DECRETO N. 14.778 – DE 20 DE ABRIL DE 1921
Approva o annexo n. 2 do regulamento para os exercicios e o combate da infantaria
O Presidente da Republica dos Estados Unidos do Brasil, usando da attribuição que, lhe confere o art. 48, n. 1, dá Constituição, resolve appovar o annexo n. 2 do regulamento para os excercicios e o combate da infantaria, que com este baixa, assignado pelo Dr.João Pandiá Calogeras, ministro de Estado da Guerra.
Rio de Janeiro, 20 de abril de 1921, 100º da Independencia e 33º da Republica.
EPITACIO PESSÔA.
João Pandiá Calogeras.
PROPRIEDADES DAS METRALHADORAS
OBSERVAÇÃO IMPORTANTE
Actuando as metralhadoras em ligação constante e intima com a infantaria, o papel que desempenham foi naturalmente estudado no proprio regulamento da infantaria.
O presente annexo tem simpplesmente por fim condensar e completar as diposições previstas para as metralhadoras nos diversos capitulos da II parte desse regulamento.
Cabe aqui reproduzir o que a esse respeito nella se encontra:
«Nos orgãos de fogo adstrictos á infantaria (metralhadoras, canhões de 37 e morteiros), podem-se grealmente distinguir no regimento o batalhão:
«– os que acompanham determinada tropa, afim de coroar a posição conquistada;
«– os que, estabelecidos em posição, teem a incumcia de apoiar com o fogo a acção dos elementos de infantaria que vão progredindo;
«– os que ficam reservados;
«– os que são postos á inteira disposição da autoridade inferior (á disposição de um commandante de batalhão, pelo coronel; á disposição de um capitão, pelo commandante de batalhão).
«Mas, deve ficar bem entendido que taes missões são apenas temporarias, e que os diversos orgãos de fogo estão sempre e successivamente passando, no decurso do combate, de uma dessas missões para outra (*).»
Não exigindo mais que alguns serventes, o que lhe dá a feição de condensadissima unidade de infantaria, a metralhadora representa nesta arma a potencia maxima de fogos, tanto pela rapidez do tiro como pela precisão.
A do typo leve é muito adequada ao movimento; a do typo pesado um pouco menos. A primeira póde aventurar-se até aos pontos mais avançados, sob a simples protecçção de qualquer elemento de infantaria, entrando até quando preciso, na propria composição do grupo de combate.
Exige a segurança da outra, emprego menos arriscado, e previdente escalonamento. Demais, assentada com superior solidez em reparo mais estavel, a metralhadora pesada pódé aproveitar melhor a extrema precisão que a caracteriza, ainda ás maiores distancias; sob certas reservas, poderá até recorrer ao tiro indirecto, por cima das tropas amigas.
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(*) Assim, secções de metralhadoras que acompanham companhias de primeiro escalão estabelecem-se na posição conquistada, para sustentar a defesa em caso de contra-ataque e tambem apoiam os ataques ulteriores.
Igualmente, secções de metralhadores, canhões de 37, ou morteiros reservados, são collocados em bateria para apoiar ataques, ou são levados para a frente, afim de acompanhar companhias empenhadas, etc.
Tanto a metralhadora leve como a pesada dissimulam-se facilmente no terreno e prestam-se por isso, maravilhosamente, ás acções de surpreza, contam-se ambas entre as efficazes e mortiferas armas: o feixe de trajectorias densissimo, rasante até 800 e 1.000 metros, é obstaculo intransponivel perpendicularmente á linha de tiro, e cobre a qualquer distancia uma area estreita, mas profunda. Até ao extremo alcance, as balas conservam efficacia mortifera, e muitas vezes a zona que ainda ahi cream é mais temerosa de atravessar-se que as barragens de artilharia, por unidas e violentas que sejam.
Em virtude da tensão das trajectorias e da configuração estreita e muito alongada do terreno batido, as metralhadoras parecem feitas de proposito para as barras parallelas á frente: dahi o seu emprego nos flanqueamentos, que se devem buscar constantemente, a todo o custo; dahi o principio do escalonamento destas armas, não só afim de apoiar tropas, por sua vez tambem escalonadas, como tambem para auxilial-as, quando preciso, com barragens lateraes, protectoras dos flancos descobertos.
A extrema precisão faculta-lhes bater efficazmente as passagens estreitas, donde o inimigo póde desembocar, e apanhal-o em cheio si apresentar-se em columna: é o caso em que se justifica o tiro perpendicular á frente. Este genero especial de tiro tambem tem cabimento quando a metralhadora participa em alguma concentração de fogos contra objectivo particular. Contra inimigo em formação tenue, batido de frente, é pouco efficaz a acção da metralhadora, sobretudo ás pequenas distancias; em vez de occupar-se em acções de tal ordem, mórmente si recorrer ao tiro ceifante, que é preferivel não empregar, mais lhe convém mudar de posição para apanhar o adversario de flanco, o que é sempre seguro e efficaz.
