelecer o mais cedo possivel a continuidade das communicações (parallelas, normaes), afim de que, sem a menor demora, o exercicio do commando, os abastecimentos, as evacuações e os deslocamentos de forças fiquem garantidos.
E' indispensavel abreviar por todos os meios o periodo inicial durante o qual só se dispõe de organizações fragmentadas. Essa organizações, evidentemente, possuem todos os inconvenientes das obras isoladas visiveis.
A vantagem que, á primeira vista, parece, resultar da suppressão de qualquer preparação regular do terreno nas proximidades do inimigo (occupação das crateras, etc.), torna-se absolutamente illusoria si for comparada aos graves inconvenientes resultantes da falta de organização.
Demais, a existencia de parallelas e normaes não exclue de modo algum a occupação do terreno em extensão com elementos destacados tão pouco visiveis quanto possivel; esse modo de occupação está de accôrdo com os principios enunciados no inicio da „instrucção“;
b) Proteger-se com defesas accessoria que possam ser rapidamente collocadas primeiro além de toda a frente, depois das parallelas successivas. Si se prevê uma estabilização definitiva, devem-se reforçar essas defesas accessorias, estabelecer o compartimentos necessarios, cercar certos orgãos essenciaes (grupos de combate com metralhadoras, etc.);
c) Começar immediatamente os abrigos mais importantes (engenharia, pioneiros) e logo que o gráo de adiantamento das parallelas e das normaes admitta a reducção dos effectivos consagrados a esse trabalho, empregar os homens disponiveis na construcção de outros;
d) Regular os abastecimentos de materiaes e ferramentas de accôrdo com a ordem de urgencia adoptada e a marcha do trabalho.
95. Obstinação no trabalho – Emquanto as partes essenciaes da organização não estiverem terminadas, deve-se proseguir no trabalho com obstinação, pedindo-se á tropa o esforço de que é capaz e evitando-se qualquer perda de tempo.
E’ necessario fazer o possivel para dimimuir as perdas de tempo resultantes das substituições. Ha um plano de trabalho, ordens de execução distribuindo as missões; é preciso exigir que se não mude de orientação a cada substituição, que as ordens sejam minuciosamente transmittidas. A impulsão do commando deve ser tanto mais energica e sua fiscalização mais frequente, quanto mais repetidas forem as substituições impostas pelas necessiddaes do combate. Trabalha-se de dia o mais que for possivel: A situação, a obrigação de não peder um só instante impõem que se trabalhe de noite; mas é preciso não esquecer que existem meios para continuar os trabalhos de dia a despeito do inimigo. E’ preciso para isso aproveitar todas as circumstancias favoraveis (nevoeiros, condições atmosphericas que impeçam a observação aerea, etc.). Alias, o trabalho de dia, menos fatigante que o de noite, é de maior rendimento, quer em quantidade, quer em qualidade.
Muitas vezes, a situação impõe que se trabalhe, custe o que custar, não obstante o fogo do inimigo ou a fadiga da tropa. Geralmente calcula-se mal suspendendo o trabalho na esperança de reduzir as perdas devidas ao fogo ou a fadiga elles serão muito maiores si se tiver que enfrentar um ataque com uma organização insufficiente. Si se souber regular o trabalho, pode-se obter muito de uma tropa, mesmo cansada. Elle é um meio de restabelecer a cohesão e o moral de tropa.
CAPITULO II
ORGANIZAÇÃO DO TERRENO FÓRA DO ALCANCE DO FOGO INIMIGO
I – Plano de conjunto de uma posição (20)
96. O estabelecimento desse plano attende á necessidade de determinar logo de começo o dispositivo geral da posição e a installação dos principaes orgãos, antes de entrar nos pormenores da organização de cada um delles.
97. O plano de conjunto determina:
A frente geral da posição;
O escalonamento geral das forças (traçado approximado das diversas parallelas);
Os centros de resistencia;
A repartição do conjunto da artilharia;
As grandes linhas da rêde de communicações;
A installação approximada dos observatorios importantes;
A organização do commando;
As grandes linhas da rêde de ligações electricas e opticas.
_________________
(20) Essas disposições applicam-se principalmente quando se tem de fortificar certas regiões, de imprevisto.
98. Esse plano é estabelecido após um estudo tactico do terreno, no quadro da missão recebida, levando-se em conta o effectivo médio necessario á defesa da posição.
Esse estudo tactico, que deve preceder qualquer outro trabalho, é feito primeiramente na carta e em seguida completado por meio de reconhecimentos no terreno.
A determinação dos elementos enumerados acima, faz-se de accôrdo com as considerações desenvolvidas no titulo II e levando em conta, além disso, as observações seguintes:
99. Centros de resistencia – A determinação dos centros de resistencia é baseada na importancia reIativa dos accidentes do solo e das cobertas naturaes (aldeias, bosques, etc.), que demarcam a posição e tambem nos laços que existem entre esses diversos pontos, em virtude de suas propriedades tacticas e das communicações que o reunem.
100. Repartição da artilharia – Deve-se repartir a artilharia que normalmente terá de agir em beneficio dos centros de resistencia, proporcionalmente á importancia de cada um delles, sem comtudo deixar de assegurar a possibilidade de effectuarr concentrações de fogos contra um ponto qualquer da frente. Não se deve, consequentemente, pensar em uma repartição uniforme ao longo da posição.
Além disco, as posições que se tem de escolher, até certo ponto dependem da rêde de estradas.
101. Communicações – Determinados os delineamentos geraes da posição (centros de resistencia, repartição de conjunto da artilharia), deduz-se a densidade das vias de communicação necessarias ás diversas partes da frente e, consequentemente;
Os melhoramentos ou agrupamentos da rêde de estradas que se devem realizar e em particular as passagens supplementares que será preciso crear nos obstaculos, passagens que na possivel zona de acção da artilharia inimiga nunca seriam assás numeross;
O desenho de conjunto da rêde ferroviaria de bitola reduzida que será preciso estabelecer;
O apparelhamento que será necessario prever para a rêde de bitola, normal.
102. Organização do commando – A organização do commando consiste em agrupar os centros de resistencia, de accôrdo com suas propriedadtes tacticas e a rêde de communicações, para constituir os sub-sectores e os sectores.
Esse agrupamento é muitas vezes independente do effectivo das tropas que inicialmente occupam a posição. O reforço das tropas da defesa deve ser feito tanto quanto possivel por simples substituição de uma unidade por outra de ordem mais elevada (ex.: divisão substituindo uma brigada).
II – Plano pormenorizado
103. O estabelecimento do plano pormenorizado começa por um estudo preliminar na carta, mas resulta sobretudo de reconhecimentos effectuados no terreno.
Orgaização dos centros de resistencia
104. Cada centro comprehende um certo numero de pontos de apoio repartidos em largura e profundidade.
A repartição desses pontos de apoio repousa na necessidade de uma combinação judiciosa do fogo e do contra-ataque, com o fim de assegurar a defesa propria do centro e de cooperar na defesa dos centros vizinhos.
105. O Fogo – Deve fazer-se o possivel para realizar uma poderosa barragem de fogos de infantaria, pelo emprego systematico das armas automaticas em flanqueamente, e pela adopção de disposições de modo que se tornem faceis as concentrações de fogos. O emprego do flanqueamento e das concentrações de fogos para elevar ao maximo a potencia da baragem na frente do centro de resistencia, não compete sómente aos pontos de apoio do 1º escalão desse centro, mas tambem aos dos centros vizinhos e, além disso, a todos os pontos de apoio escalonados á retaguarda e cujos fogos possam bater o terreno além da frente do centro de resistencia.
Não se deve esquecer que a metralhadora é susceptivel de uma acção muito efficaz a grande distancia.
O escalonamento em profundidade, além disso, deverá, permittir estabelecer barragens no interior do centro de resistencia, caso o inimigo progrida. Essas barragens interiores serão estudadas e preparadas.
106. O contra-ataque – Examinar-se-hão as condições para que os contra-ataques sejam desencadeados em combinação com o fogo, quer para a conservação de centro de resistencia, quer em proveito dos centros vizinhos, partindo das hypotheses mais verosimeis e procurando realizar uma concepção simples. Isso conduzirá ao exame de contra-ataques num pequeno numero de direcções preconcedidas.