Destacando-se a metralhadora leve pela facilidade de transporte – que lhe permitte adeantar-se até aos mais avançados elementos de combate, e a pesada pela maior precisão do tiro a distancias mais consideraveis – que lhe permitte escalonar-se profundamente e atirar mais longe, conclue-se que são estes os principios de emprego, communs dos dous typos:
1º,acção de surpreza;
2º, acção de flanco.
Seja qual for, porém, o emprego que se lhes pretenda dar, o que é facto é que não ha tactica especial de metralhadoras: a infantaria, sim, essa tem a sua tactica, que tanto joga com os fogos extremamente poderosos da metralhadora, como com o movimento dos grupos ordinarios de combate. O ponto está em combinar estes dous elementos de acção para desalojar o inimigo e anniquilal-o, ou para contel-o e dizimal-o quando ameace apoderar-se do terreno que resolvemos defender. Todavia, no desenrolar destas acções, ao commandante de metralhadoras pode offerecer-se opportunidade de actuar favoravelmente, por sua propria iniciativa, contra o inimigo: cumpre-lhe não deixar escapar tal opportunidade, sem abandonar entretanto, a missão que primitivamente lhe confiou seu chefe immediato.
EMPREGO DAS METRALHADORAS LEVES DE BATALHÃO
PRINCIPIOS REGULADORES
Comprehende o pelotão de metralhadoras leves de batalhão tres secções de duas peças; cada secção possue ainda uma terceira peça, guardada como reserva de material no trem de combate do batalhão.
O pelotão é uma reserva de fogos, á disposição e ao immediato alcance do commandante do batalhão, que não póde empregaI-o todo ou sómente em parte, conforme as necessidades. Todavia, na ordem do commandante do batalhão para o engajamento, póde ser prescripto o emprego de uma ou duas secções em missão especial, ou, transitoriamente, junto a alguma companhia (1).
Em regra, no combate, as duas peças da mesma secção actuam juntas, proxima uma da outra, não como precaução contra interrupções, que é escusado prevêr, e afim de que se possa contar sempre com uma dellas; mas sim para que as acções das duas se reforcem e fiquem ambas sempre ás ordens do mesmo commandante, que lhes combina o emprego. Em certos casos, porém, póde-se separar as peças e empregal-as isoladamente (terreno cortado, coberto de matto, e ainda para attender á necessidade de escalonamento, principalmente nas missões defensivas).
Seja como fôr, as peças serão protegidas á curta distancia contra os ataques de inimigo que se insinue pelo terreno, empregando-se com esse fim, si fôr necessario, quer algum elemento especial de protecção (patrulha de volteadores, fixa ou movel, quer um grupo de combate; neste caso á secção ou peça fica incluida no proprio grupo, assumindo o commando do todo o graduado de maior posto, seja ou não metralhador. Igualmente, si uma secção fôr designada para apoiar uma companhia ou outra qualquer unidade, poderá ficar sob as ordens do commandante desta.
EMPREGO NA OFFENSIVA
Preparação do ataque – Antes do ataque no decurso da approximação, as metralhadoras do batalhão escalonam-se no dispositivo, segundo as necessidades que se prevêm.
Os pelotões de metralhadoras encontram sempre emprego:
– contra as posições das baterias de artilharia ou dos petrechos de acompanhamento, que se tenham afoitado muito e que forem descobertas;
– contra as posições onde se tenham percebida metralhadoras;
– contra a propria linha de infantaria inimiga.
Em todos os casos tirar-se-ha o melhor partido das qualidades de precisão da arma, concentrando fogos densos e ajustados contra os pontos assignalados. No terceiro caso, actua-se de preferencia na zona em que se dará a principal acção do batalhão e contra os pontos que a priori poderão offerecer maior importancia defensiva.
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(1) Distinguir, como foi dito no artigo precitado, as metralhadoras que acompanham uma tropa afim de se installarem na posição conquistada, e as que são postas á completa disposição da autoridade inferior.
Metter-se-ha em posição nos sitios dominantes, donde o tiro algumas vezes poderá ser feito durante certo tempo por cima das tropas amigas; ou nas alas do batalhão e até na propria zona de acção do batalhão vizinho. A operação será feita discreta e dissimuladamente, tirando-se todo o partido do terreno, afim de não attrahir antes de tempo o fogo da artilharia inimiga.
Finalmente, os tiros adaptar-se-hão escrupulosamente aos de preparação da artilharia. Em certos casos serão feitos de maneira que se superponham aos da artilharia; em outros, em que seja impossivel a acção desta arma, ou nos ataques de surpreza, a tarefa da preparação recahirá toda sobre as metralhadoras. O serviço será então regulado com todos os pormenores, segundo combinação horaria ou systema simples de ligações e signaes.