107. Os estudos concernentes ao emprego do fogo e do contra-ataques permitirão determinar:
A installação dos pontos de apoio;
O traçado das paralllelas e normaes;
O trabalho das defesas accessorias (inclusive);
As installações dos observatorios, dos postos opticos e dos P. C.;
O plano das ligações telephonicas.
Organização dos pontos de apoio
108. Uma vez estabelecidos, como se disse acima, o papel que deve ser desempenhado pelos diversos pontos de apoio e as installações respectivas, determina-se a organização de cada um delles:
fixando a smissões e as installações dos grupos de combate:
precisando o traçado doss elementos de parallelas, normaes e defesas accessorias, que interessam o ponto de apoio.
Finalmente fixam-se os pormenores da organização de cada grupo de combate na ordem seguinte. (Ver Capitulo V do Titulo II).
– Intallações das armas automaticas (de accordo com a missão attribuida ao grupo de combate);
– Installação dos elementos de protecção;
– Communicações;
– Defesas acessorias especiaes para o grupo de combate.
Organização dos intervallos
109. Os centros de resistencia, pontos de apoio e grupos de combate, comprehendem zonas activas, em que se concentram os meios de defesa, e intervallos.
Os intervallos, conforme sua extensão, ou não são occupados, ou o são por forças proporcionalmente inferiores ás das zonas activas.
As economias feitas por essa fórma permittem augmentar os meios postos em acção nos pontos mais importantes.
Para poder reduzir ou mesmo supprimir as guarnições dos intervallos, é necessario:
1º, que sejam muito bem batidos pelo fogo;
2º, que as defesas accessorias nesses intervallos sejam mais densas que nas zonas activas e possam ser vigiadas;
3º, que os intervallos em nada si distinguam, quanto ao aspecto, das organizações vizinhas. Aliás, devem ser organizados de modo que possam ser occupados em caso de necessidade.
As defesas accessorias serão particularmente reforçadas nas zonas em que se possam escapar ás vistas inimigas.
Communicações e outros trabalhos
110. A organização da posição é completada:
– com a creação de communicações de grande rendimento (estradas, caminhos, estradas de ferro de bitola reduzida);
– com a creação de depsitos de toda especie e pontos de aguada necessarios ás tropas da defesa.
III – organização das posições successivas
111. As posições successivas são todas organizadas de conformidade com os principios expostos acima.
Além diso, cream-se compartimentos no conjunto das posições successivas como no interior de uma poisção, de modo que se localizem os progressos do inimigo, caso consiga transpôr a primeira posição, numa parte da frente, e se pessa contra-atacal-o em condições vantajosas.
Para ese fim, utilizam-se desde logo os pontos de apoio naturaes (povoações, bosques) que sa acham nos espaços que separam as posições successivas.
Alguns desses pontos de apoio poderão, com vantagem, ser constituidos, como orgãos isolados, si for possivel furtar completamente sua preparação ás investigações do inimigo.
Os trabalhos serão executados na ordem de urgencia seguinte: orgãos de flanqueamento, observatorios, postos de espreita, abrigos diversos, defesas accessorias, communicações e ligações importantes, installações de baterias.
As parallelas e normaes, susceptiveis de se esboroarem rapidamente com as intemperies, mas faceis de construir, quando for necessario, principalmente si seu traçado ficar assignalado no terreno, serão simplesmente esboçadas (escavações de 30 a 40 centimetros de profundidade). Evitar-se-ão assim grandes trabalhas de conservação que absorveriam, em pura perda, effectivos importantes.
IV – Apparelhagem geral dos sectores
112. Aos trabalhos concernentes ás diversas posições ajuntam-se outras de interesse geral, relativos:
– ás grandes arterias da rêde de communicações (estradas, estradas de ferro de campanha e de bitola normal);
ás ligações (rêde de exercito, rêde de commando, rêde geral de tiro; ligações por pombos correios, etc.);
– aos acampamentos e acantonamentos;
– ao abastecimento d’agua;
– As installações concernentes ao funccionamento dos diversos serviços (artilharia, engenharia, aeronautica, intendencia, saude, etc.).
Os planos desses trabalhos saõ estabelecidos pelos chefes dos differentes serviços, de accôrdo com as directrizes dadas pelo commando, e submettidas á sua approvação.
V – Ordens de execução
113. Uma vez fixado, como foi dito, o plano de conjunto, pela autoridade encarregada da organização de uma zona determinada, a execução á prescripta aos escalões subordinadosa, mediante ordens relativas:
– aos reconhecimentos;
– á preparação, e
– á execução dos trabalhos.
114. Reconhecimento – A ordem prescrevendo os reconhecimentos ás undades subordinadas contém para cada unidade:
– todas as informações que lhe são necessarias sobre as linhas geraes da organização que se tem de realizar (extracto do plano de conjunto);
– a missão de reconhecimento que lhe é confiada (conforme o caso, estudo de um sector, de um sub-sector, de um centro de resistencia, etc.).
O resultado do reconhecimento é apresentado sob a fórma de um plano meudeado da organização que se tem de realizar.
115. Preparação dos trabalhos – Uma vez approvados os planos das organizações, trata-se de preparar a execução de modo que as tropas possam dar começo ao trabalho sem perda de tempo, desde que cheguem ao local.
As ordens que se tem de dar dizem respeito.
– A distribuição de esboços de execução, e ao estaqueamento dos trabalhos;
– A constituição do aprovisionamento de materiaes e á organização do seu transporte (communicações especiaes, estradas de rodegem ou estradas de ferro de bitola reduzida);
– á preparação de meios de estacionamento para as tropas eccarregadas da execução, si for necessario.
Uma preparação cuidadosa é indispensavel para a boa marcha dos trabalhos. Si se quizer começar os trabalhos com uma preparação insufficiente, só se perderá tempo.
116. Execução dos trabalhos – As ordens dadas para a execução dos trabalhos teem em mira os pontos seguintes:
1º A missão attribuida a cada uma das unidades subordinadas, missão essa definida por um esboço da organização que se tem de realizar, acompanhado de todas as informações necessarias sobre o papel dos diversos elementos dessa organização, a ligação com os trabalhos executados pelas unidades visinhaas. etc.
2º A ordem de urgencia dos trabalhos.
3º A organização do aprovisionamento de materiaes e ferramentas (depositos,organização dos transportes, etc.).
4º O estacionamento das unidades.
5º O regimen de trabalho (tempo consagrado ao trabalho, á instrucção e ao descanço).
117. Fiscalização da execução – O commando não se deve limitar a ordenar, deve ainda dirigir e fiscalizar ou mandar fiscalizar, durante a execução.
O contacto frequente com os executantes é muito necessario durante o periodo inicial das obras: evitam-se erros e realizam-se sem demora, na organização do trabalho, os melhoramentos julgados necessarios.
A attenção dos commandantes das grandes unidades deve dirigir-se mais especialmente para as grandes linhas da organização e em particular, para a maneira por que são tratados os flanqueamentos, a observação, as communicações e as ligações.
CAPITULO III
PARTICULARIDADES DA ORGANIZAÇÃO DAS POVOAÇÕES E DOS BOSQUES
118. As povoações e os bosques são organizados de accôrdo com os principios geraes expostos precedentemente, devendo-se tirar o maximo partido possivel das suas propriedades particulares, segundo as indicações que se seguem:
119. Organização das povoações – As povoações offerecem boas cobertas contra as vistas tarrestres e aereas. Essa propriedade deve antes de tudo ser aproveitada para a creação de uma organização de cuja existencia o inimigo não suspeite e, especialmente, de orgãos de fogo fortemente protegidos e nos quais a posição de combate e a de alarma se confundam, cicumstancia esta muito favoravel, como já foi dito.
As povoações offerecem obstaculos faceis de preparar e reforçar. E’ possivel, por conseguinte, canalizar para ellas a progressão do inimigo e tornal-a penosa por combinações apropriadas do obstaculo e do fogo (flanqueamento, enfiamento).
Essas condições prestam-se particularmente ao emprego de pontos de apoio, de grupos de combate, organizados de modo que constituam reductos susceptiveis de se bastarem a si proprios e de se manterem por muito tempo quando cerca dos. Isso permitte a defesa do interior de uma aldeia com pouca gente, e consagrar o grosso dos effectivos aos contra-ataques interiores e sobretudo exteriores.