A preparação feita pelas metralhadoras, inopinada, compacta e de curta duração, causa funda impressão no inimigo e prepara perfeitamente o ataque de surpreza, sem soccorro da artilharia. Esta acção directa de preparação dos ataques pelas metralhadoras leves de batalhão, póde ainda ser reforçada pela acção solidaria das metralhadoras pesadas de regimento, contra os mesmos objectivos (tiros directos ou indirectos), ou contra outros mais afastados (tiros de interdicção ou de enjaulamento).
Ao romper o ataque – Ao romper o ataque, o pelotão de metralhadoras fica de prevenção á espera de instrucções do commandante do batalhão, ou passa á. execução dos topicos da ordem de ataque, que lhe dizem respeito, quando nella esteja prescripto que certas secções se ponham á disposição de alguma companhia de primeira linha, como reforço de fogos ou como orgão de cobertura de um dos flancos. Em qualquer destes casos, é só momentaneamente que as unidades de metralhadoras (secções, geralmente) são postas á disposição do commandante de companhia, para quebrar uma resistencia que esteja impedindo a progressão, cobrir um flanco que por algum tempo ou durante certo percurso, fique exposto. Logo que a missão tenha sido cumprida, o commandante do batalhão manda retirar a secção, que fica disponivel para novas missões.
Durante o ataque – Durante o ataque, o pelotão disponivel, ou a fracção que restar, abre largamente os intervallos para progredir por lances successivos e por escalões, utilizando as passagens desenfiadas; sempre prestes para intervir, a pedido do commandante do batalhão, contra todo nucleo de resistencia que se encontre, ou para ataIhar qualquer emergencia.
E’ dessa maneira que as secções de metralhadoras acodem aos grupos de combate, momentaneamente detidos, com o apoio rapido e inopinado de fogos violentos, que poderão abrir-lhes caminho. A intervenção tambem se dará quando se abrirem intervalIos muito consideraveis entre as unidades de ataque, ou quando um dos flancos do batalhão ficar momentaneamente descoberto. Dahi por deante podem ir avançando, mantendo-se no intervallo vasio ou escalonadas no flanco descoberto, promptas nos dous casos para quebrar qualquer contra-ataque inimigo que tente romper através desse vasio.
Finalmente, tanto o commandante de pelotão como o de secção teem toda a iniciativa para proceder utilmente contra os aviões de combate, carros de assalto, ou baterias inimigas que se achem á distancia favoravel.
Em todo o caso, nos objectivos que vão sendo succesivamente conquistados, nos pontos de apoio tomados ao inimigo, o pelotão de metralhadoras leves, sem esperar ordens, trata de estabelecer as respectivas secções para render nesses pontos, o mais depressa possivel, os grupos de combate que acabam de conquistal-os, assegurar a posse definitiva delles, pondo-os ao abrigo de qualquer contra-ataque ou retorno ofensivo do inimigo, e fazer delles a base que servirá de solido apoio ás progressões ulteriores.
Na posição conquistada – Na posição conquistada, que fôr o ultimo objectivo do ataque, ellas se estabelecem por sua vez em condições mais maduramente estudadas, não só para fornecer os fogos possiveis de perseguição, como tambem para desde logo firmar solidamente a occupação definitiva do terreno conquistado: é preciso que logo se possa ter: na frente do batalhão, fogos defensivos de flanqueamento, que se ajustem ás barragens defensivas da artilharia; fogos defensivos e barragens lateraes, mediante a disposição de peças conservadas para nos flancos guarnecidos do batalhão; peças que vigiem os pontos donde podem romper contra-ataques.
Estas diversas missões que Ihe competem, levarão o pelotão de metralhadoras a dispor-se mais ou menos em profundidade – em escalão ou xadrez, utilizando saliencias do terreno,, escavações de projectis, mattos, afim de valer-se, como sempre, da acção de surpresa.
A necessidade de obter bons flanqueamentos na frente do batalhão, exigirá algumas vezes que se adiantem até aos elementos mais avançados algumas peças, que parecem ter-se afoitado, muito. Protegidas a curta distancia pelo grupo de combate mais proximo, a segurança de taes peças consistirá em um bom disfarce no terreno, quando necessario, ficando na propria posição de tiro sómente os serventes estrictamente necessarios bem abastecidos de munição.
Assim desde o romper do ataque – ás vezes desde a phase de preparação – até a conquista definitiva do objectivo indicado, o pelotão de metralhadoras leves levará o concurso da sua excepcional potencia de fogos em proveito da acção offensiva dos grupos de combate, abrindo-lhe o caminho, protegendo-lhes os flancos, rendendo parte delles nas posições conquistadas, o objectivo final inclusive. Este concurso de todos os instantes requer desassombrado espirito de solidariedade de combare, de iniciativa a part do sentimento acurado da opportunidade; exige espirito de sacrificio, sempre afoito em offercer-se – o solado metralhador deve ser soldado de escól.