Para attender ao perigo do envolvimento, organizam-se poderosos flanqueamentos com armas automaticas dispostas em abrigos resistentes, pontos de apoio escalonados em profundidade e batendo os intervallos, e prepara-se cuidadosamente o desencadeamento dos contra-ataques, combinando o fogo dos orgãos de flanqueamento e da artilharia.
As considerações que precedem permittirão determinar as installações dos grupos de combate, ou pontos de apoio interiores dos orgãos destinados a bater os flancos, emfim, dos elementos destinados aos contra-ataques.
em uma povoação encontrar-se-ha, em geral, particular facilidade para a execução (materiaes abundantes a pequena distancia, boas, communicações com a retaguarda, possibidade de fazer certos trabalhos de dia, mesmo perto do inimigo).
Os abrigos merecem especial attenção.
Si as tropas de defesa interior forem pouco numerosas, não haverá necessidade de muitos abrigos; mas se lhes dará certa solidez, porque as localidades attrahem o tiro systematico de peças de grosso calibre. Além disso, procurar-se-ha reunir, entre si, os grupos de comhate ou pontos de apoio e, si for possivel, pol-o em communicação com o exterior da povoação por via subterranea.
Nos flancos dispor-de-hão abrigos para as tropas de contra-ataque. Os postos de aguada (poços, fontes) ficarão protegidos por abrigos resistentes.
120. Organização dos bosques – Os bosques do mesmo modo que as povoações, protegem contra as vistas terrestres e aereas e oppõem um obstaculo á progressão do inimigo. Sua organização será feita, a principio, como si a coberta e o obstaculo que offerecem fossem indestructiveis, e, uma vez o bosque destruido, completar-se-ha essa organização com os orgãos que se tornarem necessarios.
A primeira phase comprehenderá:
– A creação de pontos de apoio e de grupos de combate com o fim de flanquear a orla, impedir os caminhos de penetração e deter a progressão do inimigo no interior do bosque (orgãos de fogo escalonados no interior (21).
– A dos elementos necessarios para effectuar os contra-ataques (abrigos, communicações).
– A de defesas accessorias, dispostas na orla em zig-zag, flanqueadas pelos orgãos de fogo e destinadas a canalizarem a progressão do inimigo para zonas poderosamente batidas; reunindo ás linhas seccessivas de modo a compartir o bosque; envolvendo os pontos de apoio grupos de combate, etc.
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(21) O emprego dos abrigos resistentes em relevo, para o armamento, é neste caso, como nas povoações, perfeitamente indicado, porque, mesmo que o inimigo procure destruir o bosque geralmente ser-lhe-ha necessario muito tempo para descobrir esses orgãos, que terão, por conseguinte, muitas probalidades de desempenhar utilmente seu papel.
– O melhoramento da rêde de communicações que geralmente é muito insufficiente nos bosques.
Nas mattas pouco extensas, evitar-se-ha, de modo absoluto, destocar, porque isso fornecerá indicações preciosas ao inimigo relativas ás partes organizadas. Pela mesma razão, só com prudencia, mandar-see-ha roçar. A vigilancia e o flanqueamento dos bosques serão mais difficeis, mas a dotação da infantaria em armas automaticas permitte enfrentar essas difficuldades.
Estabelecer-se-ha na segunda phase, nas mesmas condições que em terreno descoberto, a continuidade das organizações, reunindo seus diversos elementos por meio de parallelas e normaes.
As communicações enterradas, que podem ser dispensadas nos bosques em tempo ordinario, tornar-se-hão, com effeito, immediatamente necessarias em caso de ataque.
CAPITULO IV
TRABALHOS DE CONSERVAÇÃO DAS POSIÇÕES
121. Pondo de parte a posição principal, a conservação das outras posições só exigirá trabalhos de pouca importancia, si, de accôrdo com o que se disse precedentemente, os elementos de que foi dotada a organização dessas posições reduzirem-se aos mais importantes (orgãos de flanqueamento, abrigos, defesas accessorias, etc.), uma vez que esses elementos são pouco susceptiveis de se estragarem.
Em compensação, excepto e terreno especialmente favoravel, a posição principal reclama trabalhos de conservação constantes. As intemperies constituem para ella e, principalmente para as parallelas e normaes, um adversario muitas vezes mais temivel que o fogo.