EMPREGO NA DEFENSIVA
O principal meio de defesa da infantaria é o fogo, o que importa na primazia, em qualquer organização defensiva, do papel das metralhadoras, e, em particular, das metralhadoras leves de batalhão.
Os mesmos principios que presidem ao emprego das metralhadoras na occupação da posição conquistada, applicam-se tambem á organização defensiva de outra qualquer posição: o escalonamento em profundidade, a acção de flanco e de surpreza, impõem-se aqui com mais forte razão.
A organização das metralhadoras que se incumbirão da barragem na frente, mediante tiros directos de flanqueamento, deve ser de tal ordem que, junto á acção parallela das outras armas automaticas, a barragem total produzida não deixe uma zona do terreno por bater, e seja capaz, só por si, de deter o inimigo, ainda quando a barragem da artilharia não se possa effectuar.
As peças escalonadas no interior do batalhão, além da missão de proteger os flancos ou de vigilancia exercida ao longe sobre as passagens por onde póde vir o inimigo, terão tambem de cuidar das barragens interiores. Estas imporão certos itinerarios ao ataque, si este vier avançado pela posição a dentro, contendo-o em certas linhas e dando azo ao jogo dos contra-ataques immediatos; pois que, a partir do momento em que o inimigo penetra na posição, a artilharia em geral já não póde retrahir ainda mais as suas barragens; occupadas nesse mister ficam sómente as metralhadoras escalonadas.
Mas, além destas diversas acções, tambem não deverão ficar inactivas as metralhadoras da defesa deante de prodromos mais ou menos certos de ataque, susceptiveis de provocar a contra-preparação pelo fogo; ao desencadear-se o tiro de contra-preparação, tomam parte nelle juntamente, aliás, com todos os outros orgãos de fogo da infantaria.
Todas estas acções serão cabalmente estudadas e o commandante do batalhão deverá prever minuciosamente, com precisão, as diversas missões que caberão ás metralhadoras leves nas acções defensivas, como nas offensivas.
EMPREGO DAS METRALHADORAS PESADAS DE REGIMENTO
P rincipios que o regulam – A companhia de metralhadoras pesadas de regimento comprehende quatro secções de duas peças, e mais uma terceira peça de reserva, no T. C. do batalhão (2).
Reserva de fogos á disposição do Coronel, a companhia tambem é fonte consideravel de fogos precisos, de grande alcance e potencia, dahi seu emprego contra objectivos afastados.
A acção que ella desenvolve é a miude massiça, empregando-se quer tiros directos, quer indirectos.
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(2) As terceiras peças das secções de metralhadoras (pesadas e bem assim leves) constituem reserva de material tendo em vista as substituições do material gasto ou destruido. Mas, nas situações defensivas, podem ser empregadas como terceira peça das secções com pessoal reduzido, tendo em vista augmentar a potencia do fogo.
Juntar-se-ha em certos pontos a acção das metralhadoras pesadas á das leves, pertencentes a algum batalhão empenhado.
Em regra, as peças da secção de metralhadoras pesadas empregam-se conjuntamente, tão proximas umas das outras que a todo o tempo se possa exercer a acção do commandante sobre as guarnições. Todavia, quando a secção de combate e constituida de tres peças, uma dellas, com os respectivos serventes, muitas vezes poderá considerar-se de soccorro, e ser mantida um pouco á retaguarda, abrigada, ou empregada em missão particular.
A segurança immediata das peças resulta do seu escalonamento pela profundidade das tropas; mas si, excepcionalmente, em posição muito arriscada, um grupo de combate que se lhes junte pol-as-ha ao abrigo dos ataques de algum audacioso inimigo, que se aventure pelo terreno.
Finalmente, a secção que tiver posta á disposição de um batalhão, ou companhia, para determinada missão fica ás ordens immediatas do commandante de qualquer dessas unidades, emquanto durar a referida missão.
EMPREGO NA OFFENSIVA
No plano de acção do regimento, cabe á companhia de metralhadoras pesadas papel essencial.
Capaz de cobrir determinada zona com seus fogos excessivamente poderosos e ajustados, empregando-a em certos pontos economizam-se forças, que serão utilizadas alhures em proveito da manobra. Utilizando-se plenamente a tensão da trajectoria, póde-se tornar intransponiveis certas cortaduras do terreno, e uma só secção de metralhadoras pesadas basta para esteiar a ala de um batalhão, ou cobrir um flanco momentaneamente desguarnecido. A extrema precisão das peças permitte atirar sem risco através do intervallo de duas unidades vizinhas, e a altura da flecha das trajectorias de grande alcance permitte o tiro por cima das tropas amigas. Apezar de tudo, é difficil a observação dos effeitos do tiro a grande distancia; mas, remedeia-se a incerteza do effeito com o emprego em massa da companhia de metralhadoras, cujos fogos se concentram, sempre que for possivel, com este intento agrupando-a toda ou, pelo menos, numero sufficiente de peças (tiros director ou indirectos)
Antes do ataque a companhia de metralhadoras pesadas será mais ou menos agrupada e ficará prompta para escalonar-se entre as tropas de ataque, logo que este comece.
Desde então ella ficará prompta para receber as missões de preparação do ataque que lhe podem caber.
Preparação do ataque – Emquanto as metralhadoras leves dos batalhões que vão travar combate em primeiro escalão, tomam directamente á sua conta todos os elementos inimigos, que parecem estorvar immediatamente a progressão dos mesmos batalhões, as metralhadoras pesadas, actuando em massa e recorrendo á concentração de fogos, voltam-se mais especialmente contra as ilhotas de resistencia reconhecidas no interior das posições adversas, contra os pontos de apoio, orlas de povoado ou bosque, zonas desenfiadas que podem prestar-se á reunião de tropas, quebradas, posições de bateria, etc.
A execução methodica destes tiros será fixada em ordem especial, que os regula de conformidade com os tiros de preparação da artilharia e metralhadoras leves, quer sujeitando-as a um systema horario, quer estabelecendo um systema de ligações por meio de signaes luminosos.
No correr do ataque – Emquanto se desenvolve o ataque, estes tiros de preparação podem durar ainda, algum tempo, ou transformar-se em tiros de enjaulamento, que isolem alguma zona e na qual seja conveniente impedir completamente a entrada de reforços, pelo menos durante determinado prazo.
Todas as peças, ou sómente parte dellas, empregam-se nestes, emquanto as secções designadas se dirigem ao sitio determinado na ordem de ataque, para ahi desempenhar o papel que lhes foi distribuido. Feito isto, escalona-se toda a companhia pela profundidade das tropas do ataque, afim do intervir á medidas das necessidades.
Dispostas com largos intervallos em escalões bem distanciados, tão largos aquelles e tão distanciados estes quanto possivel, vão as metralhadoras pesadas progredindo no logar que lhes foi marcado, utilizando escrupulosamente o terreno; e intervirão quando fôr preciso accumular a maior potencia de fogos possivel, contra resistencia que esteja custando a ceder e impeça a progressão. Ora terão de fechar um intervallo prematuramente aberto e que as metralhadoras leves do batalhão não podem barrar; ora será o caso de um batalhão cujo flanco fica desamparado porque o batalhão vizinho foi detido; ora emfim , assugnalar-se-ha um contra-ataque que se apresta a coberto do terreno ou em uma zona desenfiada. Para logo intervirão as metralhadoras, fechando o intervallo perigoso, e até atirando pelos intervallos dos grupos de combate extremos: servindo de esteio ao flanco do batalhão que se acha descoberto c dirigindo fogos de escarpa e de enfiada contra os orgãos da defesa que se oppõem para traz, perturbam a reunião de tropas para o contra-ataque ou o detem na occasião em que romper Em todos os casos, graças ao escalonamento em que se acham, haverá sempre uma secção, pelo menos, de que dispôr no ponto onde surgir a necessidade, secção esta que poderá entrar em acção quasi instantaneamente.
Por outro lado, seta collocação que se lhes dá será tambem a mais propria para occuparem paulatimamente os pontos de apoio successivos tomados ao inimigo ou o objecto final, e defendel-os com toda a potencia de fogos de que são capazes, contra qualquer retorno offensivo.
Na posição conquistada – Ahi ellas collaboram sobre– tudo no aproveitamento do feito, mediante tiros precisos de perseguição e de interdicção contra os pontos obrigatorios de passagem do inimigo (encruzilhadas, pontes, sahidas de povoados, etc.) ; apoiam, em geral a acção das metralhadoras leves que as precederam e já se acham estabelecidas: substituem-n’as, si fôr preciso, como estas substituiram as armas automaticas dos grupos de combate; e, finalmente, dão forma definitiva á ossatura da organização defensiva do terreno.
Dest’arte, em successivos lances até a conquista da posição designada, terão contribuido para esse continuo impulso da retaguarda para a frente, que revigora o arranco da infantaria e lhe entretem a potencia dos fogos, e que lhe permitte, muitas vezes, renovar os ataques contra certos pontos,
preservando-a das inquietações que lhe dão os flancos ou dos riscos que lhes possam correr. As metralhadoras, emfim, asseguram em grande parte a posse do terreno conquistado.