Como a boa conservação da posição é de maior importancia, uma vez que isso interessa ao mesmo tempo o valor militar da posição e a manutenção dos effectivos, todo cuidado deve ser pouco com a organização e a execução dos trabalhos de conservação.
As regras essenciaes que se devem observar a esse respeito são as seguintes:
– Distribuição nitida das missões (delimitação precisa das zonas de conservação; á cada unidade compete a conservação da zona que occupa; o escalão superior assegura conservação á retaguarda).
– Continuidade nos trabalhos (trabalhos diminutos executados regularmente evitam trabalhos de vulto no futuro).
– Especialização da mão de obra para certos trabalhos, correntes, principalmente para a conservação das normas (postos de canteiros).
– Estabelecimento, para partes extensas da posição, de
um plano de conjunto dos trabalhos que não possam, sem inconvenientes, ser entregues á iniciativa das pequenas unidades. E' o caso, por exemplo, do escoamento das aguas.
Estabelece-se um plano de escoamento das aguas para cada sector de divisão.
CAPITULO V
DISTRIBUIÇÕES DAS MISSÕES ENTRE AS DIFFERENTES ARMAS
122. Os trabalhos correntes da organização do terreno são feitos pela Infantaria.
Por trabalhos correntes deve-se entender não sómente as parallelas, normaes e defesas accessorias, os trabalhos de conservação, mas tambem os abrigos do typo ordinario. Toda unidade de Infantaria deve estar em condições de construir com seus proprios recursos os abrigos de que necessita.
123. Os pioneiros dos corpos são encarregados dos trabalhos mais delicados e dos de interesse geral de seu sector que reclamam certa habilidade (P. C., P. R., postos de espreita, observatorios). Devem além disso, estar em condições de estabelecer passagens em brechas pouco extensas e executar destruições simples utilizando explosivos.
124. A organização das baterias é feita pela Artilharia.
125. As unidades da Engenharia são exclusivamente empregadas em trabalhos da organição de terreno que exijam uma habilidade technica superior a dos pioneiros de Infantaria ou Infantes-pioneiros, ou que esses não possam executar por insuficiencia de effectivos.
Confiar ás companhia de engenharia trabalhos que podem ser executados pela Infantaria é dar mostra de imprevidencia, é preferir um resultado immediato, mas mediocre (a Engenharia nos trabalhos correntes, só póde prestar auxilio insignificante á Infancia), a outros mais remotos, é certo, mas muito mais importantes.
Para se obter das unidades da Engenharia todo o rendimento de que são capazes, é necessario.
– Applicar sytematicamente nos pontos especiaes da organização (orgãos que comportam trabalhos subterraneos de grande desenvolvimento, observatorios, abrigos importantes, etc.), todas as unidades que não estiverem empregadas em outros trabalhos especiaes de Engenharia (pontes, minas, etc.);
– Empregar a Engenharia por companhias inteiras ou pelo menos por fracções constituidas, bem enquadradas;
– Provêl-a de instrumentos mecanicos apropriados, onde o emprego dos mesmos possa ser vantajoso;
– Empregar as unidades de Engenharia, nos trabalhos que reclamam uma habilidade superior á do infante;
– Evitar dividil-a. Toda a vez que se destacar uma, fracção, é necessario que seja com o fim de dar-lhe emprego provavel em uma missão util.
Em combate, as unidades de Engenharia são encarregadas dos trabalhos de communicações e de destruição: podem além disso, tomar parte na organização das posições. Ainda aqui, a distribuição das missões é feita de accôrdo com os principios já expostos.
Os infantes pioneiros são frequentemente empregados sob a direcção da Engenharia em todos os trabalhos que não requerem habilidade profissionaI especial, mas exigem mão de obra numerosa (especialmente trabalhos de estradas).
CAPITULO VI
EMPREGO DAS ORGANIZAÇÕES
Plano de defesa – Plano de reforço
126. O valor de uma organização reside exclusivamente no emprego que della faz o chefe.
Todo chefe, qualquer que seja o seu posto, deve ter um plano de defesa.