EMPREGO NA DEFENSlVA
E’ principalmente na defesa do terreno, que as metralhadoras pesadas teem occasião de empregar o maximo da potencia de seus fogos e a extrema precisão do tiro; não só poderão a priori desempenhar qualquer missão que haja sido momentaneamente confiada ás metralhadoras leves do batalhão, como tambem, utilizando integralmente o alicance e a precisão, valendo-se de meios diversos, reforçar a acção das metralhadoras leves, ou rendel-as nas missões internas, que porventura lhes tenham sido confiadas, com prejuizo de outras mais avançadas para as quaes são mais especialmente aptas, em virtude da leveza c mobilidade.
E’, assim, por exemplo, que as barragens adeante da frente, feitas pelas metralhadoras leves de, flanqueamento, com tiros directos, serão reforçadas pelas barragens com tiros indirectos, lançadas pelas metralhadoras pesadas, por cima das tropas – sem exclusão, naturalmente de qualquer acção de tiro directo a que de azo a disposição particularmente favoravel (elevação, zona formando saliente, etc.) .
Em consequencia, ainda, do escalonamento que se lhes dá, as metralhadoras pesadas, de preferencias ás leves, tomarão tambem á sua conta as barragens interiores, que teem por objecto canalizar o ataque do inimigo que haja conseguido penetrar na posição, ou preparar um contra-ataque em determinada zona.
A acção longinqua tem tambem cabimento nos tiros de inquietação de dia e á noite, e, mais especialmente nos de contra-preparação. Emquanto as metralhadoras leves collaboram nos fogos de contra-preparação, geral, mediante tiros a curta distancia approximada, as metralhadoras pesadas dirigem os seus tiros de contra-preparação, directos ou indirectos, contra todos as passagens longinquas por onde o inimigo cruza, contra as zonas desenfiadas onde elle se reune, e donde obrigatoriamente desembocará.
Todas estas acções devem ser escrupulosamente estudadas no palno de defesa do terreno e em particular, os systemas de ligação que permittam o desencadeamento automatico de qualquer dellas.
DISPOSIÇÕES COMMUNS AO PELOTÃO DE METRALHADORAS LEVES E Á COMPANHIA DE METRALHADORAS PESADAS
PAPEL DO COMMANDANTE DO PELOTÃO OU DA COMPANHA
E’ o commandante do pelotão ou da companhia; quem distribue ás seções as varias missões confiadas á unidade; mas só se obterá ligação absolutamente intima entre as unidades de infantaria e ás de metralhadoras que se lhes podem juntar, si o commandante do batalhão, ou coronel, designar cada secção de metralhadoras precisamente pelo nome do respectivo commandante.
Com esse fim, o commandante, do pelotão ou da companhia, prestará as necessarias informações.
A ordem de ataque dada pelo commandante, do pelotão ou da companhia, é um extracto da do commandante do batalhão ou do coronel, com o complemento de todas as prescripções relativas ás particularidades da execução das missões designadas, das ligações, e do remuniciamento.
Em regra, o commandante da unidade de metralhadoras marcha ao lado do seu chefe immediato, afim de estar ao par das ordens que elle dér e das informações que lhe chegarem. Por intermedio dos agentes de que dispõe, procurara manter-se sempre em ligação com os commandantes das secções pondo-se ao corrente das necessidades que os affligem; sempre que for possivel tomará pessoalmente contacto com elles.
Cuida do remuniciamento de sua unidade, fornece-lhe pessoal e material; providencia a fim das secções disponiveis mandarem reconhecer as direcções em que poderão ter de empenhar-se e se manterem promptas para actuar si houver opportunidade. Na falta de ordens de cima, cabe-lhe a iniciativa, quando Valer a pena, de intervir no momento azado atacando os objectivos fugitivos.
Toda a energia que o anima, todo o espirito de decisão de que se sente, capaz, devem ter em mira, a cada innstante, assegurar ás unidades de ataque o apoio de fogos poderosos, sempre prestes a intervir, reduzidos ao minimo de tempo os deslocamentos entre duas posições successivas.
PRECAUÇÕES QUE SE TOMAM PARA ASSEGURAR A ACÇÃO DAS
METRALHADORAS
E’ tal a potencia de fogos da metralhadora, que, applicada em boas condições e com cabal rendimento, paralizará o inimigo, seja qual for, ainda que elle tenha desembocado a pouca distancia. Para conseguil-o, porém, é preciso que a metralhadora não tenha experimentado muitos damnos de fogo de artilharia inimiga; e esteja collocada de maneira que possa intervir instantaneamente no momento preciso.
As metralhadoras ficarão, pois, afastadas de todas as organizões visiveis, contra as quaes à artilharia se volta systemattcamente, e serão dissimuladas em coberturas ou mediante disfarces (escavações de projectis, matto, ruinas, etc.), cuidando-se, quanto possivel, de abrigal-as no solo ainda que seja com um simples espaldão. Aproveitam-se as pausas prolongadas para aperfeiçoar o abrigo que póde ser, então, dotado de um posto de tiro, de local para o pessoal e de um observatorio, ligados por passagens faceis; mas deve sempre permittir que se observe por qualquer tempo o que se possa immediatamente abrir o fogo.