O plano de defesa comprehende duas partes:
1ª, previsões concernentes ao emprego dos meios de que se dispõe immediatamente. E’ o plano de defesa propriamente dito;
2ª, previsões concornentes ao emprego dos meios reforçados em caso de ataque importante: E’ o plano de reforço.
127. O plano de reforço comprehende trabalhos referentes á utilização dos meios supplementares que se tenham de receber (infantaria, artilharia, aeronautica). Esses trabalhos constituem o objecto de um capitulo especial desse plano. Consistirão, de modo geral:
– No estabelecimento de um systema de ligações adaptadas á nova organização prevista para o commando (organização que resultará tanto quanto possivel da antiga mediante simples substituição de cada unidade por uma de ordem superior);
Na extensão da rêde das communicações e seu apparelhamento para um trafego intenso;
– No reforço do dispositivo da Artilharia (creação de observatorios supplementares; ampliação da rêde da Artilharia; desenvolvimento da rêde ferroviaria de bitola reduzida; organização de novos abrigos para munição; organização de installações de bateria supplementares);
– No reforço das organizações defensivas (creação de orgãos de fogo escalonados em profundidade, grupos de combate em campo aberto; melhoramento da rêde de observação e vigilancia, observatorios e postos de espreita resistentes; creação de communicações subterraneas e de ovos abrigos; reforma das defesas accessorias, etc.).
As unidades de Engenharia serão especialmente empregadas no reforço das organizações defensivas.
CAPIITULO VII
INSTRUCÇÃO DOS QUADORS E DA TROPA
128. Os officiaes e graduados de todas as armas devem conhecer a fundo os principios e processos de execução, expostos nas primeira e segunda partes deste Regulmento.
_________________
(22) Questão especialmente tratada na segunda parte do Regulamento.
Só assim poderão conceber e executar, sem hesitação, os trabalhos que ás suas unidades caiba realizar.
129. A tropa deve ser adestrada na execução dos elementos constituidos dos trabalhos correntes:
Trincheira e sapa.
Galeria de mina.
Obras de fachina.
Rêde de arame.
Arranjo das trincheiras e sapas.
Esses trabalhos constituem de algum modo o manejo de arma da organização de terreno (22); devem ser ensinados com o mesmo rigor. Aqui, como no manejo d’arma, uma curta indicação do chefe deve bastar para determinar a execução.
130. Os officiaes de engenharia e os officiaes commandantes dos pelotões de pioneiros, devem estar em condições de dirigir todos os trabalhos especiaes previstos na Instrucção (com excepção, quanto aos chefes dos pelotões de pioneiros, dos grandes trabalhos que apresentem difficuldades especiaes em vista da natureza do terreno, por exemplo, os que reclamem o emprego de instrumentos mecanicos pouco vulgares, etc.).
A instrucção technica dos graduados e dos soldados das unidades de engenharia e de pioneiros deve ser conduzida de modo que se obtenham realmente, especialistas aptos aos mais delicados trabalhos.
A instrucção dos officiaes pertencentes as unidades de Infantes Pioneiros é tanto quanto possivel impulsionada no sentido da execução dos trabalhos de que serão principalmente incumbidas em campanha (em particular, trabalhos de estradas, execução de grandes normaes, grandes obras para o estabelecimento de vias ferreas, etc.).
131. Os quadros e as tropas de todas os armas devem ser instruidos na organização do terreno em combate.
A organização do terreno é uma manobra cujo successo ou inssuccesso póde ter consequencias decisivas. Apresenta as mesmas difficuldades que qualquer outro acto de guerra. Chefes e tropa teem que pôr á prova qualidades analogas:
Quanto aos chefes, aptidão para conceber rapidamente uma organização que se ajuste á situação; quanto ás tropas, execução por assim dizer instincta, que se ajuste á vontade do chefe.
132. A Aptidão das unidades para a organização do terreno em combate deve ser desenvolvida com applicações executadas durante os exercicios de combate (23). Todo exercicio de combate deve comprehender o estudo e, tanto quanto possivel, ao menos, um começo de execução dos trabalhos correspondentes á situação supposta. (Vêr sobre este assumpto a segunda parte do regulamento.)
Rio de Janeiro, 23 de março de 1921, – João Pandiá Calogeras.