Rio de Janeiro, 20 de abril de 1921. – João Pandiá Calogeras.
APPENDICE I
EXEMPLO DE ORDEM DE ATAQUE DO COMMANDANTE DO PELOTÃO DE
METRALHADORAS LEVES DE BATALHÃO (3)
I. Missão do regimento e do batalhão – Objectivos successivos.
II. Limites da zona de acção do batalhão e ponto de direcção afastado;
Angulo do eixo geral de ataque.
III. Idéa de manobra do commandante do batalhão.
IV. Dispositivo de ataque e papel de cada companhia; indicações para a tomada de posição.
V. Missões do pelotão de metralhadoras:
a) repartição das secções;
b) missão de cada secção e tomada de posição.
VI. Horario dos fogos de artilharia e emprego dos signaes de fogo de artificio.
VII. Ligações:
a) interior, no pelotão;
b) entre as secções e as companhias empenhadas;
c) com o commandante do batalhão.
VIII. Contra-ataques previstos –Organização do terreno conquistado.
IX. Remuniciamento e preenchimento de claros.
X. Postos de soccorro.
XI. Posto inicial do commandante do pelotão (e do batalhão) ; eixo de deslocamento e pontos onde successivamente se estabelecerá. _
XII. Indicações diversas (si houver).
Noto – A ordem de ataque da companhia de metralhadoras do batalhão de caçadores é redigida de maneira analoga,_ accrescentando-se. entretanto, ao paragrapho V as missões possiveis proprias ás metralhadoras pesadas.
EXEMPLO DE ORDEM DE ATAQUE DADA PELO COMMANDANTE DA
COMPANHIA DE METRALHADORAS PESADAS
I. Missão do regimento – Objectivos successivos.
II. Limites da zona de acção do regimento e ponto de direcção afastado.
III. Idéa de manobra do coronel.
IV. Dispositivo do ataque – Papel de cada batalhão – Indicações para a collocação das tropas nos respectivos logares – Ligação com as unidades vizinhas, si tiver cabimento.
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(3) Em regra as indicações essenciaes desta ordem são dadas por escripto aos commandantes das secções ou, pelo menos, os commandantes do pelotão as dictam para que os das secções as escrevam.
V. Missões da companhia de metralhadoras:
A) Antes do ataque:
a) agrupamento da companhia, si tiver cabimento, em um sitio approximadamente determinado;
b) missões eventuaes de tiro indirecto para a preparação do ataque; objectivos unicos ou successivos;
Consumo de munição – Velocidade de tiro;
Duração dos tiros – Hora do inicio – do fim.
B) Durante o ataque:
a) persistencia nas missões eventuaes de tiro indirecto ou, então, tiros de interdicção, de enjaulamento;
b) ou distribuição das secções pelos batalhões e designação das que ficam á disposição do coronel;
c) secções designadas para barrar um intervallo ou apoiar uma ala;
d) entrada das tropas em seus logares.
VI. Horario dos tiros de artilharia e signaes de fogo de artificio dando as informações necessarias á progressão da infantaria.
VII. Ligações.
a) entre es elementos da companhia:
b) entre as secções e os batalhões:
c) com coronel.
VIII. Contra-ataques previstos e organização do terreno conquistado.
A):
a) reagrupamento de toda, ou de parte da companhia, si for necessario;
b) missões de perseguição pelo fogo;
c) enjaulamentos, interdicção e inquietação.
B) Occupação do terreno.
a) missões eventuaes de barragem na frente;
b) missões de barragens interiores ou lateraes,
c) acções longinquas.
IX. Reabastecimento de munições e preenchimento de claros.
X. Postos de soccorro.
X. Logar inicial do commandante da companhia (e posto de commando do coronel) ; eixo de deslocamento e pontos onde successivamente se estabelecerá.
XII. Indicações diversas (si houver).
APPENDICE II
I – LIMITES DO EMPREGO DO TIRO INDIRECTO
1º E’ prohibido atirar a menos de 500 metros adeante de tropas amigas.
2º O tiro indirecto só se emprega até 3.000 metros.
3º As barragens fixas são as unicas autorizadas; não se fazem, portanto, barragens moveis. E’ prohibido fazer barragens além de 2.500 metros. Os deslocamentos das barragens fixas devem ser feitos por lances de 200 metros.
4º Um agrupamento de 12 peças, com o consumo normal de projectis, póde manter barragem nutrida em uma frente de 200 metros, e efficaz em uma de 400 metros, conforme as distancias.
5º Em vista da dispersão do tiro, do grande consumo de munições e do deterioração do material, o tiro indirecto só deve ser empregado contra objectivos importantes ou zonas de certa extensão. Tal como accontece no tiro directo, convirá, sempre empregar forças de escarpá ou de enfiada, que aproveitam melhor o feixe das trajectorias e a profundidade do terreno batido; sendo, ainda, menos perigosos e impressionantes para a tropa, por cima da qual se realizam.
II – POSIÇÕES DE TIRO
O commandante da companhia de metralhadoras pesadas tendo recebido do commandante do regimento uma missão de tiro indirecto, fixa a posição das suas peças. Tanto quanto possivel para uma cada missão, deverá prever uma segunda posição, que será utilizada no caso de ter sido a primeira descoberta pelo inimigo. As posições não são, escolhidas sem prévio reconhecimento de terreno, o são determinadas pelas condições tacticas, tendo-se em consideração:
1º As distancias de tiro favoraveis (1.500 e 3.000 metros).
2º A distancia minima que permitte o tiro por cima da mascara cobridora.
3º A necessidade de dissimulação ás vistas dos observatorios terrestres e aéreoa. Uma vez terminada a preparação tiro, o pessoal será abrigado, tanto quanto possivel, em excavações feitas, antes o durante o combate, e em ligeiras organizações protectoras.
APPENDICE III
ACÇÕES DIVERSAS DAS METRALHADORAS
(Mediante tiro directo ou indirecto)
1º – Fogos de inquietação e interdicção
Os tiros de inquietação teem por fim produzir a, fadiga moral nos tropas inimigas.
Actuam, talvez, menos pela importancia das perdas infligidas do que pelas precauções que o adversario se vê forçado a tomar contra a multiplicidade e frequencia dos tiros, e a incerteza do momento em que o fogo será desencadeado, duração e origem delle. A inquietação póde tambem, em cortos pontos, assumir o caracter de verdadeira interdicção. Essa especie de fogo executa-se mais especialmente á noite, nas horas habituaes dos movimentos do inimigo.
A escolha dos objectivos, assim como a determinação das horas do fogo, resultam das informações de toda especie obtidas e a respeito do adversario.
Os principaes objectivos são:
As vias de communicação e de reabastecimento, as sendas, encruzilhadas, immediações dos postos de commando, ramaes que possam ser enfiados, contra-vertentes, emfim, todos os pontos em que se quer prejudicar os trabalhos inimigos. O meio geralmente empregado nestes casos é o tiro indirecto.
2º – Fogo de barragem
As barragens contribuem para a protecção da infantaria em suas linhas de partida e de altos. São fixas e deve-se prever, tanto quanto possivel, a concordancia destes fogos de barragem com os do mesmo genero que a artilharia tem de executar.
1º São lançados principalmente adeante da frente, nas alas descobertas, ou em zonas propicias aos contra-ataques do inimigo (contra-vertentes, quebradas, corredores naturaes).
2º Podem ser executados, quer mediante tiro directo, pelas peças que flanqueiam a frente da posição ou barram intervallos, quer mediante tiro indirecto, pelas metralhadoras pesadas, mais ou menos escalonadas ou agrupados.
3º – Fogos de concentração
Os tiros de concentração são dirigidos contra objectivos particularmente importantes, taes como : ilhotas de resistencia, pontos de apoio, sahidas de povoados, tropas reunidas, zonas desenfiadas capazes de servir de local de reunião para contra-ataques, quebradas ou cortaduras do terreno, aproveitaveis como posições de metralhadoras, baterias de artilharia, etc.
Estes fogos se realizam, quer de conformidade com as previsões feitas, quer por ordem dos commandantes do pelotão, companhia ou mesmo secção, no caso de objectivos fugazes ou não previstos. São executados mediante tiro directo ou indirecto.
4º – Fogos de enjaulamento
Os tiros de enjaulamento teem por fim isolar uma, zona, afim de que não seja occupada ou organizada, ou, ainda, facilitar um reconhecimento. São dirigidos contra os caminhos de accesso á zona considerada e geralmente executados directamente, para utilizar-se no maximo a precisão das peças.
APPENDICE IV
ESPALDÕES PARA METRALHADORAS
Os serventes da companhia de metralhadoras pesadas, ou do pelotão de metralhadoras leves devem ser capazes de executar rapidamente, no correr do combate, espaldões para metralhadoras. Podem, além disso, ter de organizar em uma posição espaldões do mesmo typo, em pleno campo, assim como posições de tiro em certos pontos das parallelas ou dos ramaes. Esses espaldões ou as posições de tiro devem ser cuidadosamente disfarçados.
CLBR Vol. 03 Ano 1921 Pág. 683 Figura 1a 4 (Espaldões para atirar deitado, para atirar na posição e posição de tiro em uma trincheira e respectivo perfil).